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Carla Monteiro tem 60 anos, é Jornalista e historiadora por formação. No âmbito da História, mestra em História Social, especialista tanto em Docência do Ensino Superior em Comunicação, quanto em História do Brasil Local Regional e Nacional.
No ambiente jornalístico, é especialista em Gestão da Produção de Conteúdos Jornalísticos, com ênfase em plataformas digitais. MBC em Comunicação e Mídia Empresarial. MBA em Mídia Digital, atua no mercado comunicacional desde 1986.
Atualmente, dirige a Agência OlaH! Comunicação, além de responder pela Diretoria de Comunicação do Instituto Intersocial, presidir duas ONGS o Centro de Valorização da Mulher (CEVAM) e a Casa de Mãe Sozinha Anália Franco (Casa Anália Franco) e ser diretora financeira da AGI (Agência Goiana de Imprensa)
Carla Monteiro / Fonte: Acervo pessoal
Para saber o quão importante e necessário é projetos de apoio que visam a proteção e amparo de mulheres que sofrem violência doméstica, o Lab Notícias entrevistou Carla Monteiro para falar sobre o assunto e ressaltar a necessidade de procurar a ajuda e a inovação de novos recursos através de tecnologias para ampliar ainda mais a rede de apoio para proteção da mulher.
Lab Notícias: Carla, poderia dizer qual a importância e o impacto de projetos que visam a segurança da mulher diante da sociedade?
Carla Monteiro: A violência contra a mulher, intrínseca desde os primórdios da civilização, das formas mais sutis até as mais explicitas, é uma das principais violações aos direitos humanos, ainda tolerada por muitos. O Brasil, onde uma a cada três mulheres já sofreram deste fenômeno, segundo a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ocupa o quinto lugar no ranking mundial dos países que mais matam mulheres, ficando atrás apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia. Por 385 anos, entre 1603 e 1988, a mulher, no contexto jurídico-constitucional, foi uma questão de propriedade. Assim, como crianças, idosos, ferramentas de trabalho, terra e animais. Apenas nos últimos 35 anos, a mulher conquistou direitos civis, além do reconhecimento público em possuir cérebro. Logo, a segregação entre gêneros é culturalmente estrutural. Superar a questão machista, por um lado, não passa pela questão legalista, mas pela desestruturação da cultura da discriminação. A legislação que temos e é considerada a terceira melhor do planeta, mas ela é apenas mitigadora. Por outro lado, não é factível esperar que os ambientes de divisões sejam superados por decreto. É preciso construir contextos. É, então, necessário utilizar todos os recursos, além dos meios tradicionais de denúncia, para combater a violência contra a mulher em todos os âmbitos.
Lab notícias: Além de casas de apoio e delegacias, recursos tecnológicos são necessários para uma denúncia e ajuda mais eficiente?
Carla Monteiro: Surgimento de aplicativos para celular pode ajudar não apenas a coibir a violência, mas também a criar uma rede feminina de apoio e ajudar as mulheres em situação de risco. Diante disso, afirmo, sem temor de validá-los, que alguns recursos tecnológicos que já estão em prática e disponíveis no mercado, podem garantir proteção e apoio às mulheres em situação de violência.
Lab Notícias: O ciclo de violência é algo que pode ser evitado, quando se tem uma rede de apoio e amparo ao redor da mulher?
Carla Monteiro: O ciclo da violência envolve três fases mais comuns: aumento da tensão, quando a vitima tenta evitar o comportamento abusivo; a violência, com episódios cada vez mais agressivos de violência física, psicológica e/ou sexual; e a lua de mel, com pedidos de desculpas e arrependimentos do agressor, que promete sempre mudar. Da última fase, o ciclo volta para a primeira. E assim continua. A partir das repetições e do estabelecimento de um padrão, o perigo passa a ficar cada vez maior. Normalmente, os intervalos de tempo entre novas violências começam a diminuir e a intensidade das agressões a aumentar. A denúncia, por meio das Delegacias de Atendimento à Mulher, e depois a busca pelo cuidado emocional, para tratar os traumas desencadeados, é uma jornada imprescindível para que se comece a tomar controle sobre a própria vida.
Lab Notícias: Para finalizarmos, a dependência emocional e financeira é um problema que interfere e afeta as mulheres para procurar esses meios de ajuda, qual o primeiro passo para que essa barreira possa ser quebrada?
Carla Monteiro: É necessário se organizar como mão de obra qualificada, com o propósito de se sistematizar o seu patrimônio e, consequentemente, construir ambiente que lhe faculte viver sem comando externo. Quebrar as divisas da dominação psicológica e emocional são essenciais, mas para solidificar a caminhada da independência psicológica, é preciso trabalhar habilidades sociais, acreditar em que merece viver e ser feliz, além de assumir a possibilidade de ter as rédeas sobre a própria vida.