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“Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol?”, esse é um verso da música Uma partida de futebol, da banda Skank. Mas no Brasil essa é uma pergunta quase que retórica: afinal de contas, no país do futebol a maioria das crianças em algum momento já pensou em entrar em campo com a camisa do time de coração e defender a amarelinha em uma Copa do Mundo. Para Sidney – ou Sidgol, como é chamado pelos amigos – não foi diferente.
Sidney Mendes da Silva tem 33 anos e nasceu em Morrinhos, uma cidade com pouco mais de 51 mil habitantes do interior de Goiás, que fica a 130km da capital, Goiânia. Ainda na infância ele também sonhou em ser um jogador de futebol.
“Às vezes é até clichê, para atleta, para quem sempre sonhou com o mundo esportivo, ser jogador. De início eu não pensava que poderia chegar a tanto, como foi. Mas, sim, depois que eu acreditei que seria possível, sempre quis ser jogador, jogar, ser reconhecido.”
Assim como a maioria dos futebolistas, ele veio de família humilde, começou a jogar, e se destacar, nas quadras do Morro da Saudade – ou Morro 1, como também é conhecido –, uma área periférica da sua cidade natal.
“Comecei a me destacar jogando nas quadras de bairro mesmo, muitas vezes a gente jogava apostado: a vitória valia um refrigerante. Nessas situações percebi que me destacava um pouco dos outros. Então acho que, por mais que fosse diversão, eu poderia sonhar. Porque muitas vezes o futebol tem isso, a gente quer, mas às vezes a questão física ou o talento não ajudam.”
Sidney não trilhou o caminho natural que a maioria dos jogadores percorre. Ele não fez base e nem participou de escolinhas, o seu começo foi no futebol amador. Com 15 anos começou a jogar o campeonato amador de Morrinhos, pelo Treze de Maio – time do bairro em que nasceu – com o pai e o irmão.
“Joguei com meu pai e com o Carlos no Treze de Maio. Foi um time de origem, que era lá do morro na época, a gente disputou os campeonatos.”
O ex-jogador é bem conhecido na cidade. Conversamos numa sorveteria e durante o tempo que ficamos lá mais de dez pessoas passaram cumprimentando-o, seja indo até a mesa ou acenando enquanto passava pela rua. Aqui vale uma contextualização: o campeonato amador da cidade é chamado de campeonato Morrinhense. Atualmente gira muito dinheiro nesse torneio, tem um mercado da bola próprio, jogadores recebem propostas para assinar com as equipes e ainda recebem por cada partida disputada. Mas na época em que Sidney começou não era assim.
“Na época eu não tive oportunidades em times que pagariam, o máximo que eu ganhei foi uma chuteira de familiares. Eu lembro que a tia Elucilda foi uma das pessoas que agarrou esse sonho junto comigo, quando comecei a me destacar, e comprou uma chuteira para eu poder jogar.”
Nesse momento chega Nilton Rodrigues de Menezes, mais conhecido como Niltinho, e se senta conosco. Niltinho é um amigo de Sidney, atualmente ele é produtor de eventos e produz diversos campeonatos amadores de futsal na cidade. Depois de se destacar no futebol amador, Sidney teve uma oportunidade no Morrinhos, mas não foi aproveitado. Também fez testes no Goiás, mas devido a pouca condição financeira da época, não conseguiu continuar no time esmeraldino. Continuou disputando campeonatos amadores, não só em Morrinhos, mas na região também.
Em 2009, Sidney recebeu mais uma oportunidade no Morrinhos, a princípio não queria ir, mas a família insistiu que deveria tentar mais uma vez.
“Tive essa oportunidade em 2009, quase não aceitei, mas eu sempre sonhei com isso e a família disse que eu deveria tentar mais uma vez.”
Essa foi uma das melhores escolhas que ele poderia ter feito. 2009 é o ano mágico para o time do Morrinhos, o título da Divisão de Acesso do Campeonato Goiano.
“As coisas começaram a acontecer! E deu certo. A gente teve essa oportunidade, mas foi um desafio. Na época eu e o Pardal tivemos essa oportunidade de nos destacarmos. Foi onde começou toda a história, em 2009. Fizemos um campeonato bom e fomos campeões.”
A amizade que veio da infância
Aqui algumas histórias começam a se entrelaçar. A primeira é a do Pardal, Maximiliano Ezequiel do Santos, também conhecido como Max Pardalzinho. Ele é amigo de infância de Sidney, estudaram juntos, disputaram campeonatos estudantis e conseguiram o sonho de jogar juntos profissionalmente. Max Pardalzinho teve uma carreira mais longeva que a de Sidney, o jogador atuou no Morrinhos, Vila Nova – marcando, inclusive, o gol que evitou o rebaixamento do Tigrão em 2010 – e Palmeiras, além de outros times do interior. Sidney fica feliz ao falar da carreira do amigo:
“Essa é uma sensação muito gratificante, você fica, além de muito feliz, bem orgulhoso. Hoje a gente ainda é amigo e a gente conversa muito sobre isso, sobre esse sentimento. Ele teve esse sentimento quando eu fui para o Goiás, eu tive quando ele foi para o Vila e para o Palmeiras.”
O inédito título da Divisão de Acesso
A outra história é a do título da Divisão de Acesso do Campeonato Goiano. Numa segunda-feira ensolarada, sete de setembro de 2009, 2809 pessoas foram ao Centro Esportivo João Vilela para acompanhar o último jogo da temporada, caso o Morrinhos vencesse, seria campeão.
Naquele elenco do Morrinhos tinham 10 morrinhenses, que tinham a oportunidade de fazer história representando sua cidade natal. Entre esses 10 estava Sidney, seu irmão, Carlos, e Max Pardalzinho. O jogo começou, e às 15h30, o árbitro Elmo Rezende apitou pela primeira vez. No primeiro tempo, Givanildo abriu o placar para o time da casa, Rodrigo empatou para o Itauçu e Da Silva ampliou para o Morrinhos. Com esse resultado o Tricolor dos Pomares seria campeão, independente do resultado da partida que acontecia concomitantemente entre Canedense e Novo Horizonte. No segundo tempo, Chocolate fez o terceiro gol do Morrinhos. Quando Elmo Rezende apitou pela última vez, o estádio explodiu de alegria. Além da vaga na primeira divisão, aqueles jogadores também conquistaram o título.
“Foi um momento que ficou para eternidade, um momento da história, principalmente da minha como jogador. Foi o ápice de tudo, pelo fato de ter conseguido um título tão importante. Nesse ano a gente tinha um grupo bastante unido. Foi um momento fantástico, histórico. Não só para mim, mas para o clube.”
O começo do fim
Depois desse título, o jogador teve oportunidade de treinar durante um tempo no Goiás, mas a concorrência da posição era forte: Fernandão e Iarley jogavam no time esmeraldino. Sidney voltou ao Morrinhos e jogou também em outros times, como Nerópolis, Jataiense, Anápolis e Mineiros. Quando atuava pelo Mineiros ele sofreu uma lesão séria no joelho que o faria, mais tarde, se aposentar precocemente dos gramados.
“Porque acabou que eu me lesionei pela primeira vez e descobri um problema que talvez eu já tivesse. Ficou um pouco difícil de entender. O atleta profissional precisa, no mínimo, estar fisicamente 100%. Então quando eu machuquei no Mineiros foram meses para descobrir que era ligamento. Tentamos recuperar ainda para disputar o Campeonato Goiano, mas nos treinos era impossível.”
Sidney teve que passar por cirurgia e ficou quase um ano afastado dos gramados. Depois retornou ao Morrinhos, mas se lesionou novamente e teve que passar por outra cirurgia e ficou mais um ano sem jogar. Os contratos que ele tinha eram curtos, somente para jogar os campeonatos. Isso é algo comum entre os times de verão, que é como são conhecidos as equipes que só disputam as competições estaduais e não têm calendário no restante da temporada. Então o atleta não teve o apoio dos times para o tratamento.
Aos 25 anos, em 2014, Sidney decidiu abandonar a carreira de jogador profissional, com as lesões e a falta de apoio dos times não teria mais condições de jogar em alto nível. Niltinho, que mais cedo havia se juntado a nós na mesa, faz um comentário sobre a carreira do amigo:
“Você teve uma ascensão meteórica. Por exemplo, o Neymar, ele teve uma preparação de base desde novinho, que você não teve. Mas se você tivesse uma preparação de base, um respaldo desde o início, você teria evitado esses problemas mais sérios. Nós viemos de famílias humildes, que não tinham condição de nos dar esse suporte, mas se você tivesse essa condição provavelmente poderia até ter alcançado times estrangeiros.”
O reencontro com o templo do futebol goiano
Depois da aposentadoria, Sidney foi trabalhar como vigilante. E o destino, que não cansa de nos surpreender, aprontou mais uma. O ex-jogador foi trabalhar no Serra Dourada, templo do futebol goiano. Anos antes ele estava dentro do campo, disputando campeonatos, marcando gols. Agora, ele estava do outro lado, do lado de fora dos gramados. Quando perguntado sobre essa experiência de viver os dois lados, primeiro dentro e depois fora de campo, ele sorri ao responder:
“Eu sou grato por tudo que vivi. Porém é um sentimento de querer voltar no tempo, para viver aquilo de novo. Porque relembrar o que vivi no futebol é muito bom. É um sentimento maravilhoso, talvez inexplicável, porque uma hora você entra lá para jogar com as pessoas olhando, realizando aquilo que as pessoas mais gostam, que seria marcar um gol. É uma sensação diferente, mas ao mesmo tempo é uma sensação de orgulho. Eu falo muito sobre isso porque as pessoas às vezes se julgam ou se criticam muito por não terem continuado e às vezes não valorizam o que viveram. Eu joguei, sei como é lá dentro e estou fora hoje… E sei como é de fora também. Então, quando você vai conversar sobre isso, essa experiência de vida é fantástica.”
Sidney, além de vigilante, é fotógrafo e, atualmente, mora em Morrinhos. O futebol não deixou de fazer parte da vida dele, ele ainda disputa o Campeonato Morrinhense. Niltinho diz que ele “vai acabar voltando pro futebol” para ser comentarista ou trabalhar nessa área de comunicação.
Sidney fica feliz ao falar da carreira, diz que o mais importante não é o campo, mas o que acontece fora das quatro linhas:
“O futebol nunca é só futebol. Ele é mais do que dentro de campo, o extracampo é mais forte do que as pessoas conhecem. O futebol é sobre amizade, aprendizado, conhecimento, confiança. Este esporte traz isso: hoje eu tenho muitos amigos que ainda jogam… E a gente sempre mantém contato. A gente se ajuda.”
Weigler muito obrigado pelo carinho e poder eternizar atrás de um relato fantástico um pouco da minha história, gratidão imensa pela oportunidade de reconhecimento.. Sucesso tmjs .