Saudade da mãe

Para Aline o luto é uma saudade imensa que não diminui, só aumenta
nov 1, 2023 ,
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Aline e Dona Luzia - acervo pessoal
Luto: Essa é foto preferida de Aline.
Dona Luzia e Aline
FOTO: Acervo pessoal

Na véspera do Dia dos Finados a empreendedora Aline de Sousa Neves aceitou falar conosco sobre seu luto. Segundo ela, desabafar com alguém de fora talvez ajude no processo.  Dona Maria Luzia de Sousa Neves, mãe da Aline, partiu há sete meses, aos 65 anos, vítima de um câncer no colo do útero. 

LabNotícias: Como aconteceu?

Aline Neves: Minha mãe já vinha de dois diagnósticos de câncer no colo do útero. Na primeira fase, há 14 anos atrás ela conseguiu passar por todas as etapas: quimioterapia, radioterapia, braquiterapia e deu certo, conseguiu estacionar a doença.

E agora no meio do ano passado a gente teve um novo  diagnóstico, esse mais triste, mais pesado, que o período de vida dela seria somente mais sete meses e que a gente tinha que se preparar para o pior.

Tempo

LabNotícias: Aline, você acha que esse tempo que você passou com a sua mãe agora, por último, depois do diagnóstico, você sente que teve tempo para se preparar para essa despedida ?

Aline Neves: Se eu falar pra você que sim eu vou tá mentindo. Mas de certo modo a gente quando passa por isso… Porque aqui na minha casa, por exemplo, era eu, meu pai, minha mãe, minha irmã e minha sobrinha que a gente mora junto, entendeu?

Por isso caiu como fosse uma bomba. Além de tudo porque a gente não podia falar para ela desse diagnóstico, entendeu?

A gente optou por não falar porque dentro do do coração da gente, da cabeça, a gente pensava assim: se a gente não falar pra ela ela vai ter mais qualidade nesses últimos meses, né?! 

Mas eu posso te afirmar que não, a ficha não cai nunca. A gente trabalha mais no modo automático porque resumidamente falando: não, não tive tempo.

Não tivemos tempo suficiente parece que fica aquele vazio que não tem como preencher de forma alguma e a gente fica o tempo se cobrando, né?

Dentro da memória da gente que aí vai torturando a gente aos poucos. Que a gente pensa que podia ter feito mais, podia ter ficado mais perto, podia ter abraçado ter abraço mais forte, podia ter sentido o cheiro. Entendeu?

Luto

LabNotícias: Como você definiria o luto?

Aline Neves: (…) O luto resume somente em uma palavra. É saudade. Mas não é saudade do passado, é saudade do presente, Patrícia.

É querer dividir uma vitória, dividir uma tristeza. É poder contar, conversar com aquela pessoa e sentar pra ver televisão, assistir novela porque eu assistia muita novela com minha mãe, entendeu? Pra mim o luto é uma saudade imensa que não diminui, só aumenta.

Aquela saudade de tá perto da pessoa e de poder dividir os momentos com essa pessoa.

Vivendo um dia após o outro

LabNotícias: Aline, depois da partida da sua mãe você já conseguiu descobrir alguma atividade, algum hobby, algo que te ajude a passar por esse momento? 

Aline Neves: Após a partida da minha mãe nasceu uma vontade de cuidar de planta. Minha mãe gostava muito de planta. Ela deixou muitas. Então, pra mim, eu cuidando dessas plantinhas, até mudinha eu faço, aprendi um monte de coisa.

Eu sigo canal, eu vejo vídeo. Porque pra mim eu fazendo aquela atividade ali eu sinto a presença dela em cada pedacinho, em cada plantinha que eu cuido.

Meu pai também me ajuda cuidar. Por aí vai. A gente vai vivendo um dia após o outro.

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