Psicóloga fala sobre os desafios enfrentados para a atuação no mercado de trabalho: `Foi pelo prazer de poder ajudar as pessoas`

Nathália Sousa Lopes trabalha como psicóloga desde que se formou e fala um pouco sobre os desafios que a mesma enfrentou para entrar no mercado de trabalho e sua trajetória
Tempo de leitura: 6 min

Uma questão extremamente importante para os estudantes de Psicologia (e também para aqueles que se encontram num ensino superior e se formam) é a entrada no mercado de trabalho e o início de uma carreira profissional. É importante explorar todas as perspectivas possíveis, como por exemplo a burocracia para ter a autorização para atender, as dificuldades materiais que representam abrir um próprio consultório, as expectativas que possuía quando apenas estudantes.

Algumas pesquisas divulgam que inserção profissional de psicólogos recém-graduados revelam que esse novos profissionais enfrentam dificuldades para conseguir o primeiro emprego, sofrem com a instabilidade dos vínculos profissionais e com a irregularidade da compensação financeira. Mesmo sendo uma área com muitas oportunidades, o mercado de trabalho continua sendo extremamente competitivo. Para falar mais um pouco sobre essa competição no mercado de trabalho, trouxemos Nathalia Souza, uma psicóloga recém formada que atua na área e conta como foi essa experiência e inserção.

Psicóloga Nathalia Souza (foto\reprodução: Nathália Souza)

LN: Primeiramente, você poderia falar um pouco sobre você? sua trajetória de vida estudantil e o porquê de ter escolhido psicologia.

Nathalia Souza: Me chamo Nathalia, tenho 26 anos e entrei na faculdade em Agosto de 2018. Antes de começar a faculdade, fiquei um ano depois do ensino médio tentando até entrar na faculdade com fies com a nota do Enem. Então nesse processo que eu o ano estudando mas mesmo assim com muita dúvida com o que fazer. Minha família é a clássica “tem que fazer medicina” mas nunca fui dessa área, eu tenho uma tia que é psicóloga então conversei muito com ela, mas sempre me falavam que não dava dinheiro ser psicóloga, ninguém valoriza dentre outras críticas pra ver se eu desistia. Mas sempre curti a ideia, era um trabalho que eu já me imaginava atuando, achava na época que era calmo e tranquilo e nisso meus amigos me falavam que eu tinha cara de psicóloga hahaha, tentei, joguei a nota e tentei novamente até conseguir. Foi por identificação, pelo prazer de poder ajudar pessoas, por sempre valorizar o trabalho que a psicóloga tem e vivenciar dentro do meu ambiente familiar a falta que um fazia.

LN: Qual a sua área que você é especializada (ou quer se especializar)?

Nathalia Souza: Atualmente atuo como psicóloga clínica. E o mais interessante sobre a área escolhida ou a que pretendo escolher foi mudando a cada período durante a faculdade. No início me identifiquei com a abordagem da gestalt terapia, pensei muito em especializar nisso. Logo depois, vi o quanto a psicologia organizacional era importante e principalmente visando minha carreira e pensando no financeiro, uma área onde todo lugar você encontra vaga e procura. Mas quando cheguei nos meus 3 últimos períodos, com estágios, contato direto com nossos pacientes, percebi onde me cabia mais ou melhor, o que me deixava mais confortável e via grande resultado, que seria a TCC, terapia cognitivo comportamental. E foi desses estágios que me apaixonei pela clínica e penso em me especializar na TCC.

LN: Quais suas principais perspectivas após se formar?

Nathalia Souza: Me encontrar ainda mais nessa profissão que a cada dia cresce mais. Poder acrescentar na vida de cada um nessa caminhada profissional.

LN: Como foi focar 100% em clinicar tendo seus pacientes, nada de estágios?

Nathalia Souza: Foi uma explosão de sentimentos, me formei em Agosto de 2023, comecei a atuar no final de Outubro de 2023. Então foi até rápido, e ainda estava me acostumando com o fato de estar formada, ter acabado com o peso da faculdade, de ter prazos, supervisores, atividades. Foi quase uma crise existencial (risos). Então quando comecei a atender sem supervisão, entender que eu era a responsável por tudo, e eu tinha que por em prática tudo que aprendi e ainda aprendo. Bate um medo, um desespero de errar, de não ter supervisão após cada atendimento assim como era na faculdade. Mas logo fui acostumando, me adaptando, criando mais confiança.

LN: Qual o principal desafio enfrentado depois de se formar?

Nathalia Souza: Para ser bem sincera foi a parte burocrática disso tudo, do atuar. É entender que agora é você que procura o contador, que tem que fazer inúmeras inscrições, pagar isso e aquilo, resolver onde trabalhar, vou alugar uma sala? Vou construir meu consultório? Como que começa isso tudo? O que as vezes ficaria mais leve se nas grades curriculares durante o curso isso fosse passado, mostrado ali na prática com quem já passou por isso tudo. Então quando formei, assim como outros colegas, foi um peso que saiu, que era a faculdade, mas entrava outro do: e agora? Onde começo ser um adulto com uma profissão.

LN: O que mais dificulta seu trabalho em questões estruturais?

Nathalia Souza: A parte burocrática. Questões de impostos, abertura de empresas, achar um local que é adequado, como conseguir clientes, questão financeira que engloba isso tudo também. Uma questão de saber me estruturar e achar meu local de atuação. Até o atendimento online por mais prático que seja, você tem que ter um aparelho bom, se preocupar onde guardar os prontuários e registros, quais materiais comprar… enfim, depois de muito sufoco hoje eu alugo uma sala e atendo por plano de saúde, o que me facilitou a captação de pacientes já que eles procuram mais por ser mais barato.

LN: Para poder clinicar quando se termina o curso, existe muita burocracia?

Nathalia Souza: Respondi anteriormente um pouco, mas existe muita burocracia, abertura de empresa, cnpj, o que a profissão permite, achar um contador pra te ajudar, inscrição municipal, CRP, estar sempre em dia com nosso conselho de psicologia, o cuidado com todo documento produzido, o sigilo, temos até armários corretos pra ter em clínica. Então assim, como em toda profissão, existe a burocracia e seu código de ética a seguir.

LN: E agora, para finalizarmos, por gentileza você poderia contar como foi sua primeira experiência depois de formado? Estava compatível com sua expectativa nos tempos de estudante?

Nathalia Souza: Jamais, nada compatível. Nossas ideias mudam muito ao decorrer do curso. Então do 1° ao 10° imaginei várias opções e no final fiquei frustada com quanta burocracia, querendo ou não a gente não tem paciência, quer acabar com tudo logo e já começar a trabalhar. Mas o final da faculdade com a transição pra profissão é uma explosão de sentimentos e emoções, responsabilidades, acabou que em meio a dúvidas eu consegui me encontrar e me sentir segura no meio de atuação e nos contatos dentro da profissão.

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