Bibliofuscoteca: o fusca que leva a leitura

Bibliofuscoteca, nome dado ao projeto idealizado por Thaise Monteiro, onde um fusca azul de 1970 vira uma biblioteca itinerante passando pelas ruas goianas.
dez 18, 2023 ,
Tempo de leitura: 5 min
Reprodução: Bibliofuscoteca

Sua ultima aparição foi na primeira edição do FLIB – Festival Literário Itinerante na Bibliofuscoteca, que ocorreu em novembro desse ano no Mercado Municipal da Cidade de Goiás, com acesso totalmente gratuito.

Um projeto iniciado pela Cia de Arte Poesia que Gira, tem alguns objetivo como incentivar a leitura, oferecer a troca, venda ou doações de livros e oferecer as comunidades economicamente menos favorecidas e culturalmente mais periféricas, levando até o público que não tem meios de adquiri-lo.

Assim, o LabNotícias entrou em contato com a doutora em estudos literários e poeta, Thaise Monteiro, que também é idealizadora do projeto, para explicar como funciona a movimentação do público com relação ao Festival Literário Itinerante da Bibliofuscoteca.

O FLIB, Festival Literário Itinerante da Bíbliofuscoteca, surgiu este ano. Nós recebemos o incentivo, o apoio do Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás. O Fusca é um projeto de 2019. Então, ele já tem aí alguns anos de estrada. E esse ano surgiu a oportunidade de nos inscrevermos. Tivemos essa ideia de fazer… Há muitas festas literárias pelo país inteiro. Festas literárias muito famosas, muito conhecidas. Exemplo da FLIP, que acho que seja uma das principais, em Paraty. Então, tem muitas festas literárias no Brasil inteiro. Em Goiás, tem algumas festas e festivais literários. E tivemos essa ideia de fazer um festival literário itinerante. Que ele fosse até as cidades. A proposta é que, a cada ano, ele seja realizado em uma cidade diferente. Então, não são as pessoas que vão até o festival, o festival é quem vai até as pessoas no Fusquinha.

“É um fusquinho 1970, que está todo reformadinho, e por a gente andar ou estacionar com o capô aberto, porque a maior estante fica no porta-malas, que é a parte dianteira do fusco, que fica aberto com os livros. Então, sim, há um grande movimento. O pessoal quer ver, quer tirar foto. O pessoal fica meio desconfiado. Ah, é para vender. Como é que é isso, esses livros aí? […] E lá em Piracanjuba foi muito especial, porque a gente soube que na cidade não tinha nem livraria, nem biblioteca. E deu muita gente, porque estava havendo um evento cultural, então já tinha muita gente reunida. E deu muita gente às pessoas querendo. Doamos todos os livros nesse dia lá em Piracanjuba.”

Em uma pesquisa de 2022 chamada O Brasil que lê, realizada pelo Instituto Interdisciplinar de Leitura, pela Cátedra Unesco de Leitura e pelo Itaú Cultural, dados indicam que o país conta com 382 projetos de incentivo à leitura por 24 unidades federativas.

Mas apesar da autorização do Plano Nacional do Livro e da Leitura, em 2019, foi divulgado que não há subsídios federais destinados à manutenção das iniciativas e, com isso, muitas foram encerradas. Dessa forma, mesmo que o evento seja algo de interesse do público, ainda houve dificuldades de mantê-lo inicialmente, já que não havia muito apoio de órgãos públicos.

A gente começa sem nenhum tipo de ajuda, sem nenhum tipo de financiamento, porque foi no ano anterior à pandemia, a gente começa o projeto com o governo que fala de incentivo de compra de armas, enquanto a gente acredita no livro, e no livro de forma metafórica, na leitura, na cultura, como algo que é muito mais importante para a formação da população do que as armas. Então, os primeiros anos da Biblia Fuscoteca foram sem incentivo público. Nós montamos por conta própria, fizemos uma adaptação com madeira, ali no porta-malas, que fica na parte da frente, para poder colocar os livros. 

Entretanto, isso não foi motivo para que o projeto caísse, e através de divulgações nas redes sócias e o apoio espontâneo do Teatro Sesi onde a entrada era um livro, segundo a poeta, a Bibliofuscoteca passou a ganhar mais reconhecimento.

“Nós conseguimos com a prefeitura de Goiânia, pedindo também, fazendo ofício, porque com as leis de incentivo, lei municipal, quando há incentivo de produção de livro, os autores que são premiados precisam doar uma porcentagem para a Secretaria de Cultura. Fizemos um pedido para a prefeitura e recebemos vários livros, livros novos. Pedimos a editoras independentes locais, a Neglilu, a Martelo, a Casa Editorial. Pedimos para várias editoras, vários grupos que doaram mesmo livros para nós, além da doação individual. E foi ano passado nós tivemos a primeira lei de incentivo, nós tivemos uma lei emergencial de incentivo, que foi a lei Aldir Blanc. E com essa lei de incentivo nós tivemos a oportunidade de reformar o Fusca, de fazer a adaptação devida nele, com material bacana”, diz Monteiro sobre como foi o processo de engajamento e reconhecimento.

E depois das dificuldades ultrapassadas inicialmente e hoje mostrando que há pessoas motivadas a apoiarem o Bibliofuscoteca, segundo Thaise, há interesse de levar o FLIB além do Estado de Goiás.

“Como a gente queria fazer Goiás, sair de Goiás, fazer Brasil, fazer América Latina, né? Circulando com esse Fusca e há muitos lugares lindos pra gente conhecer e viajar com esse Fusca, mas o nosso desejo é ir nos lugares mais distantes, é ir aos lugares que mais precisam, é ir aos lugares mais simples, mais remotos, que menos têm acesso, sabe? São esses lugares que a gente quer mostrar, que a gente quer ir. A gente quer ir pra uma FLIP, a gente quer ir pra Rio de Janeiro, São Paulo, mas claro que a gente quer estar nos grandes centros, ser visto, e quanto mais a gente é visto, mais a gente divulga o nosso trabalho. Mas o sentido do nosso projeto, do nosso trabalho, é ir e levar o livro para quem precisa e não tem condição de acessá-lo. Então eu quero ir, continuar indo nas periferias, em pequenas cidades dos interiores, em assentamentos, nos quilombolas, são esses lugares que a gente quer ir.”

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