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A crise climática que o planeta terra enfrenta recentemente deixou de ser considerada apenas um processo de “aquecimento global” e iniciou o processo de “ebulição global”. O conceito de ebulição global destaca a intensificação das mudanças climáticas na Terra, refletindo o acelerado aquecimento global. O secretário-geral da ONU, António Guterres, adotou essa expressão ao comentar sobre julho de 2023, que marcou o recorde como o mês mais quente já registrado até a presente data.
No dia 22 de setembro deste ano, a Agência Americana Oceânica e Atmosférica (NOAA) registrou que o mês de agosto de 2023 foi o mês mais quente da história do planeta, batendo 1,25°C acima da média global em relação ao século passado. Eventos climáticos extremos como o El Ninõ, derretimentos da calotas polares, secas de rios apenas evidenciam essas mudanças.
O Brasil está entre o países mais afetados por esse aumento de temperaturas, além do nosso país, a América Latina, como um todo, América do Norte, Ásia e África estão sendo os continentes que mais estão sofrendo com essas mudanças.
Esse processo de ebulição é abala todas as formas de vida do planeta, os efeitos na vida humana são vivenciados diariamente pela população, entretanto não apenas a humanidade sofre com essas transformações, os animais tanto de estimação quanto silvestres também enfrentam essa mudanças.
Diariamente, observa-se um aumento na ocorrência de fatalidades entre animais devido às mudanças climáticas. No Mato Grosso do Sul, em julho deste ano, mais de 1500 animais sucumbiram ao frio, conforme registros da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal. E em paralelo devido ao calor, a estiagem na Amazônia, em setembro, resultou na morte de mais de 120 botos, segundo informações do Instituto Mamirauá.
E não são apenas os animais silvestres; os domésticos também enfrentam essas condições. Para abordar essa questão da melhor forma possível, o LabNotícias entrevistou o médico veterinário Gabriel Oliveira, buscando sua opinião profissional sobre como as mudanças climáticas impactam a vida animal.
Confira a entrevista:
LN: Como as ondas de calor afetam a saúde geral dos animais?
Gabriel Oliveira: Assim como nós, os animais sentem desconforto térmico podendo ficar mais prostrados, relutar a fazer atividades físicas em horários muito quentes, aumenta o consumo de água e aumenta o risco também de queimaduras pelo asfalto quente.
LN: Existem raças que são mais afetadas por essas ondas de calor? Por quê?
Gabriel Oliveira: Aqui no Brasil as raças que tem pelo mais longo ou raças provenientes de países frios são as mais afetadas (um exemplo comum seria o Husky Siberiano), e também os animais braquicefalicos (animais de focinho curto) também podem ser afetados, visto que o clima muito quente e a estrutura do seu sistema respiratório podem causar quadros de dificuldade respiratória, tendo em mente que a respiração é uma das principais formas do animal regular sua temperatura.
LN: Há diferenças em como a saúde dos animais domésticos e silvestres são afetas?
Gabriel Oliveira: Há sim a diferença, pensando principalmente que os animais domésticos dispõem de uma estrutura melhor para fugir do calor, como casas, oferta abundante de água, em alguns casos piscinas e ar condicionado. Os animais silvestres dependem principalmente de recursos naturais (rios, lagos, vegetação) para conseguir fugir do calor.
LN: Animais aquáticos também são afetados? Como?
Gabriel Oliveira: Sobre animais aquáticos eu não tenho muita propriedade e estudo para dizer, mas existem algumas plantas que podem vir a soltar toxinas na água quando expostas à uma incidência maior de luz solar. E também a água quente retém menos oxigênio dissolvido que a água fria, portanto o calor pode influenciar até na troca gasosa de determinadas espécies de peixes (pensando nas necessidades fisiológicas de cada espécie).
LN: Os animais apresentam algum sinal de estresse climático?
Gabriel Oliveira: Os principais sinais de estresse térmico nos animais domésticos seria a respiração ofegante e aumento do consumo de água, alguns até buscam fontes hídricas pra tomar banho. Outros podem apresentar um comportamento mais inquieto e vocalização.
LN: Como zoológicos lidam com diferentes espécies exóticas nesse tipo de situação?
Gabriel Oliveira: Os zoológicos devem acomodar espécies exóticas pensando sempre no país de origem das mesmas, criar ambientes com temperaturas similares aos locais onde elas normalmente iriam residir, fornecer água em abundância e se possível climatizar o ambiente para que essas espécies não sofram estresse térmico.
LN: Quais medidas os cuidadores de animais podem tomar para proporcionar melhores condições para animais nessa situação?
Gabriel Oliveira: Minha recomendação é passear com os animais preferencialmente antes das 09 horas da manhã, e após as 18 horas da tarde, são horários que o sol não está tão quente e principalmente o asfalto, pois há o risco dos animais queimarem os coxins (almofadas das patas). Fornecer sempre água fresca e em abundância, se possível em vários potes espalhados pela casa para que o animal não tenha que se deslocar muito. Podem ser ofertados ração, sachês e até mesmo frutas (picadas), misturados em água e congelados como petiscos para ajudar a refrescar os pets, os meus costumam aceitar muito bem.
LN: E em relação aos animais de rua?
Gabriel Oliveira: Em relação aos animais de rua, fornecer água limpa e fresca e talvez (quem sabe) até a construção de abrigos públicos pra esses animais, que forneçam sombra seria uma boa opção. Ou então, pode ser realizada uma campanha de adoção desses animais para que eles possam encontrar um lar e melhores condições de vida.