Ninguém tá puro não? – Reflexões sobre o abuso de anabolizantes entre os jovens

Cada vez mais cedo, jovens começam a usar drogas anabolizantes para se sentirem bem com o próprio corpo. Veja os perigos desse comportamento
jan 17, 2024 ,
Tempo de leitura: 5 min

Antes tabu, falar sobre a utilização de esteróides anabolizantes parece estar cada vez mais no cotidiano de quem acompanha o “mundo fit”. Influencers famosos falam abertamente sobre o uso de substâncias para fins estéticos e toda uma geração conhece pelo nome fármacos e seus efeitos.

O uso de Anabolizantes pro jovens tem preocupado a comunidade médica – Foto: Freestocks

“Não sabia bem os efeitos, me prometeram que eu teria melhores resultados e em pouco tempo, então resolvi arriscar” Este é o relato de P (30) que preferiu não se identificar. Ele conta ainda como foi o primeiro contato com os anabolizantes: “Um cara que treinava na mesma academia que eu que me ofereceu, falou que todo mundo usava e era o único jeito de ficar com um shape de novela”

Oito anos depois da primeira aplicação, P revela que ainda faz uso, mas que não recomenda a ninguém “Quando você usa, se sente um Deus. Pega mais peso na academia, o corpo responde, mas o aluguel é alto, perdi muito cabelo, minha respiração não é mais a mesma, além de algumas alterações preocupantes em exames que fiz recentemente, pretendo parar em breve”.

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia expõe números alarmantes sobre o uso e o acesso a esse tipo de droga. Segundo estudo levantado pela própria instituição. Desde 1996, o uso juvenil aumentou 39% entre os estudantes do nível fundamental; 67% entre estudantes do ensino médio; e 84% entre os estudantes do último ano do ensino médio. Uma recente inspeção mostrou que 1 em cada 16 estudantes já usou anabolizantes esteróides. O uso está aumentando tanto entre as moças como entre os rapazes.

Especialista em Nutrologia Esportiva, o médico Artur Seabra esclarece motivos pelos quais os jovens recorrem à essas substâncias: “a promessa de um corpo perfeito, a indústria da beleza, a indústria do corpo definido, também a promessa de que a medicação vai gerar uma revolução na vida do jovem, que ele vai estar mais apto ao mercado de trabalho, mais apto ao mercado social, sexual, vai ser mais aceito entre as rodinhas de amigos, mais aceito em todas as situações e se aceitar mais. Geralmente é um problema psicológico que faz ele buscar isso de forma irresponsável”

A pressão estética é apontada como o principal fator para a entrada dos jovem no mundo das seringas- Foto: Imago

O médico ainda complementa: “como o abuso pode impactar o desenvolvimento físico hormonal, infelizmente os adolescentes estão usando cada vez mais cedo os esteróides anabolizantes, fazendo um bloqueio do eixo hormonal, que não garante que quando esses pacientes interromperem o uso, no caso dos homens, que o testículo deles vai conseguir produzir novamente, porque eles interrompem um sistema hormonal que não está maduro ainda, e as medicações não garantem que sempre a gente vai conseguir restabelecer o eixo normal”

Ainda sobre os riscos, Artur complementa: “Em relação aos riscos físicos e psicológicos, a ciência entende hoje que não existe dependência química de anabolizantes, não existem receptores que fazem um ciclo dopaminêutico que faz o paciente viciar, porém a dependência psicológica é gigantesca, porque como o paciente vê resultado de forma mais rápida, ele faz uma associação no cérebro dele de que ele só conseguirá resultados apenas exclusivamente usando tais substâncias. Os riscos físicos mais comuns são perda de cabelo, aumento de estresse, depressão, retenção de líquido, acne, estes são os riscos físicos mais comuns, mas os mais graves são esteatose hepática, lesão hepática, aumento do coração fazendo insuficiência cardíaca, aumento da pressão arterial, aumento do risco cardiovascular de eventos como AVC, infarto.”

Este problema, segundo o especialista, ainda está longe do fim, uma vez que nem mesmos os conselhos médicos entram em consenso de como combatê-lo “a sociedade médica tem que se juntar às outras sociedades, a sociedade de psicologia, a comunidade também da nutrição, tem que ser um trabalho totalmente multi-profissional para fazer o paciente entender, juntar a médica de psiquiatria também, fazer o paciente entender que ele tem um vício, que isso faz um dano social, um dano global á vida dele e que ele deve fazer a interrupção do uso e buscar tratamento”.

Encerrando, o médico expõe em que alteraria na legislação: “acredito eu que o que melhoraria a legislação seria liberação de acompanhamento médico com redução de danos, mecânica de redução de danos com os pacientes que já usam para facilitar a prescrição para aqueles que já fazem uso até fazer o completo desmame com o auxílio médico”

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