A crescente incidência de DSTs entre mulheres na atualidade

Em entrevista, a Médica Ginecologista Tatielle Teixeira, sana as principais dúvidas sobre as Doenças Sexualmente Transmissíveis em mulheres, que obteve grande crescimento dos casos
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De acordo com a pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde, cerca de 1 milhão de pessoas contraíram Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), aproximadamente 0,6% da população maior de 18 anos de idade ou mais.

O público feminino de Goiás entra nessa porcentagem. De acordo com a Secretária do Estado da Saúde de Goiás (SES – GO) em 2013, dentre o sexo feminino, havia um total de 172 casos de HIV no Estado, de AIDS 248 casos; Hepatite B 184 casos; Hepatite C 97 casos; Sífilis Congênita 91 casos e Sífilis em Gestantes contendo 869 casos.

 Após 10 anos, é perceptível uma equilibrada geral destes casos, mas os números prosseguiram havendo aumentos. Ainda de acordo com a Secretária do Estado de Goiás, no sexo feminino, o HIV obteve 391 casos; AIDS 124 casos; Hepatite B 154 casos e C 164 casos. De Sífilis congênita 271 casos e Sífilis em gestantes 2.531 casos.

Em entrevista para o LabNotícias, a Médica Ginecologista e Obstetrícia Tatielle Teixeira, residente médica pela Santa Casa de Misericórdia, em Goiânia GO, possui também formação em Sexologia pela IBCMED de São Paulo. A médica relata um pouco sobre as principais ISTs, os casos em seu dia a dia e o modo como aborda suas pacientes:

Médica Ginecologista e Obstetrícia Tatielle Teixeira/ Foto: Arquivo Pessoal

“As principais doenças que [abordamos] no consultório, na prática e com mais fequência é o HPV [através das] lesões berrugosas pela doença. Infelizmente a sífilis está voltando com força total, [estamos] tendo muitos casos de sífilis e herpes genital. É muito comum a gente receber os pacientes com essas três doenças, mas tem outras, sendo oito as principais doenças sexuais. Está havendo realmente um aumento recorrente de casos, justamente porque as pessoas não estão se prevenindo tanto, né? Com o preservativo. Antigamente a gente tratava muito facilmente outras doenças, como a amidalite, como a besetáceo, então conseguindo acabar com a sífilis. Hoje diminuiu um pouco o uso da besetáceo, e com isso, a doença voltou com um pouco mais de reforço.” diz.

De acordo com o Ministério da Saúde, as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) são causadas por vírus, bactérias e outros microorganismos, podendo ocorrer sua transmissão através de relações sexuais (sendo oral, vaginal ou anal). Essa transmissão dá – se principalmente pela falta da proteção correta durante a relação. Ademais, pode – se ocorrer durante a gestação da mãe que possui o microorganismo para o bebê. Não tratadas devidamente, pode – se levar a diversas complicações no organismo e também ao óbito.

Tatielle também ressalta os desafios mais comuns em relação saúde sexual e reprodutiva nas mulheres, trazendo a tona que uma das maiores consequências desenvolvida pelas DSTs é a infertilidade. Muitas pacientes em seu dia a dia não conseguem engravidar devido a inflamações pélvicas, que são causadas pelas doenças sexuais, ressaltando que uma das melhores formas de prevenir esse dano e utilizar o preservativo feminino e masculino:

“Tem que prevenir, tem que usar preservativo, independente de como que esteja a relação. Hoje em dia, o preservativo é a única solução realmente para o problema. E talvez agora elas [mulheres] jovens, com vinte, vinte e poucos anos, não vão ter essa preocupação da vida fértil, mas ao longo prazo isso pode trazer prejuízo na vida reprodutiva. E lá na frente, quando elas decidirem ser mães, vão ter que fazer vários tratamentos para poder conseguir engravidar.”

Dados lançados pelo Ministério da Saúde através da campanha “Voltou o carnaval e com camisinha a alegria é geral” revelam que mais de 52 mil jovens de 15 a 24 anos com HIV evoluíram para AIDS nos últimos dez anos. Além disso, em 2021, houve notificações de 40, 8 mil casos de HIV e outros 35, 2 mil casos de AIDS por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), de acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV/AIDS do ano passado.

Em vista desse aumento, a médica ginecologista relata como a abordagem sobre a saúde sexual difere entre as jovens até as mulheres adultas, e o modo de incentivo para que as mulheres sejam proativas em relação à sua saúde sexual. Além disso, a profissional relata que faz o possível para que suas pacientes se sintam confortáveis discutindo questões sensíveis durante as suas consultas:

“Temos que enfatizar mais nas pacientes jovens, porque pacientes jovens muitas vezes não têm parceiro fixo. Então a gente trabalha muito no consultório o uso do preservativo. As mulheres na fase mais madura, precisamos sempre cobrar isso da paciente. Porque, infelizmente, existem muitos homens hoje que traem suas parceiras, trazendo doença para dentro de casa. Então, na verdade, todo mundo deveria usar o preservativo, né? Fazer os exames de doenças pelo menos de 6 e 6 meses, para estar sempre em dia e saber se tem alguma doença ali ativa, porque às vezes são doenças assintomáticas que não vai ter um sintoma para fazer um diagnóstico.”

“Como incentivar as mulheres é ser mais proativa em relação à saúde sexual? Eu sempre brinco que a mulher tem um empoderamento muito grande. E esse empoderamento tem que vir junto com a saúde sexual. Então você tem que estar com seu preservativo dentro da bolsa, durante uma saída, se o parceiro não tem, você tem que ter. Para em um caso de relação conjugal ou em caso espontâneo, alguma coisa que aconteça, você está ali para se prevenir. E a gente sempre trata isso, tenta tratar da maneira mais comum e abordar. Eu sempre tento o diálogo, mas falar realmente a língua da mulher, a língua do paciente. Ás vezes o médico é muito teórico e não fala a língua do paciente, então acho que isso que é importante, pra durante a consulta você conseguir trazer isso da sua paciente.”

Tatielle também aborda o fato de como as DSTs possam afetar no psicológico da mulher, como no caso de descobrir a doença e relacioná-la com uma possível traição do seu parceiro:

“No meu ponto de vista, o maior impacto psicológico para a mulher ao descobrir um caso de doença sexual é realmente ela relacionar aquilo com a traição do parceiro. Então isso abala a família, abala a estrutura mental, psicológica e sexual da mulher, porque o fato dela ter sido traída é um fato que pode diminuir essa autoestima e traz um impacto psicológico muito forte. A gente tem casamentos desfeitos, crises, né? Como um médico você tem que ser um pouco psicólogo para poder conseguir manter esses relacionamentos e talvez não manter, né? Porque aquilo ali pode já estar fazendo mal [para a paciente]. “

E conclui: ” [O resultado] é a ponta do iceberg para ela poder enxergar realmente o que tem por trás da relação que ela está tendo naquele momento. O psicológico é afetado, o que eu vejo muito depois de uma descoberta dessas doenças, é ficarem com a autoestima muito abalada.”

Ademais, a médica relata que a saúde pública é um dos principais fatores da informação, através de informativos, campanhas, tendo tratamentos disponibilizados via SUS, em grande maioria através de antibióticos. Tatielle, prossegue ressaltando que dependendo de cada doença há um tratamento específico, o médico passa ao seu paciente, e reforça, dizendo que o principal fator de prevenção para as doenças e infecções sexualmente transmissíveis, é o preservativo durante a relação:

Prevenção é sempre o preservativo, né? Então a camisinha, tanto feminina quanto masculina, deve ser usada. Se não é possível usar a camisinha masculina, a mulher ela tem acesso à camisinha feminina. O SUS sempre disponibiliza preservativos, é fácil ter acesso, claro que não são os melhores em termos de qualidade, mas ele previne da mesma forma que tem que ser feito e tem que ser usado.”

 Para o cuidado destes casos, em Goiás, há a Coordenação Estadual de Vigilância das Infecções Sexualmente Transmissíveis pela Secretaria do Estado de Goiás (SES).

Camisinhas e preservativos./Foto: Pixabay

 

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