‘Agora temos a nossa própria casa’, diz Diretor do Campus de Aparecida da UFG, sobre mudança e nova rotina dos estudantes

Em entrevista, o Diretor Júlio César Valandro conta quais são as perspectivas futuras para o campus e como estão sendo resolvidos os problemas abordados pelos estudantes
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Imagem da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UFG – Campus Aparecida de Goiânia. Foto: Secom/UFG

A inauguração do novo Campus em Aparecida de Goiânia localizada no bairro Fazenda Santo Antônio, administrado pela Universidade Federal de Goiás (UFG) ocorreu no dia 25 de setembro deste ano, dando início ao ano letivo no segundo semestre de 2023. O Campus conta com quatro cursos no momento: Engenharia de Materiais, Engenharia de Produção, Engenharia de Transportes e Geologia. Anteriormente, o campus estava localizado no prédio da Universidade Estadual de Goiás (UEG) em Aparecida de Goiânia.

Nesse período de transição, ocorreram diversas divergências e reclamações por parte dos alunos, como a questão do Restaurante Universitário (RU), que até o momento está sendo servido sob tendas e havendo falta de comida para distribuição à maioria dos alunos. Envolvendo também, a questão do transporte público da Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC), que anteriormente, possuía apenas uma linha disponível para o transporte dos alunos que necessitavam se deslocar de suas residências até a Universidade.

Portanto, o LabNotícias (LN) entrou em contato com o Diretor Júlio César Valandro Soares, da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da UFG – Campus Aparecida de Goiânia, para explicar por qual razão esses problemas persistem, quais soluções estão sendo implementadas e a perspectiva para o futuro, tanto dos discentes, docentes e servidores como para o próprio campus.

Diretor Júlio César Valandro Soares em um evento. Foto: Júlio/Arquivo Pessoal

LabNotícias (LN): Primeiramente, Diretor, como se deu a comunicação da UFG com os alunos durante o período de transição para os cursos no novo campus? E como está sendo essa comunicação agora? 

Júlio Valandro: Bom nós temos vários canais né, os conselhos diretores que acontecem mensalmente desde o processo de transição informavam e atualizavam sobre o status do processo de mudança, nessas reuniões os alunos não participam, também há representações estudantis. Quando chegou mais próximo do processo de mudança, divulgamos também ações sociais através dos nossos canais de redes sociais, como Facebook, Instagram etc. Também há um canal por e-mail para todos os estudantes, não tenho certeza se esse canal foi utilizado para ser sincero, mais foi feito como um veículo certo de maneira séria para atualização de informações, e é claro sempre que nos procuravam, nós atendiamos, para deixar o pessoal atualizado sobre o processo. 

Esse processo complementar [de transição] continua agora pós-mudança, com tudo que está sendo implementado nós mudamos, numa situação assim, que podemos chamar de básica, né? E agora ajustes e melhorias que estão sendo realizados. Também temos um canal via WhatsApp com representações estudantis, muitas coisas atualizo por ali com a diretoria. 

LN: Os alunos relataram muitos problemas envolvendo a infraestrutura do Campus. Quais os maiores desafios enfrentados pelos estudantes nesse contexto em sua visão como Diretor da instituição? 

Relato de estudante da UFG – Campus Aparecida de Goiânia através da rede social X (antigo Twitter), sobre a má condição dos horários do transporte coletivo e a falta de condições alimentares.
https://twitter.com/Marianinha6S/status/1724102552352932248?t=GUguanmYLjb4Z7lyeVnUWw&s=19
Relato de estudante da UFG – Campus Aparecida de Goiânia através da rede social X (antigo Twitter) sobre a falta de alimentos para os estudantes e a má estrutura do campus.

Júlio Valandro: Bom, a implementação do campus é algo muito complexo, não é uma situação simples, são N variáveis que vamos solucionando, nós já superamos algumas coisas importantes, [como] enfrentamos um problema de recepção orçamentária nos últimos anos que também dificultou. Temos uma situação complicada de fornecimento de alimentação, [pois] ainda não contratamos ainda um serviço vindo da própria UFG; é um serviço que entramos em cooperação com o Instituto Federal de Goiás (IFG) em um mesmo contrato, foi uma medida paliativa e emergencial. O espaço que utilizamos para servir a alimentação ainda é precário, [envolvendo] também a higienização, coisas ambientalmente corretas, que aos poucos estamos implementando. 

A situação do transporte público, começou com algo não em sua plenitude, com poucos horários e houve muitas reclamações, conversamos com a CMTC e hoje já existem mais horários para o deslocamento dos estudantes. Me parece que houve a diminuição de reclamações em relação a isso, até porque, se houver eu tenho esse canal direto do estudante, com a comunicação direta e total. 

Implementamos também uma rede de Internet no campus roteada por lá, mas ainda está em uma condição muito precária, pois os equipamentos adequados não chegaram ainda.

LN: Quais as soluções para esses problemas e como elas estão sendo desenvolvidas?

Júlio Valandro: Estamos trabalhando para melhorar esse espaço da alimentação com climatização, mais conforto e buscando recursos para isso. Agora o Restaurante Universitário definitivo está em projeto, mas isso não podemos acionar uma perspectiva de quando vai ser realmente executado, porque depende da política pública. [No momento] está no parque da educação. [Além disso], o serviço de alimentação está em curso, acredito que a contratação definitiva deve acontecer no próximo ano e o edital já está em aberto.

Com o tempo, queremos trazer a melhoria do próprio campus como a aparência, a roupagem, começar com processo de arborização. Nós temos que fazer um fechamento com uma empresa que está nos devendo esse projeto para o campus. Estamos buscando recursos, porque animais ainda entram ali, como gado de fazendas vizinhas, tudo que plantamos o gado vai ali e se alimenta. Temos também um projeto e um grupo que está trabalhando para isso. 

Imagem de animais próximo ao campus. Foto: Secom/UFG

Sobre a internet, nós estamos adquirindo melhores equipamentos que vão distribuir com um sinal bem melhor e com melhor qualidade por todo campus. Estes equipamentos já estão vindo para nós, nas próximas semanas temos as condições de melhoria neste serviço. Outra situação que estamos organizando são os espaços estudantis, [como o Restaurante Universitário], temos espaços reservados, mas estamos ajustando as questões de imobiliária e nessa semana já gostaria de reunir para definir essa questão. 

Sempre é bom ressaltar que aquela região que o campus foi implementado é uma região que está se estruturando, mas é um local muito promissor e de investimento. Há um aeroporto ao lado que está sendo construído, com investimentos imobiliários e empresariais. Hoje é um local um pouco distante, mas nos próximos anos teremos um mapa mais ampliado da região, assim como foi o Campus Samambaia em seu início.

LN: Na visão do senhor, quais foram os pontos positivos para a transição da Universidade? 

Júlio Valandro: Um dos pontos positivos é que agora temos a nossa própria casa, somos donos da nossa própria casa. É uma casa com muito mais estrutura do que quando compatilhavamos com a UEG, por questões absolutamente fáceis de explicar, nós tínhamos uma estrutura mais restrita e organizada, mas não tínhamos tanta liberdade para implementarmos algumas situações que hoje nós podemos. 

Hoje temos um campus que possui 6 pavimentos, 7, 4 mil metros quadrados, só uma edificação, ao lado o espaço de convivência com refeitório, temos uma estrutura laboratorial bem melhor, a estrutura imobiliária está praticamente toda implementada e instalada, é evidentemente que toda a questão laboratorial aos poucos vai se estruturando melhor, como as salas de aula e enfim, que possuem espaços climatizados, datashows, telas automatizadas, que são uma estrutura bem mais qualificada e quadros de vidro. Já colocamos as persianas que não havíamos colocado e temos 6 auditórios com 2 estruturados com poltronas e toda estrutura, os outros serão estruturados com o tempo, é uma estrutura bem mais qualificada com grande ganho para devolvermos nosso projeto de formação.

O pessoal também reclama bastante da distância, mas é um preço que se paga para quem está desbravando uma nova fronteira, não é qualquer linha do ônibus que está funcionando, mas essa questão vai se melhorando com o tempo, acreditamos que com o tempo iremos mudar os horários dos nossos estudantes para facilitar a logística [para que] o acesso ao campus [possa] ir se ajustando.

LN: Qual está sendo a postura da Universidade, frente à denúncia dos problemas abordados pelos alunos? Houve reunião com os discentes? Quais os pontos discutidos?

Júlio Valandro: Houve uma reunião para discutir sobre o serviço de alimentação devido as reclamações, enquanto direção convidamos a empresa, estudantes e a própria Universidade para conversar sobre essas questões estudantis. Foi uma conversa republicana, de respeito e rigorosa.

As pessoas se manifestaram e a empresa admitiu os problemas e está se ajustando: recebo em meu WhatsApp problemas diários que o pessoal me comunica sobre o campus, pelo que entendo está tendo uma diminuição de reclamações. Algumas semanas atrás, houve a questão da falta de alimentação, porque o alimento não é produzido ali, ele é levado ainda para ser servido. É um processo longo, até por conta da empresa, sabe? Então tudo é novo, mas me parece que já há um ajuste positivo nesse processo. A Universidade claro, procura dar apoio pelas reivindicações que a mesma também tem, [como] processo de dificuldades orçamentárias que limita muito algumas situações, mas a Universidade está sempre disposta a amparar para oque for necessário e atender a comunidade.

LN: Neste processo, há o apoio das equipes docente, administrativa e técnica relativo à transição? Houve algum problema, semelhante aos retratados pelos alunos, nas rotinas desses servidores? 

Júlio Valandro: Sim, nós tivemos um chamado em espécie, chamada Comissão da Transição que coordenou o processo e centralizou uma série de situações que toda a comunidade do campus se envolveu, mas existiu uma comissão da gestão que comandou o processo. Por ser um processo bem complexo, não ser algo tão simples a mudança de um campus para o outro, nós tivemos que programar muito bem para acontecer as coisas, houve muitas variáveis, sempre há problemas aqui e ali, mas de uma forma geral ocorreram muito bem. E agora estamos melhorando cada vez mais a estrutura, então existe a direção do campus com o departamento administrativo e técnico para centralizar e comandarem novas ações. 

Sempre acontece situações [de] algum desconforto ou insatisfação, isso porque somos uma comunidade de praticamente 800 pessoas hoje. E, portanto, nessa comunidade as pessoas interagem de forma [em] que acontecem as situações, como ouvidoria ou reclamação, isso tudo chega para a direção. Mas não necessariamente nesse processo de mudança, mas envolvendo professores em sala de aula ou comportamento de um colega com o outro, uma atitude, isso inerente a uma organização de forma geral. A direção tem um diálogo muito tranquilo e próximo ao estudante. Gostamos quando o estudante conversa e participa com o conselho diretor, quando traz os problemas, isso é sempre muito bem vindo. Porque é assim que conseguimos se envolver e evoluir, muitas das vezes um problema está acontecendo e ninguém fala, ai não é legal.

Os alunos tem projeto com as comunidades, como o projeto Paisagismo no Campus [com] que alguns alunos estão se envolvendo, tem outro projeto também que eu mesmo estou coordenando que é o Projeto Licitação, [em] que todos os colégios públicos de Aparecida de Goiânia de ensino Básico, Fundamental e Médio [vão] visitar o campus nos próximos dois anos, com o envolvimento de alunos, além de  haver uma relação ali com a comunidade e dar uma maior visibilidade ao próprio campus. Essa é uma das maiores dificuldades que nós temos, dar uma maior visibilidade ao Campus, comunicar melhor a sociedade do que nós fazemos, procuramos fazer mais e melhorar isso.

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