Jornalistas X influencers e criadores de conteúdo: é possível coexistir na era digital?

"Eu considero o jornalismo uma profissão necessária sim. Não adianta apenas saber falar, mas como falar e o que falar", afirma Paula Falcão
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Logo do Aproveite a cidade. (Imagem tirada do site aproveiteacidade.com.br)

Lidar com a informação e suas consequências é uma enorme responsabilidade. Mas afinal, quem é capaz de passar essas informações de maneira correta? Para essa pergunta, o Lab Notícias entrevistou a jornalista e criadora de conteúdos Paula Falcão.

Paula Falcão é jornalista de formação pela Universidade Federal do Goiás, pós-graduada em Gestão de mídias sociais pela Escola Superior de Propaganda e Marketing e criadora de conteúdos no Aproveite a cidade, no qual é fundadora e sócia ao lado de dois colegas.

LAB: Como surgiu o projeto do Aproveite a cidade?

Paula: “A ideia do aproveite a cidade surgiu lá em 2014 no curso de jornalismo mobile. A gente fazia curso para aprender a mexer com telefone celular e fazer cobertura de jornalismo. O smartphone estava sendo introduzido aí na cobertura jornalística. Eu desenvolvi o produto, o piloto do Aproveite a Cidade, que era uma série de vídeos curtos, pequenininhos, compartilháveis por WhatsApp, que era assim que a gente fazia na época Esse projeto foi premiado. Eu fui parar nos Estados Unidos, fazer uma capacitação lá. E aí tinha essa premiação. Eu fui um dos projetos selecionados. Em 2016, eu comecei a estruturar o site como negócio mesmo. E em 2017 eu estabeleci a empresa. E a partir daí que eu comecei a atuar como gestora mesmo de um veículo de comunicação. Aí hoje eu gerencio o Aproveite a cidade.”

LAB: Quando você entregou o projeto e ele foi premiado. Foi aí que você decidiu que queria ser criadora de conteúdo?

Paula: Sim. Eu me interessei mais por Goiânia. Eu já tinha interesse profissional, até por conta dessa limitação regional, que eu acreditava, queria mudar de área. Eu via mais perspectiva de crescimento voltado para o digital. E eu sempre gostei de vídeo.

Mas acabou que eu tinha uma perspectiva assim, de talvez trabalhar com televisão. Mas eu entendo a linguagem da TV como uma linguagem muito engessada, né? Tudo muito certinho, tudo muito roteirizado. Então, essa conexão com as pessoas acaba sendo mais distante. O que no digital é tudo muito perto, né? A gente tá falando de primeira tela. É uma relação mais informal, então tem essa proximidade. Acabou que eu fiz o curso e tudo casou para o Aproveite a cidade acontecer.

LAB: Deixando a redação de jornalismo para trabalhar no Aproveite a cidade, você deixou de ser jornalista e passou a ser influencer ou, você passou a exercer os dois papéis?

Paula: Sim. E é engraçado essa coisa de ser influencer e ser jornalista, porque de certa maneira, ela me traz algumas limitações. É um mercado muito amador [criação de conteúdo], é um mercado muito pouco profissional. E o fato de ter vindo da comunicação me traz uma bagagem que é muito própria da formação de comunicação mesmo, principalmente do jornalismo. A questão de ética, a questão de como você lida com fontes, de como você entrega o conteúdo, do que é interesse do público, do que é interesse público. Então, toda essa bagagem de ser jornalista me ajuda muito na produção de conteúdo e a estruturar um negócio que tem responsabilidade e compromisso social.

LAB: Você acha que jornalismo como profissão te ajudou a estabelecer o Aproveite a cidade?

Paula: Com certeza. É um conjunto mesmo. A profissão com certeza me ajudou e me ajuda até hoje. E com certeza é um diferencial. E o fato de ser uma criadora de conteúdo com formação, isso conta para o mercado e conta toda a trajetória, conta até sete anos de negócio rodando, conta não ter cancelamento, conta a imagem que você construiu e tudo isso, inclusive, impacta no valor que tem que ser cobrado. Ser uma comunicadora com formação me ajudou demais assim. E a rede de contatos também, mas muito mais é a construção do negócio do que a minha rede de contatos, porque não dá para tirar esse mérito.

LAB: Você considera que a sua formação te ajuda a passar mais confiabilidade no que você posta?

Paula: Eu espero que sim. Eu acho que na verdade é um peso diferente. Uma informação, um conteúdo veiculado pode destruir a vida de uma pessoa, assim como pode alavancar esse negócio ou uma história. Então tem muito mais responsabilidade na maneira de vincular e isso, obviamente, tem peso em todos os conteúdos. Tem peso na maneira como coloca, na maneira como eu construo, como a gente constrói a nossa credibilidade. Eu não vou ficar inventando, até porque eu estou influenciando a decisão de compra das pessoas. As pessoas podem sair de casa e gastar o dinheiro delas nesse lugar que eu estou indicando. E se esse lugar não for maneiro, se esse lugar não for bom, eu estou colocando em xeque a minha credibilidade.

LAB: Hoje em dia, você considera que o jornalismo é necessário? Porque se eu preciso saber de algo, eu posso dar uma pesquisada no TikTok e talvez tenha um profissional daquela área específica respondendo a minha dúvida. Eu não preciso necessariamente ir atrás de algum jornal que a responda.

Paula: Então, a gente fala muito disso hoje em dia. Que jornalistas formados não são mais necessários, até porque a posse de diploma não é obrigatória. Mas eu considero o jornalismo uma profissão necessária sim. Não adianta apenas saber falar, mas como falar e o que falar. A geração de hoje é a geração que pesquisa tudo no TikTok. Mas quando é uma dúvida sobre algo específico, você procura algum jornalista que responda essa pergunta por conta da confiabilidade. O jornalista é formado para passar credibilidade. Então, quando um influencer sem formação começa a trabalhar em algum veículo jornalístico, a informação que ele repassa nem sempre vai ser recebida de forma confiável pelo público, devido à falta de um estudo técnico e teórico.

LAB: No seu seu ponto de vista, é importante que os criadores de conteúdo e os influencers tenham algum tipo de formação?

Paula: Não acho que seja necessário. Depende que tipo de criador de conteúdo ou influencer você quer ser. Por exemplo, uma pessoa que consegue se comunicar bem e domina as técnicas da comunicação, ela não precisa ter uma formação, porque ela já possui esse skill [habilidade] para fazer isso, ela só precisa saber como ela vai usar o conhecimento para fazer isso. Mas como eu disse, depende muito para que ramo você vai destinar a sua influência.

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