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A solidão da maternidade no século XXI tem sido um tema discutido há anos. Carolina del Olmo, uma filósofa e diretora de cultura do Círculo de Bellas Artes de Madri, aborda esse assunto em seu livro “Dónde está mi tribu” (Onde está a minha tribo), um ensaio que se tornou uma referência importante para muitas famílias e profissionais interessados nas práticas maternas.
A solidão pode ser especialmente intensa para mães que vivem em cidades onde não têm apoio familiar próximo ou mesmo a centenas de quilômetros de distância. Isso é inquestionável para mães que optaram por criar seus filhos sozinhas e não têm uma rede de apoio ao redor.
Nesse especial de Dia das Mães, o Lab Noticias conversou com Sheila Almeida, uma mãe de carreira que nos contou um pouco sobre a sua experiência com a maternidade solitária.
LN: Fale um pouco sobre você?
Sheila Almeida: Eu tenho 48 anos, sou mãe de duas meninas, já adultas e sobre profissão, nunca trabalhei formalmente. Fui mãe muito cedo, tinha 16 anos. Casei logo depois e com 25 tive minha caçula. Sou casada há 30 anos.
LN: Como foi a maternidade para você?
Sheila Almeida: Eu sou uma mulher que cresceu com esse sentimento, com esse objetivo, com um único objetivo, ser mãe. Era isso que eu fazia, minha mãe me dava de presente bonecas, e elas eram minhas filhas. Nunca essa ideia ficou longe de mim. Eu fui ensinada desde sempre que isso era o que eu deveria querer, e eu quis, sempre quis, porque era a minha opção na época, eu queria ter a minha casa, meu marido e minha família, essa era a única carreira que conhecia para mulheres. Foi assim com a minha mãe, ela casou nova e teve 4 filhos, minha sogra se casou com 12 anos e teve filhos logo depois, foram 5 crianças.
Então assim, fui cercada por esse sentimento e então eu fui mãe na adolescência, com 16 anos. Tive que parar meus estudos e, claro, fui me formar no ensino médio anos mais tarde, quando eu fazia aulas à noite.
LN: Sobre a maternidade, qual foi a coisa mais difícil que você passou durante?
Sheila Almeida: Acho que o sentimento de ser tornar outra pessoa — [longa pausa] — agora você é mãe, tem um ser que depende de você, a vida dele depende e pela vida dele, eu fui dando a minha a vida em troca, fui deixando de ser eu. Eu amo ser mãe, mas é muito cansativo, até hoje é porque minhas filhas são minhas responsabilidades e são as coisas que eu mais amo no mundo e um equilíbrio entre elas.
Depois da dor né, a literal, eu me senti meio isolada do mundo, sozinha, como se ninguém me entendesse e toda minha personalidade era estar presente sobre para aquele ser. Ai tudo é sobre o bebê, tudo que as pessoas perguntam é sobre ele, sabe o mundo vira aquilo, aquela rotina. Óbvio que gratificante, uma experiência impagável, ver seu filho crescer, mas se encontrar no meio disso é muito difícil.
LN: Solidão que você mencionou, ela passa?
Sheila Almeida: Não passa, não sozinha, acho que você esquece de você mesmo, de comer, de se arrumar, às vezes até de se olhar no espelho. E tanto tempo dedicado e às vezes ele não volta, esse tempo não volta mas você tem em troca esse seu vínculo com alguém que não se desfaz. Não me sentia como eu mesma, a fui esquecendo as poucos, quem eu era como mulher.
Mas eu lembro uma vez, estava na aula, meu esposo me ligou porque minha filha mais nova caiu e bateu a cabeça e ele precisava que eu voltasse para casa rápido para levar ela no hospital e eu pensei que eu precisava ser mãe de novo, não só eu.
Depois de um tempo fui aprendendo a voltar a gostar das coisas, a fazer coisas só para mim, mas mesmo assim demorou muito.
LN: Você se arrepende de ser mãe?
Sheila Almeida: Não, nunca me arrependi, mas nunca foi fácil. Mas se eu não fosse mãe hoje, o que eu seria? Parece muito besta isso, mas é assim que eu penso, e eu amo quem eu sou agora mesmo que eu só me veja hoje como uma mãe e acho que não só uma boa mãe ainda.