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Bruna Aquino de Amorim
Fonte: Facebook  – Sessão Azul

Muitas famílias buscam salas de cinema adaptadas para pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Isso porque, enquanto algumas crianças e adultos com autismo conseguem vivenciar a experiência sem desconforto, muitos necessitam de um ambiente com ajustes de luminosidade e som, por exemplo.

Pensando nisso, foi criada a Sessão Azul, sessões de cinema adaptadas para crianças com distúrbios sensoriais e suas famílias, em um ambiente customizado que torna a experiência de ir ao cinema muito mais confortável. O projeto foi idealizado pelas psicólogas Carolina Salviano e Bruna Manta, junto com o gerente de projetos de TI Leonardo Cardoso.

A ideia nasceu inspirada no Cinematerna, que oferece sessões especiais para mães e pais com bebês de até 18 meses. ‘‘A falta de compreensão e de informações sobre o comportamento das crianças com espectro autista faz com que, muitas vezes, as famílias evitam sair de casa. Sair já é uma grande dificuldade e ainda ter que lidar com preconceitos é extremamente cansativo’’, relata a manicure Ivone Santos. Ela é mãe de Artur, de 12 anos, diagnosticado com TEA aos três anos. A família, que mora em Aparecida de Goiânia, começou a frequentar o cinema após descobrir o projeto em 2023.

“Observando e vivenciando experiências de famílias com autismo, identificamos vários casos em que elas evitavam o convívio social por receio ou vergonha da reação do autista em situações desconfortáveis, como ir ao shopping, restaurantes ou cinema”, comentou Leonardo, um dos criadores.

Salas adaptadas

Atualmente, existe o Projeto de Lei (PL 133/2019) que assegura o acesso de pessoas com autismo a salas de cinema, incluindo a realização obrigatória de sessões adaptadas. De autoria do Deputado Federal Augusto Coutinho, o texto foi aprovado em novembro de 2022 pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços da Câmara dos Deputados. A proposta obriga os cinemas brasileiros a oferecerem 2% das sessões em formato adaptado, identificando as salas com o símbolo mundial da conscientização do espectro autista.

Como funciona uma sessão de cinema adaptada

Durante toda a exibição do filme, a sala de cinema fica com as luzes acesas, o som mais baixo, e a plateia pode andar, dançar, gritar ou cantar à vontade. Não são exibidos trailers comerciais durante a Sessão Azul, a menos que já façam parte do filme. As sessões contam com profissionais capacitados para auxiliar as crianças na adaptação ao ambiente do cinema e orientar os pais sobre como lidar com as dificuldades dessa adaptação.

Esse projeto, além de garantir que pessoas com TEA possam aproveitar o cinema, também ajuda a expandir o diálogo sobre espaços de lazer inclusivos e os direitos dos autistas. O objetivo principal é que as sessões de cinema funcionem como uma extensão ao trabalho terapêutico realizado com a criança, aumentando o engajamento dos pais no processo de tratamento.

“Pessoas com autismo podem ter sensibilidade sensorial, que pode afetar um ou mais dos cinco sentidos, tornando-os mais ou menos intensos. Sons de fundo que outras pessoas ignorariam podem ser insuportavelmente barulhentos para uma pessoa com TEA, causando ansiedade ou até dor física’’, explica a psicóloga Isabela Magalhães.

Fonte: Facebook  – Sessão Azul

Onde assistir

As sessões são realizadas em diversos estados brasileiros: Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo. A programação pode ser acompanhada diretamente no site do projeto ou através do cadastro para receber as newsletters do projeto.

A iniciativa é feita em parceria com redes de cinema como Cinemark, Cinépolis, UCI e Kinoplex, e conta com voluntários treinados para lidar com situações que podem ocorrer durante o filme.

Programação

Os filmes exibidos nas sessões são escolhidos pelo público na semana anterior à data de exibição por meio de enquetes online. As opções são geralmente de filmes infantis dublados. As sessões acontecem ao custo de meia-entrada para todos, e ocasionalmente, por conta de patrocínios, são exibidas gratuitamente. Os ingressos, nessas ocasiões, são bastante disputados.

Como o Sessão Azul começou

O projeto Sessão Azul começou em 2015 no Rio de Janeiro, inspirado pela experiência do programa Cinematerna. Até então, no Brasil, não havia muitas opções de entretenimento adaptadas para pessoas com dificuldades sensoriais. Desde dezembro de 2015, já foram realizadas mais de 70 sessões, com a participação de mais de oito mil pessoas em 14 cidades brasileiras, sendo para muitas delas a primeira experiência no cinema com seus filhos.

Os criadores estão satisfeitos com os resultados. “Hoje, algumas famílias, após participarem de algumas exibições, passaram a frequentar sessões regulares sem receio da reação de suas crianças. Graças a esses resultados, temos certeza de que estamos no caminho certo e que precisamos continuar”, disse Leonardo.

A Sessão Azul é um sucesso nas redes sociais, com forte presença no Facebook e Instagram, onde o público pode participar de enquetes para a escolha dos filmes. No site, o público pode responder a uma pesquisa de satisfação que abrange diversos aspectos, desde a qualidade do atendimento até as mudanças percebidas nas crianças após começarem a frequentar o projeto.

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