Ciência na psicoterapia: por que a TCC supera abordagens sem evidência?

A importância da Terapia Cognitivo-Comportamental no tratamento da ansiedade e o perigo das abordagens sem comprovação científica
Tempo de leitura: 6 min
Eduardo Bandeira
Capa do livro Terapia Cognitivo Comportamental: Teoria e Prática. Imagem: Reprodução/Amazon
Capa do livro Terapia Cognitivo Comportamental: Teoria e Prática. Imagem: Reprodução/Amazon.

Se você já sentiu sua mente acelerada, o coração disparado e um medo constante de algo dar errado, saiba que não está sozinho. A ansiedade, considerada por muitos o mal do século, afeta milhões de pessoas, incluindo figuras públicas como o ator Pedro Pascal e o ex-ginasta Diego Hypólito. Diante desse cenário, a psicoterapia se mostra uma ferramenta essencial e, entre suas abordagens, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) se destaca pela eficácia comprovada cientificamente.

Criada nos anos 1960 pelo psiquiatra Aaron Beck, essa abordagem se concentra na relação entre pensamentos, emoções e comportamentos, ajudando o paciente a modificar a forma como enxerga as situações. Comprovada cientificamente, a TCC oferece ferramentas para modificar padrões de pensamento, levando a uma mudança duradoura no bem-estar emocional.

A crise de ansiedade de Diego Hypólito no Big Brother Brasil 25, momentos antes da Prova do Anjo, no dia 15/02, chamou a atenção para este problema. Ainda assim, muitos que sofrem com o transtorno encontram dificuldade em buscar um tratamento adequado e nem sempre se atentam à validade científica da abordagem escolhida, abrindo espaço para métodos sem comprovação.

Diego Hypólito sofre de crises de ansiedade, o que reverberou na sua participação no BB25. Foto: Reprodução.
Diego Hypólito sofre de crises de ansiedade, o que reverberou na sua participação no BB25. Foto: Reprodução.

Oferecer ajuda psicológica sem usar a ciência é como dar remédio de mentira para uma doença séria. Além de ser algo muito irresponsável, pode acabar piorando a situação de quem já está sofrendo. Quem faz isso se aproveita da fragilidade dos outros, e é importante saber identificar essas pessoas antes que causem ainda mais danos e se aproveitem da vulnerabilidade alheia.

Pesquisas mostram que a TCC não só reduz os sintomas da ansiedade e da depressão, como também proporciona mudanças duradouras, pois ensina estratégias práticas para lidar com os desafios emocionais. De acordo com a Associação de Psicologia Americana (APA), essa forma de terapia é um dos tratamentos mais eficazes para transtornos mentais, superando abordagens sem validação empírica.

E por falar em abordagens terapêuticas, é importante destacar as que não possuem comprovação científica, como Geoterapia, Aromaterapia, Medicina Antroposófica, Imposição das Mãos e Constelação Familiar.

Essa última, inclusive, tem se espalhado rapidamente desde 2016, apesar da falta de base científica. Mais do que um atraso emocional, essa prática submete pessoas a encenações que podem reabrir feridas, reforçar traumas e gerar um sofrimento desnecessário. Ao invés de promover cura, muitas vezes impõe humilhação e dor, servindo mais como um espetáculo cruel do que como um suporte legítimo.

A saúde mental merece um tratamento sério, baseado em ciência, e não em modismos. Cabe a nós, como sociedade, garantir que os indivíduos que buscam ajuda psicológica encontrem o apoio necessário, com profissionais habilitados e abordagens que, de fato, promovam o bem-estar. Precisamos proteger a mente, nossa maior aliada.

Psicoterapias baseadas em evidências são reconhecidas pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) como práticas científicas que usam técnicas psicológicas para ajudar as pessoas a entender e resolver problemas emocionais.

O Brasil tem sentido cada vez mais os impactos desse problema. “Ansiedade” foi eleita a palavra do ano por 22% da população, segundo uma pesquisa da CAUSE em parceria com o Instituto de Pesquisa IDEIA e PiniOn. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o país lidera o ranking global de transtornos de ansiedade, afetando 9,3% da população.

Cada uma das pessoas nesta porcentagem pode estar enfrentando um sofrimento profundo. Se, em vez de um acompanhamento sério, caírem nas mãos de charlatões que defendem métodos sem qualquer comprovação científica, o risco não é apenas de ineficácia no tratamento, mas de agravamento do quadro. A negligência travestida de terapia pode empurrar essas pessoas ainda mais para o abismo, prolongando ou até intensificando seu sofrimento de forma irreversível.


Por isso, em 2022, as diretrizes do CFP foram atualizadas com uma resolução que orienta a atuação dos profissionais na área da psicologia. Entre as abordagens mais utilizadas, destacam-se a Psicanálise, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), e uma variação dela, a Terapia Comportamental Dialética (DBT).

A artista Lady Gaga revelou que superou suas vulnerabilidades emocionais, ansiedade e dificuldades com a exposição social graças à Terapia Comportamental Dialética. Já a cantora e atriz Selena Gomez disse em entrevista que gostaria que esta abordagem fosse ensinada nas escolas, dada sua eficácia no apoio emocional e psicológico.

Diante da seriedade da questão, não é justificável que métodos superficiais, mais adequados a espetáculos circenses ou parques de diversões, sejam oferecidos como alternativa para algo tão precioso e complexo quanto a mente humana.

Em um período onde dados científicos são cada vez mais refutados e a checagem de fatos sofre com a desinformação, se a mente humana, que é tão preciosa para gerar até mesmo máquinas similares a ela, não for tratada com a devida seriedade, então talvez estaremos falhando como sociedade ao permitir que charlatanismo e pseudociência ditem o futuro da saúde mental.

Portanto, é fundamental amplificar as vozes de cientistas e estudiosos renomados na área da psicologia, que, apoiados pela experiência de figuras públicas de credibilidade e pelo jornalismo científico, possam esclarecer e resolver as dúvidas sobre quais abordagens têm, de fato, impacto positivo sobre a saúde mental.

Dessa forma, quem sabe, os impactos vividos por Pedro Pascal e Diego Hypolito possam receber o suporte de pessoas verdadeiramente habilitadas, com conhecimento e, acima de tudo, humanidade, para oferecer o mais básico das necessidades humanas: apoio.

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