- Salvio Farias fala sobre sua carreira e uso da imagem no jornalismo - 30 de abril de 2025
Salvio Juliano Peixoto Farias é graduado em Jornalismo e em Design Gráfico pela Universidade Federal de Goiás, fez mestrado na faculdade de Artes Visuais também pela UFG. Professor nessa mesma universidade desde 2009, comenta sobre dificuldades na carreira de jornalista e sobre principal importância de uso de imagens em uma matéria.
Qual o motivo de você ter escolhido fazer esse curso?
Eu não queria ser jornalista, não era minha primeira opção, eu queria trabalhar com alguma coisa ligada a imagem, talvez publicitário mas na época não tinha em Goiânia e optei por jornalismo que era o mais próximo. E eu acabei gostando muito, hoje em dia eu penso que foi bom não ter sido publicitário, eu acabei me identificando muito com o curso de jornalismo e depois de um tempo eu entendi que o jornalismo poderia ter uma parte ligada a produção de imagem e ao estudo das imagens. Mas desde o ensino médio me identifiquei muito com o curso e hoje em dia eu não teria feito outra coisa.
Como foi que escolheu sua área de atuação como professor?
Eu trabalhei em redação por alguns anos e com assessoria antes de me tornar professor. Eu trabalhava em jornal quando fiz um concurso para ser professor substituto na escola de artes onde eu tinha feito minha segunda graduação. Eu sempre quis ser professor, desde criança, mas eu achava que isso fosse acontecer comigo mais velho, quando eu tivesse talvez um pouco cansado do jornalismo em campo, acredito que eu tinha um estereótipo que professores sempre são mais velhos. Eu me tornei professor com 26 anos e desde então nunca mais parei de dar aula, se eu tiver parado por algum período foi quando trabalhei muito na redação mas logo voltei a ser professor.
Em quais universidades já trabalhou como professor durante esse tempo?
Já dei aula por muito tempo na Faculdade Alfa, fiquei lá treze anos, depois de ser professor substituto na UFG foi o segundo lugar que fui dar aula. Na UNIP (Universidade Paulista), no curso de publicidade e propaganda, também na PUC (Pontifícia Universidade Católica de Goiás), fiquei por onze anos lá. E desde de 2009 estou na UFG , já cheguei a dar aula na pós-graduação no SENAC. Teve um momento que eu dava aula nessas quatro instituições ao mesmo tempo, foi um período bem tenso mas eu tinha menos horas de aula o que deixava um pouco mais tranquilo de conciliar, mas era bem cansativo.
Qual foi o momento mais marcante da sua carreira?
A docência sempre me trouxe muita alegria e quero fazer isso até me aposentar, mas minhas recordações como jornalista em redação são ótimas. Quando eu era “foca” no O Popular uma das minhas primeiras entrevistas, a primeira vez que ganhei capa, eu entrevistei Frans Krajcberb. Ele morava no interior da Bahia e não costumava dar entrevista para ninguém, ele tinha reconhecimento internacional e já tinha um tempo da sua última entrevista, quando eu liguei sugerindo e ele aceitou, eu tinha achado o número do telefone dele na agenda da redação. Tinha um equipamento para gravar a conversa e era com fita, quando eu terminei a entrevista e fui ver a fita tinha um problema e não gravou, no dia seguinte liguei novamente falando que tinha perdido umas partes da conversa e perguntei se poderia repetir e ele topou e fiz as perguntas todas novamente acabou ficando melhor que a primeira. Uma vez entrevistei o Paulo Autran, foi uma mega entrevista me tornei fã depois disso. Em outra situação entrevistei a Bibi Ferreira, na época ela estava fazendo um show de Édith Piaf, ela cantava para mim as músicas da artista pelo telefone, ela foi super generosa. Primeira cena de novela que me lembro é da Elizabeth Savalla pulando de um carro na novela Pai Herói e quando nossa conversa aconteceu acabei contando isso para ela.
Dentro da profissão, qual a maior dificuldade que já enfrentou?
Tanto como professor e como jornalista é a falta de material de trabalho, lembro que quando trabalhei no jornal Gazeta Goiás era muito pequeno então faltava carro quando precisava trabalhar cobrindo algo. Uma vez fui fazer uma coletiva de imprensa com o Oscar Niemeyer de ônibus e cheguei super atrasado. A falta de suporte é o maior problema. Na faculdade também acontece de precisarmos de laboratório.
Quais as melhores habilidades para se ter como jornalista?
Acho que é fundamental a curiosidade e gostar de pessoas, porque a humanidade que rende histórias. Por muito tempo achei que não seria jornalista por ser tímido, até conhecer Gilberto Dimenstein em uma formatura, e ele era muito tímido também e ali percebi que não tinha problema. Mas isso não me impediu de nada na minha carreira.
Principal importância da imagem em uma matéria
É fundamental tanto quanto o texto, vivemos em uma sociedade cada vez mais imagética, as redes sociais se baseiam muito na imagem, as vezes uma foto realmente fala mais do que mil palavras. O texto consegue descrever mas a imagem trás elementos muitos importantes.
Como é feita a escolha de imagens nas reportagens?
Pela minha experiência de jornal, é um trabalho em conjunto entre o fotografo, o editor de imagem, o repórter e os editores. Geralmente quando um fotografo recebe a pauta eles vão além do fato registrado e tentam trazer algo a mais. Em certas situações a foto gera a pauta de tão boa que ela é.
Existe diferença nas escolhas de fotografias usadas no jornal
impresso e digital?
Basicamente não os recortes são os mesmos, mas o digital trás uma abertura maior para usar imagens em movimentos como vídeo que se tiver a oportunidade de usar é sempre um recuso a mais, mas a natureza das imagens são as mesmas.
Papel das fotos na construção da matéria
De narratividade, é muito raro usar uma fotografia somente para estética, mesmos as ilustrações livres de matérias subjetivas. Eu acredito que uma imagem sempre conta uma história, as vezes ela completa o que está sendo contado ou ela trás outros elementos que as palavras não conseguem, então o uso é sempre importante.