- Jovem e Jornalista: Entrevista com Ana Luiza Abreu - 2 de maio de 2025
Entre pautas, câmeras, edições, correr contra o tempo e lidar com o peso de ser nova e mulher, Ana Luiza descobriu que ser jornalista é também ser gente – é sentir, acolher e resistir. Sua trajetória mostra que dá pra segurar o microfone com orgulho e dizer: notícia também pode ter calor, verdade e coração! Nessa entrevista, Ana Luiza Abreu vai falar um pouco sobre sua rotina como comunicadora em início de carreira. Formada no curso de Jornalismo pela Universidade Federal de Goiás (UFG) em 2023, Ana é conhecida pelo seu carisma e generosidade. Atualmente com 24 anos ela trabalha como repórter da TV Pai Eterno – vivendo e aprendendo com os desafios e as paixões do jornalismo diário.

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Ana já trabalhou na TV Serra Dourada e realizou diversos estágios que foram muito importantes para sua carreira profissional, como na Câmara Municipal e na TV Brasil Central, entre outros. Um super obrigada à Ana Luiza por esse bate-papo incrível! Foi leve, real e cheio de aprendizados. Confiram essa entrevista que ficou muito especial!
Layslla: Por que que você escolheu o jornalismo?
Ana Luiza: Eu sempre fui de humanas, nunca me vi na saúde ou em exatas e por muito tempo achei que queria Direito, porque sempre admirei como juízes e advogados se comunicavam – via muitos filmes e séries disso. Quando fiz o Enem, o resultado da redação foi bom, tirei 880, queria pelo menos 900. Adivinha, minha nota não deu pra Direito e eu só sabia chorar, porque só conseguia me imaginar nessa área. Olhei outros cursos parecidos e vi Jornalismo, na hora pensei: “Meu Deus, será?” me lembro até hoje, bateu uma sensação estranha na barriga, comecei a lembrar dos jornalistas que eu gostava, que assistia todos os dias, detalhe eu sempre fui de ver TV e ouvir rádio, aí pensei: “Meu Deus, será que eu conseguiria um dia ser tais pessoas que eu admiro” coloquei Jornalismo no Sisu e mesmo vindo de escola pública, passei de primeira. Depois eu tive que ver toda aquela questão de documentação, apesar dos contratempos foi tudo dando certo.
Layslla: Além de trabalhar na TV Serra Dourada como contratada, você fez algum estágio assim que você considerou importante?
Ana Luiza: A experiência mais marcante que tive foi conseguir uma vaga na Câmara Municipal de Goiânia, graças ao projeto Politizar, da UFG. Fui atrás, pedi oportunidade ao presidente da Câmara e entrei como jovem aprendiz na comunicação. Foi meu pontapé no jornalismo! Depois passei por outros estágios, como na SECOM da UFG e na TV Brasil Central, meu primeiro estágio remunerado. Lá foi intenso: trabalhei com produção, redes sociais, gravações e até apresentei um quadro! Aprendi demais sobre o mercado, maturidade e trabalho em equipe. Tive erros, aprendizados e desafios, inclusive pessoais, mas tudo me fortaleceu. No fim, cada experiência me ensinou muito. E a maior lição foi: rede de contatos é essencial no jornalismo – a gente nunca sabe quando vai precisar de alguém.
Layslla: como que é a sua rotina trabalhando como repórter da TV Pai Eterno?
Ana Luiza: Faz dois anos agora em abril que estou na TV Pai Eterno, esse mês é muito especial para mim. A rotina na TV é assim: tenho que estar na TV 7:00, bato ponto esse horário, é muito cedo, mas esse é o horário. Cumpro uma carga de 6 horas diárias e, nos finais de semana, trabalho por escala. Acordo por volta de 5:20 ou 5:30, e quando preciso lavar o cabelo, chego a acordar 4:50. Quando chego, passo pelo camarim, que varia conforme a pauta do dia, depois vou para a redação, acesso ao sistema da empresa para ver e imprimir a pauta. Desço para o subsolo, encontro a equipe e partimos para gravação, quando chego na pauta, dou vida a tudo que tá no papel, se tiver dúvida, ligo ou mando mensagem para o produtor ou chefe de redação. Agora se a fonte faltar, a pauta pode cair, então tenho que estar sempre atenta, a comunicação é constante e tudo muda muito rápido. Preciso estar sempre ligada nos grupos da TV, porque a qualquer momento pode ter mudança.
Layslla: Quais foram os desafios que você teve enquanto comunicadora da TV Pai Eterno e como jornalista em geral?
Ana Luiza: Como comunicadora da TV, o principal desafio que eu senti na pele – e ainda sinto um pouco — foi por ser nova demais e mulher, sentia que muita gente não botava fé em mim, achava que nem na experiência eu ia passar. No começo, eu errava, até pegar o jeito, mas sempre tive muita força de vontade pra aprender, errar, cair e levantar, teve vezes que eu chorava, de tanta angústia, porque sou muito autocrítica, às vezes a matéria não saía como eu queria ou alguém da equipe era grosso comigo, e isso me abalava. Outro desafio foi aceitar quem eu sou, o cargo que eu ocupo e a liderança que eu tenho, mesmo tendo chefes, na prática o repórter lidera a equipe de gravação, então, se eu peço pra gravar algo, tem que gravar – e se não gravar, vem cara feia. Isso tudo torna o trabalho difícil, muito difícil mesmo. Mas fui me adaptando.
Layslla: Já teve algum momento marcante na sua carreira?
Ana Luiza: Tive muitos momentos marcantes na carreira, mas um dos mais especiais foi entrevistar minha avó – foi muito emocionante. Outro momento forte foi acompanhar, como jornalista e comunicadora da TV Pai Eterno, o falecimento do Papa Francisco, aprendi a amar o Papa por sua humanidade, por olhar pelas minorias e sair dos muros do Vaticano, e isso me marcou profundamente, tanto profissionalmente quanto pessoalmente. Também vivi um momento extremamente difícil com a perda da minha amiga Kamylla Cristina Rosa de Oliveira. Hoje (25/04) seria aniversário dela, e até hoje é algo que me abala muito. Na época, eu estava trabalhando nas duas TVs (duas emissoras de TV em Goiás) e precisei manter a postura no ar, fazer matérias, ajudar a família dela a se comunicar com a imprensa – tudo isso em meio ao meu próprio luto. Em meio a dor foi necessário buscar coragem, perseverança e a resiliência para me reconstruir, e esse episódio foi um dos motivos que me fizeram deixar a filial SBT em Goiás, após praticamente um ano de trabalho. Foram situações em que precisei reunir forças de onde não tinha. E é isso: a gente é ser humano, sente, sofre, mas também precisa seguir e fazer o que tem que ser feito, são nesses momentos que a gente descobre o quanto é forte.



Layslla: Como que você lida com a pressão de estar sempre bem informada.
Ana Luiza: Tem dia que eu me sinto mal porque não consigo assistir um jornal direito ou ler o que eu queria, e aí penso: “Nossa, nesse dia eu não fiz o que eu tenho que fazer”. Às vezes assisto só 10, 15 minutos e fico com a sensação de que não foi suficiente. Por exemplo, a estreia da série do jornal da Globo, para mim aquilo ali é aula, e eu sinto que tenho que assistir. Quando não consigo, fico chateada. Essa pressão é muito complicada, porque você sente que tem que dar conta de tudo, saber de tudo, mas não tem como, por mais que você seja jornalista, é importante entender que isso é normal e natural. Quando acontece algo grande, como esse negócio do papa, eu fico pensando como está o César Tralli, o pessoal da CNN, Globo News, imagino a pressão que eles estão sentindo, porque todo mundo está olhando pra eles. Comigo também acontece isso, é natural, tento me policiar todos os dias, nem sempre consigo, mas tento entender que não sou dona de tudo, que eu não controlo tudo.
Layslla: Quais áreas do jornalismo na sua opinião estão sendo mais valorizadas e quais estão sendo mais desvalorizadas atualmente?
Ana Luiza: Áreas mais valorizadas:
- Jornalismo econômico: Eu acho que o jornalismo econômico está sendo mais valorizado, porque cada vez mais as pessoas querem entender sobre o próprio dinheiro, elas querem ter noções de rendimento e até fazer investimentos. Então, acredito que é uma área que tem crescido e vai ser valorizada ainda mais.
- Jornalismo nas redes sociais: O fazer jornalístico nas redes sociais é muito promissor, a internet não é algo palpável como a TV, mas é acessível, hoje, com um celular e acesso à internet, as pessoas conseguem consumir informação de forma mais fácil. Eu amo ver pessoas procurando informação nas redes.
- Jornalismo com entretenimento: Acho que o jornalismo com entretenimento também está sendo mais valorizado, as pessoas gostam de ouvir uma boa música, de conversar um pouquinho como se fosse um pagodinho. eu acho isso legal, é muito bom.
- Rádio: O rádio, para mim, é uma coisa de muito valor. Treina muita coisa, como trabalho em equipe, e eu amei quando fiz, embora eu não veja tanto investimento, ele ainda está sendo valorizado de certa forma, acho que precisa de mais atenção, mas tem seu valor. Fiquei super feliz quando vi que a rádio UFG passou do AM para FM.
Áreas menos valorizadas:
- Jornalismo cultural: Por mais que eu veja divulgação e atenção em algumas páginas, acho que o jornalismo cultural precisa crescer mais, as pessoas querem curtir, mas às vezes não apoiam quem está ali produzindo. Tenho uma amiga que faz postagens com todo amor, e se der 10 curtidas é muito, cultura é algo que a gente consome o tempo todo, e mesmo assim falta reconhecimento.
- Design gráfico (relacionado às redes): Eu acompanho muito a parte das redes sociais e vejo muitas pessoas falando como o design gráfico é valorizado, mas ao mesmo tempo não tem reconhecimento, é um trabalho difícil, que muitas vezes não é reconhecido, o que é terrível.
Layslla: Como você gostaria de ser lembrada no futuro pela sua carreira no jornalismo?
Ana Luiza: Eu quero ser lembrada igual a Renata Vasconcellos, Gloria Maria, César Tralli, William Bonner. Quero ser lembrada como uma jornalista autêntica, visionária, que não foca só no agora, mas que pensa lá na frente também, como uma pessoa muito boa no que faz, mas não só por isso – quero que lembrem do meu ser, da minha essência, de quem eu fui, como eu era, como eu tratava as pessoas, até o jeito de dar notícia, com comentários mais doces. É isso.
Layslla: Você tem algum jornalista assim que você vê como a sua inspiração?
Ana Luiza: Tenho vários jornalistas que me inspiram, César Tralli, Renata Vasconcellos, William Bonner, Glória Maria, gosto muito da Bárbara Coelho, que é maravilhosa, do Felipe Andreoli e da Rafa Brites – os dois são referências. Todos eles, na minha opinião, são impecáveis. Também admiro muitos jornalistas da CNN e da Globo News. Tem correspondentes que se especializaram em pontificado, em Vaticano, e que falam com tanta naturalidade sobre temas difíceis, quando vejo isso, penso: “Quero me inspirar, quero conhecer”. Sempre que descubro alguém assim, já vou lá e sigo. Tem gente daqui de Goiás também que eu gosto demais, na verdade, é mais fácil falar quais eu não gosto, pois admiro tantos.
Layslla: Para finalizarmos, quais seriam os seus conselhos para os futuros jornalistas?
Ana Luiza: Os meus conselhos para vocês são: acreditem em si mesmos, mesmo com as dificuldades dessa fase, não parem diante das adversidades – ficar de recuperação é normal. Procurem estar com pessoas certas na faculdade, amizades são uma rede de apoio essencial. “Goiânia é um ovo”, ainda mais na comunicação, então estejam em movimento, às vezes achamos que não temos chance, mas se já estivermos nos movimentando, conhecendo pessoas e entregando currículos, pode ser mais fácil. Participem de projetos de extensão, assistam aulas como antropologia são bem interessantes, e não se sintam menores por serem estagiários, façam estágios – eles abrem portas e trazem experiências reais. Não é só o currículo, é a vivência. Se você quer rádio, vá atrás disso – até fora da faculdade. Saia da bolha, mesmo que amigos digam para não mexer com certas coisas, caminhando é que se caminha. Amizades com professores também ajudam. E acima de tudo: não parem na primeira dificuldade.

