Tempo de leitura: 16 min
ANGELINA

Silvye Alves, nascida em Goiânia (GO), dia 08 de novembro de 1980, é uma jornalista, apresentadora, repórter e deputada federal de Goiás. Atualmente apresenta o SBT Notícias na TV Serra Dourada, além de atuar na política afiliada pela UNIÃO BRASIL.

Silvye contou sua trajetória e como saiu de uma adolescente de baixa renda que morava em Tocantins para uma deputada e jornalista de renome com uma grande experiência e profissionalismo, além de um carisma incrível.

Angelina: Na juventude, você se envolveu com arte, música e teatro. Em que momento esses sonhos se transformaram em comunicação e, depois, em jornalismo?

Eu sempre gostei de arte. Mas quis fazer medicina, queria ser médica obstetra. Eu entrei no ensino médico com 15 anos e eu queria muito fazer medicina, eu era muito dedicada. Só que aí a gente era muito humilde, aí a gente se mudou pro Tocantins. A faculdade de medicina mais próxima era em Araguaína.

Naquela época era 1.500 reais. Se 1.500 reais é muito dinheiro hoje, imagina naquela época. Aí eu tive que abandonar esse sonho e eu sempre trabalhei. Comecei aos 12 anos. E com 13 anos, eu trabalhava em loja, de vendedora. Quando a gente chegou no Tocantins, eu não aguentava mais ficar sem ter meu dinheiro, entendeu? E aí eu pedi pra minha mãe um emprego. E ela arrumou na TV da Record lá de Tocantins. E esse foi meu primeiro contato com a televisão. Eu era telefonista e recepcionista.

Aí uns seis meses lá, o pessoal falou assim, ah, você não quer gravar uns comerciais? Não, sua voz é boa, não sei o que. Eu comecei a gravar uns comerciais. Não ganhava um centavo, porque eu achava lindo aquilo. Então um dia, eles precisaram de uma produtora. Então eu comecei a contactar os músicos, marcava as entrevistas e tudo mais. De isso, um dia
precisou de uma apresentadora, de apresentadores no SBT, que era a TV Real. Lá no Tocantins, e eu fui. Lá eles gostaram muito de mim e queriam que eu fizesse um teste, mas eu fiquei não, sou muito nova, sirvo pra isso não.

Ele falou, vem sem compromisso, menina. Aí eu lembro que comecei a assistir a Sandra Nemberg. Ela foi uma referência muito grande no
jornalismo. E eu comecei a observar o jeito que fazia a postura, o jeito que tudo. Eu sei que eu fui, quando eu cheguei lá, tinha uma menina muito bonita. E eu tinha uns dentinhos tudo torto. Falei, ah, não com essa aqui, eu não vou ser contratada, não. Ela era a ex Miss Palmas. Aí eu fui tristinha, fui lá, não tinha roupa, ela tava toda chique.

Aí eu lembro que eu peguei um blazer da minha mãe. E aí eu grampeei atrás, nas costas, com grampeador mesmo, pra poder ajustar. E fui lá, fiz o teste. Passei. Me ligaram e falaram, ó, você vai começar em 15 dias. Foi o pior dia da minha vida. Eu tive diarreia, eu tive tudo que você possa imaginar naquele dia. Eu passei mal dois dias antes. Eu quase morri. E aí eu sei que eu fui apresentar. Assim que eu fiz essa transição.

Angelina: Você teve passagens por emissoras nacionais e até internacionais, como a RAI na Itália. Como essas experiências moldaram seu estilo como comunicadora?

Eu já falava inglês fluente, já que eu já tinha feito inglês. E eu fui fazer
uma entrevista do Rale Internacional de Sertões. E aí eu fui cobrir o Rale Internacional de Sertões, que juntava gente do mundo inteiro, lá no Jalapão, lá em Tocantins. Aqueles ralis de carro, e eu lembro que eu cheguei lá e comecei a entrevistar os participantes, os pilotos. E o diretor da TV, que era da Globo lá, ele veio e chegou e falou, menina, quantos anos
você tem? Eu falei assim, eu tenho 17. Ele falou, não, você fala bem inglês. Ele falou assim, ó, vai lá conversar comigo depois.

Eu tava desencorajada mas tomei coragem e fui lá na TV Anhanguera. Eles
queriam que eu cobrisse as férias, a licença maternidade da apresentadora do tipo do jornal do almoço, do jornal Anhanguera Primeira Edição.
E mais um mês de férias dela. Então seriam quatro meses, naquela época eram quatro meses de licença e mais um mês de férias. Aí eu ficaria cinco meses. Nisso, eles gostaram muito de mim e aí eu fiquei no lugar dela e ela já passou pro Jornal da Noite.

Fiquei dois anos e meio lá no Tocantins. Aí eu vim passar as férias aqui em Goiânia, as minhas férias, férias mesmo, quando eu tava na TV Anhanguera. E eu pedi pra fazer um mês de estágio na TV Anhanguera aqui em Goiânia.
E eu apresentei o jornal do almoço. O de sábado. Aí no que eu apresentei, a Márcia Elizabeth, que era a diretora de jornalismo do SBT, me viu. E me fez uma proposta de trabalho, então eu vim para Goiânia, com 18 anos já.

Fiquei oito meses na TV Serra dourada e recebi uma proposta para ir pra TV Integração que era filiada da Globo, em Uberlândia, de lá fui para Belo Horizonte, na rede Globo mesmo.

Aí de Belo Horizonte eu fui pra Europa trabalhar, para estagiar, eu
larguei tudo o que eu fazia, porque eu queria aprender outros idiomas, porque o meu objetivo era Globo News, na época. E aí, só que no Globo News você tinha que falar vários idiomas, que lá, tipo assim, a pessoa fala
seis, oito idiomas, sabe? Lá era uma loucura. E lá falar outro idioma era fundamental, fora ter faculdade, ter pós-graduação, essas coisas. Eu fiz duas faculdades, que eu fiz jornalismo e letras, fiz três especializações pela USP, que a Globo pagava.

Fui estagiar na RAI, a segunda maior emissora da Europa, e lá eu não era apresentadora, eu era editora de texto. Só que depois de um ano, eles me contrataram e eu fiquei três anos na TV RAI. Então eu engravidei em 2010 e minha vida deu uma parada. Decidi voltar pro Brasil por causa do meu filho e começar tudo do zero. Por conta da justiça e tudo mais, eu não consegui ficar no Eixo São Paulo-Rio

E aí eu fui, peguei meu currículozinho, em 2011, fui na TV Anhanguera e me ofereceram um absurdo, que eu tenho até vergonha de falar, de dinheiro, que não dava pra pagar, tipo assim, nem a babá direito, nem sustentar nada. Aí a Record foi, viu meu, na época era DVD, eu tinha um portfóliozinho, viu meu DVD e falou, não, pode vir. Na Record eu fiquei seis meses trabalhando de madrugada e meu bebê pequeno.

Chegou um dia que eu não tinha mais condição, que eu não conseguia ler o telepronto, eu falei, gente, eu não consigo ver, eu não consigo, eu estava babando de sono. Aí eu virei para a minha chefe, olha, eu não consigo mais ficar nessa madrugada, meu neném é muito pequeno, então eu estou pedindo demissão, agradecer a oportunidade. Ela falou, não, calma que a gente tem um projeto para você. Aí me passou para o Jornal da Noite, aí eu fui apresentar o Goiás Record com o Carlos Magno.

Angelina: Você acha que ter ido para a Europa te deu uma carreira mais consolidada? Foi muito importante na área?

Eu acredito muito no destino. Por exemplo, eu tive um filho na Grécia. Que motivo que teria? Que contato que eu tive em qualquer parte da minha vida que eu pensaria que eu teria um filho, um casamento na Grécia, entende? Então eu acredito muito em destino isso também. Eu acho que tem muita questão do destino na vida da gente. Eu não penso duas vezes. Eu sou a pessoa que fala assim, eu vou fazer,
eu vou fazer.

Para mim, naquele momento, que oportunidade que eu teria de ter contato com estrangeiros?
É estando fora do Brasil. Você pode fazer aula nas escolas, você não vai falar fluente igual.
Quando você conversa com nativo, é diferente, entendeu? Tipo lá, eu tinha contato com
americanos, eu tinha contato com um monte de gente. Então, isso sim me moldou profissionalmente. Agora, se você perguntar assim, o que você usa hoje em dia, é isso? Nada. Eu uso como experiência de vida, está ótimo, para mim, experiência de vida foi maravilhosa.

Eu morei na França, eu morei no Egito, eu morei em alguns países, na Grécia. Para mim, isso é
uma experiência de vida e foi lindo. Então, eu não me arrependo de nada do que eu fiz.
Agora, para o jornalismo que eu faço aqui hoje, não faz diferença. Eu não mudaria
hoje para o Rio de Janeiro para trabalhar na Globo News.

Eu acho que tudo é de experiência. Para mim, foi tudo experiência. Eu falo quatro idiomas.
Eu falo grego, eu falo italiano, eu falo espanhol, eu falo inglês. Eu queria ter aprendido mais.

Então, para mim, isso é a questão da gente querer aprender, querer… A gente não é mostrar
para as pessoas. Para mim, não tem vaidade nenhuma de falar que eu falo outro idioma, até porque a gente só fala do nosso jeito mesmo. É isso mesmo. Mas, de experiência, é maravilhoso. Você sempre vai ser valorizado pelo aquilo que você tem conhecimento. Isso é importante.

Para você, como jornalista, você tem que sempre querer aprender mais.

Angelina: Você sempre bateu picos de audiência, certo? Como foi isso, esse estrondo de pessoas assistindo?

Sim, a gente chegou a bater o Jornal Nacional em audiência, acredita? Na época, o nosso jornal era no mesmo horário, e mesmo assim a gente liderava. Foi um período em que o Marcelo Rezende também entrou no ar e ele fazia um sucesso estrondoso, e aquilo impulsionou ainda mais os números. Nosso jornal chegava a dar 21 pontos de audiência à noite, o que era gigantesco. A gente saiu até na Veja, saiu em vários noticiários dizendo que tínhamos ultrapassado o Jornal Nacional.

No início, eu fazia reportagens para o Goiás, mas também para programas nacionais, como o Domingo Espetacular e o Jornal da Record. Eu e o Carlos Magno éramos repórteres de rede, ou seja, produzíamos conteúdo para o nacional e isso vinha até com um adicional no salário.

A vida já estava começando a se estabilizar pra mim: consegui alugar meu cantinho, sair da casa da minha mãe, morava só eu e meu filho. E aí, um dia, surgiu a necessidade de uma repórter para cobrir com o Marcelo Rezende no Cidade Alerta. Mas olha… ele brigava com todo mundo ao vivo! Eu morria de medo daquele homem. Falei que não ia de jeito nenhum. Mas insistiram e disseram que não tinha ninguém. Aí topei, mas falei que se ele me destratar, eu respondo ao vivo. Não ia levar desaforo calada, não.

Acabou que nos damos muito bem, ele brincou comigo e falou que me queria como repórter dele. Depois de sete meses, criou o Cidade Alerta – Goiás.

Angelina: Quando você se candidatou para ser deputada, você teve
receio que o público te enxergasse como uma comunicadora e não como uma deputada de
fato?

Assim, eu acho que até no primeiro ano foi bem difícil as pessoas entenderem isso, né? Agora, hoje, na rua, as pessoas já me chamam de deputado. Eu nunca tive esse receio, não. Eu nunca tive esse receio. Eu tive receio das pessoas acharem que eu… Porque, hoje em dia, as pessoas encaram a política como ladrão. E eu ouvi muito, por que uma pessoa deixou de ganhar mais de 100 mil reais por mês para ser deputada? O que ela quer na política se o salário do deputado é X? Então, as pessoas não conseguem entender.

Porque, realmente, muitas pessoas que entram na política, elas entram para fazer rolo mesmo.
Tipo assim, às vezes vem aquela linhagem que o avô foi senador, o pai foi deputado, o filho
quer ser deputado. Então, tem isso no Brasil. Mas tem mesmo. Se você for dentro da Câmara do Congresso Nacional, hoje tem muito isso. Mas as pessoas não conseguem entender quem vem com propósito.

Na área da violência doméstica. Hoje eu sou conhecida nacionalmente como a deputada da
mulher brasileira. Então hoje eu recebo pedido de ajuda fora do Brasil inteiro. E eu fico pensando, gente, se eu fosse rica eu não precisava estar na política pra ajudar essas pessoas. Eu ia fazer um grande instituto, eu ia ajudar todo mundo no Brasil. Mas eu não venho dessa linhagem de família. Então eu tenho que estar na política. Eu tenho que fazer projeto pra que o poder público execute e ajude essas pessoas.

Angelina: Como mulher em um meio predominante masculino, você precisou impor respeito desde o início, certo? Quais foram os maiores obstáculos que você enfrentou por ser mulher, comunicadora e se tornar uma deputada?

Na verdade, eu acho que, assim, no jornalismo, o maior problema é porque eu era
muito nova. Então, as pessoas já me tachavam meio de burrinha. Por quê? Eu não tinha faculdade. Muitas coisas que eu falava, por mais que eu falava bem, eu sempre li muito, eu sempre estudei muito português, sempre gostei de gramática. Mas as pessoas sempre desdenhavam que eu teria capacidade.
Então, eu sempre tive que provar que eu era mais. Segunda coisa, eu era muito carrancuda no
início. Eu não era espontânea desse jeito que eu sou.

Porque eu achava que, se eu fosse brincalhona como eu gostaria de ser, não iam me respeitar.
Terceira coisa, por ser muito novinha, eu sempre quis mostrar respeito. Então, eu tinha que ter uma postura mais diferente. Na política, o que eu comecei a perceber que é um mundo extremamente machista. Quando eu cheguei com a defesa da mulher, sobre questão de assédio, de respeito, eles já começaram a me respeitar por isso. Já viram que eu não sou uma mulher qualquer. E eu comecei a tratá-los de igual para igual. Hoje eu chego, se eles brincarem comigo, eu faço a mesma brincadeira com eles. E por isso eu acho que eles me respeitam.

Entende? Não fazem gracinha, nada. Eu sei que o homem, às vezes, é meio sem vergonha,
essas coisas assim, assédio, claro que tem aquela brincadeira e outra ali, mas eu tiro de letra
até porque eu me mostro muito maior que isso. E se a gente não souber passar por isso, a
gente se fecha de uma maneira que você não ganha isso na vida.

Porque se você não sobreviver ao assédio que você sofre, você não vai pra lugar nenhum.
Porque o assédio não é só assédio sexual. O assédio moral é muito grande. Eu fico vendo aquelas deputadas lá, quando elas são de outros partidos, que não são daqueles, quando tem o extremismo, tanto da esquerda quanto da direita, elas sofrem muito. Tanto da direita quanto da esquerda. A mulher da esquerda, ou o cara da esquerda, destrata a mulher da direita e vice-versa, vai ser algo muito ruim, se a gente pensar assim. Mas eu tiro de letra isso. Mas a gente sempre tem que provar que é mais. A mulher sempre tem que provar que é mais.

Angelina: Você acredita que a sua atuação no Cidade Alerta, onde você denunciava os casos de violência, de abandono e corrupção, ajudou a criar uma conexão política com a população?

Acredito. Acho que foi por isso que eu ganhei a eleição. Porque eu fiz campanha? Eu fiz. Só que, assim, eu não andei longe demais. Até porque, com o carro, você não consegue fazer isso. Eu tinha que fazer… Quando os políticos têm condição, tipo, tem helicóptero, tem avião. Então, os caras fazem cinco cidades num dia. Como é que eu vou fazer cinco cidades num dia? E ficar uma hora e meia em cada cidade? Você não consegue fazer. Então, eu nem fui pra muito longe. E tive voto em 245 cidades. Eu não tive voto em uma cidade. São 246 municípios. Eu não tive voto só em uma cidade.

Mas eu fiz uma campanha muito alegre. Eu não fiz uma campanha chorando e falando da
violência. Meu símbolo era o coraçãozinho. Eu falei, eu quero uma música alegre. Eu mesmo escrevi minha música de campanha. E eu espero fazer isso de novo, entendeu? Eu não quero fazer uma campanha pesada, tipo, sofrida.

Angelina: Qual a sua maior realização no jornalismo?

Ah, eu não sei. Acho que a realização é um bem-estar, sabia? A primeira coisa que eu sempre fiz na vida foi nunca ser menos. Não é porque eu ganhava… Quando eu voltei para o Brasil, eu ganhei 2.800 reais na Record. Não, 3.600 reais. Eu ganhava 2.800 reais descontado. Pra quem ganhava 4 mil euros por semana, eu voltei ganhando 3.600, morava com a minha mãe, com o meu neném, que eu queria recomeçar.
E nem por isso eu deixei de fazer meu programa com excelência. Eu acho que esse é um diferencial. Então, pra mim, fazer bem feito e fazer aquilo que eu gosto é o meu bem-estar. Pra mim, eu acho que essa é a minha satisfação e esse é o que eu consegui fazer no jornalismo.

Se você se tornar uma estrela, você acabou com a sua vida. Quem te torna uma estrela são as
pessoas. Quando você entrevista uma pessoa, ela pode mentir pra você. Você vai acreditar nela, mas ela
não consegue mentir pra câmera. Se ela chorar falso, a lente pega na hora. Se ela sorrir falso, a lente pega também. Então a gente é aquilo que a imagem capta. Então você tem que ser o seu melhor pra imagem captar. No meu caso, da televisão. Então você sempre tem que fazer o seu melhor. É o que eu penso pra mim. Por isso que eu acho que eu consegui alcançar a minha felicidade. a minha felicidade está vinculada àquilo que eu gosto de fazer. E se você não gostar, você esquece, senão, não vai ser bom.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *