- Estudo associa alimentos ultraprocessados à depressão - 8 de maio de 2025
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Um estudo publicado pela USP (Universidade de São Paulo) em 2024 relacionou o consumo de alimentos ultraprocessados com um maior risco de desenvolvimento de sintomas depressivos. A equipe do Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde), acompanhou, desde 2020, quase 16 mil adultos sem histórico de depressão, e sua relação com a comida. A análise do estudo indicou um risco aumentado de 42% para quadros depressivos em pessoas que consomem quase dois quintos de alimentos ultraprocessados em suas dietas.
As pessoas que participaram da pesquisa informaram, através de questionários online aplicados semestralmente, os principais alimentos consumidos no dia anterior e seu estado de saúde. Dessa forma, foi possível traçar as possíveis ligações entre a dieta das pessoas e o humor. O estudo indicou que, em média, os alimentos ultraprocessados representam 20% da alimentação diária dos brasileiros. Assim, foi possível identificar que quem come de forma mais saudável consome, em média, 7% de ultraprocessados, enquanto o grupo oposto apresenta 40% em seu consumo.
Alimentos ultraprocessados são aqueles feitos a partir de ingredientes baratos extraídos de alimentos in natura que recebem aditivos como conservantes, saborizantes e aromatizantes. De acordo com a nutricionista Nayara Rios, esses alimentos são ricos em gordura, sódio, açúcar e também possuem muitos aditivos químicos, que são adicionados para que eles possam durar mais tempo nas prateleiras.
O estudo da USP chega à conclusão de que o humor de uma pessoa pode apresentar mudanças se ela consumir altas quantidades de ultraprocessados. A nutricionista Geovanna Barreto explica que, para o nosso organismo, existe um termo chamado “eixo intestino-cérebro”, que é uma ligação entre o sistema nervoso central com o intestino. “É frequente ouvirmos que o nosso intestino é o nosso segundo cérebro. Por estarem interligados, o intestino influencia no cérebro e o cérebro influencia no intestino. A microbiota intestinal tem a capacidade de influenciar positivamente e negativamente o nosso organismo”, afirma Geovanna.
Barreto continua explicando que “quando consumimos alimentos que podem prejudicar a nossa microbiota intestinal, como adoçantes artificiais, alimentos ricos em açúcar e gordura, o nosso cérebro recebe isso como um desequilíbrio, causando alterações no humor, nas emoções e nos comportamentos”. No entanto, Geovanna indica que é possível reduzir os riscos associados ao consumo de alimentos ultraprocessados através de uma dieta equilibrada e saudável.
No entanto, evitar a ingestão de alimentos ultraprocessados não é uma alternativa possível a todos os brasileiros, ao menos é o que indica o Relatório sobre o Estado da Insegurança Alimentar Mundial divulgado neste ano passado, que alerta para o número de pessoas sem condições de pagar por alimentos que atendam às diretrizes nutricionais mínimas. A partir da pesquisa, em 2020, o total de brasileiros incapazes de pagar por uma dieta saudável era de 42,1 milhões de pessoas, ou 19,8% da população nacional.
PANCs como alternativas para uma alimentação saudável
As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), são plantas que crescem de forma espontânea nos quintais de casas, terrenos baldios ou entre calçadas. Esses alimentos podem ser facilmente confundidos com ervas daninhas, mas quando consumidas, possuem alto poder nutritivo.
Além disso, as PANCs são boas opções para manter uma dieta saudável e balanceada, sem gastar muito. O MAPA indica que plantar PANCs em casa para consumo próprio é uma alternativa: “normalmente, elas possuem um crescimento espontâneo, exigem um cultivo simples, além de serem facilmente adaptáveis a diferentes ambientes”.
A nutricionista Raquel Assis indica o consumo de PANCs na dieta, pois “incluindo essas plantas na alimentação, conseguimos aumentar a diversidade nutricional do prato”. Além disso, Raquel afirma que essas plantas contam com antioxidantes, fibras e micronutrientes importantes, que podem prevenir a incidência de doenças cardiovasculares e outras enfermidades como anemia e câncer.
As PANCs podem ser uma ferramenta no alívio dos sintomas da depressão: Assis descreve que as propriedades antioxidantes e vitamina C presentes na Vinagreira, Ora-pro-nóbis e Peixinho da horta podem auxiliar na melhora do humor e resposta imunológica. “As antocianinas, por exemplo, com sua função neuroprotetora e anti inflamatória, auxiliam no cuidado com a saúde mental”, afirma a nutricionista.
Débora Santiago, chef de cozinha especialista em culinária com PANC’s, afirma que esses alimentos “têm um papel fundamental para a compreensão da nossa cultura, história e existência humana”. Débora também chama atenção para outro significado da sigla PANCs, que pode ser Plantas Alimentícias Não Colonizadas: “Elas são o passado, o presente e o futuro”, diz.
As receitas utilizando PANCs são muitas, e a criatividade na hora de pôr a mão na massa é livre. Santiago conta que um bolo comum de farinha de trigo quando acrescentado Ora-pro-nóbis e canela na massa, é uma boa opção. Também uma dica refrescante para acompanhar essa receita pode ser o suco de Vinagreira, feito com folhas de Vinagreira, água, limão e mel ou açúcar.
Receitas com PANCs
Créditos das fotos: Marcelo Ramalho/Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes.