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Não, não é referência a um reality show. É a expressão que traduz o sentimento de várias mulheres ainda nos dias de hoje. Viver, ou melhor, sobreviver, é um desafio. Ataques, que assumem as mais diversas formas, acontecem todos os dias. 

Corpo, roupa, cabelo, sexualidade, comportamento, fé, estado civil, estilo de música preferido entre outros fatores, infelizmente, são pretextos para que mulheres sejam violentadas e agredidas verbal, física e psicologicamente.

Em Brasília, uma mulher recebe um email do intitulado “Conselho das Mulheres” do seu prédio, sobre as suas roupas. “Solicitação de vestuário apropriado” era o título. A argumentação? A moradora deveria usar vestimentas adequadas nas áreas comuns do edifício, porque seus “shortinhos curtos” e trajes de academia estavam constrangendo casais vizinhos. O fim da mensagem ainda assume um tom irônico: “Caso precise de auxílio, estamos à disposição”.

Também em Brasília, uma funcionária pública caminhava ao redor do Lago Paranoá, quando foi “repreendida” por um segurança, por andar de short e a parte de cima do seu biquíni. A moça perguntou se ele abordava também os homens sem camisa. O segurança respondeu então que “mulher de biquíni não pode”, mas que homem sem camisa “não tem problema”.

Em Maringá, no Paraná, uma estudante de 22 anos, recebeu por debaixo da porta de seu apartamento, um recadinho. O bilhete, escrito por um vizinho, pedia que ela parasse de “usar roupa vulgar” nas dependências do prédio onde vive.

Esses, infelizmente, não são os primeiros nem serão os últimos relatos de situações como essas. A sensação delas, e também de quem luta por igualdade, é de revolta e tristeza. Em pleno século 21, em 2021, as mulheres ainda não são livres.  É o jeito de ser, dizer, vestir, pensar, se portar… Sempre tudo é culpa da mulher. 

As violências assumem as mais diversas formas. Começam com um “simples” recado sobre mudanças nas roupas. “Evoluem” para pressões psicológicas. Depois um tapa. Um soco. Um chute. Por vezes, termina em assassinato. 

Às vezes, não é um processo de violências. É de uma vez. O agressor chega, aborda, coage, estupra e vai embora. Deixa a mulher abandonada ali ou ainda a mata para não deixar “resquício.” 

Segundo o relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2021, uma menina ou mulher foi vítima de estupro a cada 10 minutos, considerando apenas os casos que chegaram até as autoridades policiais. Além disso, pelo menos 1.319 mulheres, no Brasil, foram assassinadas, chegando ao nível mais extremo dessa violência. Ou seja, em média, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada 7 horas. Apenas por conta de seu gênero. 

Não é surpresa o descaso das autoridades e a falta de medidas eficientes de segurança e garantia de direitos para as mulheres e punição para os culpados. O próprio presidente do país é reconhecido por suas atitudes misóginas. Um exemplo é a fala, em 2014, de um então Deputado Federal, dirigida a uma colega: “Jamais ia estuprar você, porque você não merece!”, afirmou Jair Messias Bolsonaro. Qual mulher merece ser estuprada? Apanhar? Ser assediada? E ser morta?

É imprescindível exigir que as autoridades garantam que as leis já existentes sejam cumpridas, como a Lei do Feminicídio, Lei Joana Maranhão, Lei Maria da Penha, e outras que asseguram os direitos políticos, civis e trabalhistas das mulheres. 

Além disso, todos nós precisamos, urgentemente, defender também o direito das mulheres de se vestir como bem entenderem, ouvir qualquer tipo de música, dançar todos os ritmos, amar quem quiserem. 

É missão de todos reconhecer e combater o machismo estrutural a partir da educação na mais tenra idade. É fundamental a união das mulheres em busca de liberdade e igualdade para todas. Cada uma com sua especificidade e necessidade.

“O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos” – Simone de Beauvoir

É clichê. Mas é real. Juntos, somos melhores. Apenas juntos, somos capazes de vencer essa prova de resistência.

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