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Foto em destaque: Pexels
Há décadas atrás a mulher era educada e criada com o objetivo de se casar bem. Relacionamentos estáveis e com filhos eram indicativos de sucesso. Com o advento da modernidade e das lutas feministas, elas conquistaram a liberdade de escolha, pelo próprio status de relacionamento, social e de vida. Agora, elas não precisam se casar para serem consideradas bem sucedidas, as mulheres podem escolher se casar com suas vidas profissionais. No entanto, o padrão social ainda cobra muito caro pelos longos anos de aprisionamento amoroso.
A questão é que, a liberdade conquistada pelas mulheres cresceu junto da era capitalista, em que há muitas opções, com fácil acesso e rápido descarte. Não demorou até que essa dinâmica fosse transferida para os padrões de relacionamento. O amor virou um produto, e a esposa troféu virou ameaça.
Compramos amor, mas os traumas vêm de brinde
Escolhemos os parceiros como quem escolhe um item na loja online. Temos um catálogo com fotos, descrições e podemos acessá-lo com um clique nos aplicativos de relacionamento. Pela tela o produto parece muito atrativo, mas são tantas opções. Até que ele é entregue, e aí, já não parece tão bonito e interessante assim na vida real. Trocamos de amor como quem enjoa de uma peça de roupa e decide optar por outra, enquanto a anterior fica esquecida no armário.
A era dos amores líquidos, como na teoria do sociólogo Zygmunt Bauman, chegou ao seu ápice. Hoje em dia, o prazo de validade já vem pré-estabelecido, e a quantidade de opções nos causa ansiedade de escolha e imediatismo pela troca. Para Bauman, os amores tendem a se tornar mais descartáveis conforme a vida exige de nós maior praticidade. É líquido porque nos escapa rapidamente, assim como a água escorre entre os dedos, não é mais sólido e moldável como os relacionamentos das décadas passadas, em que as mulheres se encolhiam para caber nos casamentos.
Se tornou tão fácil ter acesso a dinâmicas de “pegação”, que estar em um relacionamento sério se tornou artigo de luxo. Mais uma vez o capitalismo fez escola. Assim como as grandes marcas de luxo, o amor verdadeiro se tornou item raro, cobiçado. As pessoas já se conhecem com medo de serem vulneráveis, porque é preciso se armar para não sofrer.
Mas, como dizia a teórica feminista, escritora e professora bell hooks, “jovens são cínicos em relação ao amor”. As pessoas reclamam das dinâmicas, mas as reproduzem mesmo assim. Em seu livro “Tudo sobre o amor: Novas perspectivas”, hooks cita um trecho, deixado pelo escritor de best-sellers e rabino norte-americano Harold Kushner, que resume a criação de uma geração de inamoráveis.
“Temo que estejamos criando uma geração inteira de jovens que crescerão com medo de amar, com medo de se entregar completamente a outra pessoa, porque terão visto o quanto dói correr o risco de amar e não dar certo. Temo que cresçam procurando intimidade sem risco, prazer sem investimento emocional significativo”
Harold Kushner
É proibido sentir
Atualmente, as pessoas fogem da intimidade, da conexão, demonstrar afeto é se “emocionar”, e desapego é o comportamento padrão. É proibido sentir. Os traumas de relacionamento criados pelas dinâmicas modernas de interação social resvalam em teorias antigas da psicanálise, como por exemplo, a teoria do apego, do psicanalista John Bowlby.
Bowlby voltava à primeira infância para explicar que o apego é um vínculo que transmite segurança, estabelecido na relação de mãe e filho. No entanto, nos amores fluidos segurança é algo que nem sequer existe. Mas, a parte da teoria que importa aqui é o apego em adultos.
Nesse sentido, os psicanalistas Cindy Hazan e Philiph Shaver, desenvolveram a teoria de que existem 3 tipos de apego, um deles considerado saudável, e os outros dois, na maioria das vezes, produzem comportamentos evitantes, que podem explicar um pouco desse tal relacionar destrutivo.
No tipo de apego seguro, o menos comum, as pessoas conseguem se relacionar de forma confortável e independente, e encaram a separação como algo natural. Já nos tipos que produzem comportamentos nocivos, estão o tipo de apego ansioso, em que as pessoas são inseguras e buscam pelo aprofundamento dos relacionamentos, mas a forma ansiosa de se relacionar causa dependência emocional e assusta o parceiro. O terceiro tipo é o apego distante, em que a intimidade causa desconforto e não há costume de aprofundamento dos vínculos.
A maioria das dinâmicas são entre pessoas distantes que se relacionam com pessoas de apego ansioso, e vice-versa. Experiências que sempre resultarão em términos mais ou menos traumáticos. Pessoas de apego distante terão dificuldades em gerar conexões e manter relacionamentos íntimos, e pessoas ansiosas sentem que precisam de atenção e proximidade para se sentirem emocionalmente satisfeitos. Um tipo repele o outro, criando ciclos viciosos e processos traumáticos.
Ou seja, para ser feliz no amor, é preciso ter a sorte de encontrar um tipo certo que se encaixe com o seu. Acaba que, na grande maioria dos casos, as pessoas já se relacionam sabendo que não vai durar. O medo de perder ou a ansiedade pelo desfecho, impedem que qualquer tipo de vínculo cresça. Estamos vivendo em meio a uma geração de pessoas amorosamente traumatizadas, que cada vez mais, não se sentem prontas para assumir uma relação séria.
Não à toa, o número de casamentos diminuiu no Brasil, enquanto a taxa de divórcios só cresceu. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2015 para cá o número de casais que escolheram unir as escovas de dentes caiu vertiginosamente: de 1.131 milhão em 2015, para 923 mil, em 2021. Enquanto que o número de divórcios concedidos em cartórios brasileiros chegou ao ápice em 2021, sendo o mais alto desde 2015, indo de 328 mil para 386 mil, comparando os anos.
Quem amou, amou, quem não amou, não ama mais
Como toda e qualquer mudança de padrão social, o novo modo de se relacionar também trouxe consequências: os traumas de relacionamentos. A liberdade das mulheres gerou inseguranças em muitos homens, afinal, dói não ser escolhido, trocado pela vida profissional e crescimento pessoal. Além de toda essa dinâmica do “não gostou, descarta e vai para o próximo”.
Foi nessa que alguns movimentos socialmente perigosos surgiram, como o movimento Red Pill. O grupo de homens machistas que propagam a crença de que as mulheres manipulam os homens, e por isso, merecem ser maltratadas. Apesar de ser um movimento crescente na internet, reverbera a máxima de conservadorismo perverso, que institui um padrão bem específico de mulheres a serem “escolhidas” para se relacionar e casar.
Muitos deles, nos levam a pensar até que ponto esses homens gostam de mulheres, já que alguns conselhos demonstram um ódio reprimido contra o sexo oposto, como se a mulher fosse um mal da sociedade, manipuladoras e insensíveis, o conceito bíblico da mulher que arruinou a humanidade ao comer o fruto proibido.
No Brasil, o movimento se popularizou após episódios de homens machistas se autodenominando coachs de relacionamentos, com conselhos infindáveis e estarrecedores de conquista. O mais conhecido deles, o influenciador Thiago Schutz, o calvo do Campari, que certa vez se indignou com uma mulher em um encontro, simplesmente por ela ter lhe oferecido uma cerveja. Em outro episódio, o valentão traumatizado chegou a ameaçar uma criadora de conteúdo depois que ela usou de seu discurso ridículo para fazer humor. Como se a piada já não viesse pronta.
Esse, e outros tantos tipos de comportamentos preocupantes nos levam a crer que os traumas gerados de relação em relação estão criando pessoas fadadas a ficarem sozinhas. Como a psicanalista e escritora Ana Suy diz, “A gente mira no amor e acerta na solidão”, pois o medo do abandono nos faz correr do outro e ter que voltar para nós mesmos, muito mais vezes do que deveríamos.
Entre escolher o outro e escolher a própria liberdade, aquela, tão sonhada pelas mulheres desde o início dos tempos, criamos padrões extremos de como nos relacionar. Ao escolhermos nós mesmos e o amor-próprio, abrimos mão do amor a dois. Por medo de sermos obrigados a nos casar e viver uma vida limitada e infeliz, permanecemos tão infelizes quanto, sozinhos por medo de nos relacionar. Feliz de quem encontra equilíbrio entre os dois.
Difícil é achar alguém que queira se relacionar com homens normais, mulheres hoje em dia só querem os destacados e o resto é invisível.
O começa o problema quando a zebra pintada de preto reclama da zebra pintada de branco. Materia tendenciosa que infelizmente nao agrega, não une e nao cumpre o que deveria, o melhor é que homens e mulheres sempre se conpletam e nunca sera diferente. Zebra pintada de preto e zebra pintada de branco geram zebra preto e branco.