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Vestígios de satélites Starlink em uma imagem de telescópio chileno, nov. de 2019. De NSF.

Introdução

Desde 2019, com o lançamento do primeiro satélite Starlink, a comunidade de astronomia internacional tomou conhecimento que estes satélites prejudicam a astronomia e a radioastronomia. Mas foi em março deste ano, que o primeiro artigo científico a respeito foi publicado na revista europeia Astronomy & Astrophisics.

Basicamente, o estudo indica que os satélites de Elon Musk estão emitindo radiações em frequências prejudiciais para o estudo de corpos celestes. Uma vez que essas frequências, são preservadas, ou deveriam ser, para os cientistas realizarem suas pesquisas.

O que é Radioastronomia?

“Tá bom então, a primeira coisa é tudo é radioastronomia.

Por que? porque todas as informações elas são transmitidas por ondas eletromagnéticas, então a onda eletromagnética, ela é produzida pelo calor pelo som […] por qualquer emanação que algum fenômeno da natureza faça,né? Então o que acontece é que tem uma uma pequena quantidade de ondas eletromagnéticas que podem ser captadas pelos nossos olhos. Por causa disso, a gente chama isso de ondas visíveis, então a gente acaba achando, interpretando a natureza como sendo o visível, o que há de mais importante […] e é justamente o contrário, o visível, ele é uma coisa muito estreita muito pequena, por isso que tem animais na natureza que enxergam muitas vezes radiações que os seres humanos não enxergam. Então são diferentes adaptações que os olhos tiveram ao longo da evolução. […] A onda de rádio que a gente conhece justamente pela comunicação via rádio com vários aparelhos, […] consegue ser utilizado para comunicações de longa distância porque é um tipo de onda que não interage com os obstáculos do caminho. Inclusive a gente usa rádio para se comunicar com o satélites com sondas espaciais, e se consegue informações de outros astros na nossa galáxia e fora da nossa galáxia por ondas de rádio justamente porque ela sofrem pouquíssima influência do caminho, elas conseguem atravessar vários obstáculos, é o que a gente chama de ondas longas. Então, elas conseguem atravessar grandes obstáculos, e com isso o rádio acabou dando nome para radioastronomia”

– Diz o Dr. Paulo Sobreira, especialista em Astronomia e professor no planetário da UFG, em entrevista para o LabNotícias.

Starlink

“O Starlink é um projeto de desenvolvimento de constelações de satélites em andamento pela empresa americana SpaceX, para desenvolver uma plataforma de satélites de baixo custo e alto desempenho e transceptores terrestres de clientes necessários para implementar um novo sistema de comunicação baseado na internet.” Fonte: Wikipedia

O gráfico abaixo ilustra os dados sobre os Starlinks coletados da pesquisa:

A situação no momento presente:

Hoje em dia, a órbita terrestre possui 5 mil satélites somente da Starlink, e cerca de 1100 deles estão inativos por algum motivo. Além disso, diversas outras empresas passaram a investir no ramo devido à falta fiscalização e de políticas punitivas. OneWeb e Amazon já contam com seus satélites, por exemplo.

Todos esses dados são públicos, disponibilizados pela pela organização Space-Track. Inclusive, eles são perfeitamente visualizáveis. Basta estar conectado à internet e por meio dela acessar o site satellitemap.space, que monitora os satélites em tempo real de maneira independente.

Constelação de satélites Starlink às 20:00 horas, 11 de agosto. Disponível em satellitemap.space.

Mais problemas

Outro ponto negativo da má implementação desses satélite são os riscos “brancos” significativos produzidos nas fotografias dos mais potentes telescópios da humanidade. Isso porque os “starlinks”, estavam refletindo a luz solar nas imagens capturadas, comprometendo a análise dos corpos celestes.

Rastros de satélite Starlink capturado na França. De Christophe Lehenaff, Getty Images

Apesar da corporação espacial ter retratado-se, e pintado os satélites de preto alegando “redução da reflexão”, a comunidade científica não se deu por satisfeita, pois a atitude foi considerada apenas uma medida paliativa, e até ineficaz.

Ao citar isso em entrevista com Dr. Paulo Sobreira, um especialista na área, ele afirmou o seguinte:

“Bom, eu estava na reunião. Ou melhor, nas duas reuniões que eu participei da União Astronômica Internacional, especificamente na comissão que estava discutindo isso. E das duas ocasiões foi convidado uma pessoa da da SpaceX,e que ela deu esse tipo de resposta que você tá falando aí. Bom como a reunião foi online, eu não pude ver a reação das pessoas. A minha foi, e ainda é de indignação, é de ser tratado como um programa menor [o problema] e que não está levando-o a sério. A reclamação tem alguma boa vontade não é não é de todo ruim. Existe alguma boa vontade. Mas não resolve o problema, porque esse satélite continua tendo calor e ele continua emitindo radiação infravermelha e continua aparecendo no telescópio. Então, ele vai resolver um problema que são a questão da luz, mas não vai resolver o calor dele e não vai resolver também a poluição nas ondas de rádio para radioastronomia. Com relação à radioastronomia. Não houve nenhum pronunciamento. Mas não existe nem porque deles interferirem nessas ondas de rádio […] Mas eu vou falar uma coisa também, [..] é que também nos foi dada a seguinte solução: DE que a spacex apresenta Quais são as órbitas dos satélites dia a dia, Para que os astrônomos possam no seu momento de preparação de observação saber para onde que eles não podem apontar. [..] Então para que eles possam ter um pedacinho do céu onde eles podem apontar; Só que não é assim que astronomia funciona! quando um astrônomo pede tempo de uso de um telescópio, ele espera meses, e às vezes até anos, para conseguir uma noite. Inclusive, se ficar nublado, chover, sei lá, se cair neve, perdeu [análise perdida]. -Diz Sobreira.

Na astronomia, não há remanejamento, ou reposição de noites perdidas, então um único dia de análises pode comprometer todo o planejamento anual do pesquisador da área. Ademais, as medidas protetivas para os céus são frágeis, e os governos flexíveis e permissivos, uma vez que lançar satélites na órbita é extremamente lucrativo, segundo Dr.Paulo.

A respeito dos satélites, é possível vê-los a olho nu. Durante a noite, tanto no campo como na cidade e em alguns casos, durante o dia. Ironicamente, a Via Láctea (galáxia da qual o sistema solar faz parte) e outros corpos menos luminosos, não são mais visíveis nos céus da capital goiana.

A importância do estudo dos astros.

Ao perguntar-se à Sobreira sobre a importância da astronomia para nossa sociedade, obteu-se a seguinte resposta:

“Aparentemente, é… Só interessa para os astrônomos o que está se observando no céu, né? As pessoas não vem praticidade no dia a dia delas, né? É… Então vamos lá, é um dos pontos que Inclusive a NASA se se manifestou: é que na NASA existe um programa de monitoramento do céu para a busca de asteroides potencialmente perigosos, que tem alguma chance de colidir com a superfície da terra. E dependendo do tamanho do asteroide, ele pode causar uma extinção da humanidade, e de toda a vida na superfície da Terra. Só que existem meios atualmente, de se desviar ou destruir um asteroide, e um cometa potencialmente perigosos. Isso já foi testado, existe foguetes com esse potencial, existem técnicas para se fazer isso, só que a gente precisa de tempo.”

Portanto, os próprios riscos produzidos pelos satélites podem prejudicar a identificação desses asteroides, potencialmente perigosos. Sendo necessário ainda, múltiplas fotografias para poder-se determinar sua rota, velocidade, entre outras coisas.

Parece tema de filme, e na verdade é, Don’t Look Up está aí provando. Mas também é um potencial perigo atual. Deve-se zelar da órbita da Terra para o espaço humano, não ficar sem espaço.

One thought on “Segundo artigo científico, satélites da Starlink ainda prejudicam trabalhos astronômicos.”

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