Praça Cívica completa mais uma década: veja sobre a história e destaques atuais do local

Goiânia faz 90 anos e, com ela, a Praça Cívica. Na reportagem, abordamos sua importância para a vida do cidadão goiano.
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A construção

A praça foi construída para marcar o nascimento da nova capital do estado, título que antes pertencia à Cidade de Goiás. O plano urbanístico foi feito por Atílio Corrêa Lima, que planejou o local para ficar na parte mais alta da cidade, de forma que ela inteira pudesse ser vista da praça (claro que, atualmente, o crescimento urbano e a quantidade de estruturas impede essa visualização), representando ponto estratégico para o Palácio das Esmeraldas, que viria a ser a residência do governador do estado. Entretanto, Corrêa Lima pensou além: planejou a cidade de forma que as principais avenidas (Goiás, Araguaia e Tocantins) levassem à praça.

Plano Urbanístico de Goiânia, por Atílio Corrêa Lima. Foto: Reprodução/Câmara Municipal de Goiânia

Em entrevista ao Lab Notícias, a arquiteta Marília Mota Rezende afirma que, apesar das ideias iniciais serem de Atílio, a construção de fato da praça contou com o planejamento de outros profissionais.

O formato arredondado que vemos hoje na praça é, na verdade, influência de Armando Augusto de Godoy, o mesmo responsável pela projeção do Setor Sul. Então, no meio do processo de construção, houveram mudanças que fizeram a praça ser como é atualmente.

diz Marília.

Ainda sobre o formato da praça, existem especulações sobre possíveis significados da silhueta formada por ela em conjunto ao resto da cidade: enquanto alguns afirmam ser Nossa Senhora Aparecida, outros acreditam ser um compasso, símbolo da Maçonaria, organização da qual Pedro Ludovico Teixeira, responsável pela mudança de capital, fazia parte. Entretanto, não há confirmação concreta de nenhuma das hipóteses.

Montagem comparando o formato da praça com o símbolo maçônico. Foto: Reprodução/Jornal Opção

As obras do local foram finalizadas em 1933, ano do lançamento da Pedra Fundamental da cidade. Por isso, a Praça Cívica é considerada o marco inicial da cidade de Goiânia.

A história

Após a Revolução de 30, Getúlio Vargas assumiu a presidência do Brasil e responsabilizou-se em indicar alguém para governar cada estado. Para Goiás, optou pelo médico Pedro Ludovico Teixeira, que lutou no evento histórico anteriormente citado. A capital era o que hoje chamamos de Cidade de Goiás, e o local se destacava pela quantidade de ouro. Entretanto, uma hora o ouro acabou, e cidades que investiram na agropecuária passaram a ser mais relevante. Pensando nisso, e no vazio demográfico que havia na Região Centro-Oeste do país, Pedro Ludovico adotou o objetivo de transferência da capital assim que assumiu o poder.

De acordo com o site da Prefeitura de Goiânia, o então governador instituiu uma comissão, liderada por Dom Emanuel Gomes de Oliveira, que escolheu o melhor local para construção da nova capital. 5 meses depois, foi lançada a pedra fundamental, no local onde é a Praça Cívica, planejada para ser o centro administrativo de Goiânia.

Prédios importantes para o administrativo foram os primeiros a serem construídos. Em 1967, no entanto, a praça recebeu sua primeira escultura de livre expressão: o Monumento às Três Raças, oficialmente Monumento à Goiânia, foi criado por Neusa Moraes, com o objetivo de homenagear os trabalhadores responsáveis pela construção da capital e evidenciar sua diversidade. A escultura é, até hoje, considerada a obra mais icônica da praça.

Modelo que inspirou o monumento. Foto: Reprodução/Goiânia do Passado

Por sua ligação direta com o nascimento de Goiânia e por abrigar diversos outros “pedaços” da história goiana, como o primeiro museu, em 2003 a Praça Cívica foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), tornando-se oficialmente um patrimônio histórico.

Para mais informações acerca do processo de tombamento, leia aqui a matéria da repórter Rafaela Nogueira.

A história da praça também foi marcada, entre outras coisas, por luta e resistência. Um dos marcos é o assassinato do jornalista Haroldo Gurgel: Haroldo publicava críticas sobre o governo da cidade e do estado de Goiás, o que causou insatisfação entre os mais poderosos, que ordenaram sua morte. O jornalista foi assassinado em plena luz do dia, nas proximidades da Praça Cívica, e o ocorrido causou revolta nos cidadãos. Sobre o caso, o professor e historiador Rildo Bento afirma, em entrevista ao Lab Notícias:

Esse crime comoveu a cidade. Foi um absurdo que acabou ligando, mais uma vez, ao passado coronelístico que o estado tem, de calar as vozes discordantes.

Os protestantes carregaram o corpo de Haroldo para a frente do Palácio das Esmeraldas, local onde os assassinos buscaram abrigo e de onde saiu a ordem para matar Haroldo.

Manchete do jornal Voz Operária sobre o acontecimento. Foto: Reprodução/DocPro

A Praça hoje

A Praça Cívica oferece ao cidadão goiano muito mais do que apenas lembranças históricas. O marco inicial da construção de Goiânia também é um forte centro cultural e afetivo, pois lá se localizam o Museu da Imagem e do Som (MIS), o Cine Cultura e o Museu Zoroastro Artiaga, o primeiríssimo museu da cidade.

Além disso, por sua localização centralizada e grandes áreas abertas, a Praça Cívica sedia diversos eventos políticos, como protestos, e de entretenimento, como feiras e blocos de carnaval. O estudante universitário Carlos Eduardo afirma, em entrevista para a reportagem, que o local remete à sua infância, quando visitava anualmente as luzes de natal acompanhado de sua vó.

Por outro lado, o local permanece fiel a sua criação como centro administrativo e se faz útil atualmente para o cotidiano de muitas pessoas: para questões de documentação, a unidade central do Vapt Vupt está ao dispor. Já para assuntos de dinheiro, há uma sede da Caixa Econômica Federal. Esses e outros órgãos presentes facilitam diversos processos burocráticos da vida na atualidade.

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