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Nascida no interior de Goiás em Campinorte, Japa é atleta sub-20 do Vila Nova e apaixonada por futebol desde pequena. Hoje vivencia uma fase única de sua vida, atuando em grande clube do Estado. Porém, sua trajetória até a base do Tigrão não sucedeu de maneira fácil.
Infância e dificuldades
Vindo de uma família humilde, Japa desde seus oito anos de idade joga futebol e sempre almejou ser jogadora. Contudo, ela teve que fazer por conta própria sua caminhada em busca do seu sonho.
Hoje, a jovem de 16 anos, conta como foi o início de sua trajetória e destaca as dificuldades sofridas por falta de apoio e de condição financeira:
“Desde pequena eu tive que me virar sozinha, ninguém tinha confiança em mim. Quando uma criança fala que quer ser jogadora e ela ainda não tem condição, ninguém coloca fé nisso. Sendo que minha primeira chuteira eu que comprei. Trabalhei de babá por três meses para comprar uma chuteira de 60 reais.” Relatou Japa.
Com 12 anos, a jovem atleta saiu de casa para jogar futebol. Sozinha, ela foi atuar em clubes do interior e sempre trabalhava para pagar sua acomodação ou buscava algum parente conhecido nas redondezas.
“Eu sempre fui sozinha, sai de casa meio que sem rumo, fui jogar nos interiores perto de casa e passei por vários clubes em Goiás. Eu enfrentei muita coisa, como eu não tinha muito dinheiro, trocava dinheiro de lanche e almoço por causa do transporte para ir treinar”.
Em seus percursos, Japa relata que já sofreu outras inúmeras dificuldades, frio e fome em rodoviárias por exemplo. A jogadora lidou com dores e sofrimentos sem companhia. Idas ao médicos, enfermidades, aniversários, festas de fim de ano, lamentos e choros, sempre sozinha
Mesmo antes de sair de casa, Japa enfrentava adversidades no seu ambiente familiar. Além da falta de apoio e condição financeira instável, a jovem atleta era proibida de jogar futebol por seus pais e tinha que sair escondida para jogar. Muitas vezes, ela era punida por praticar o esporte pelo pai, que a batia no decorrer das ocasiões.
“Em casa tinha muita briga, muita discussão, o futebol me fazia esquecer dos problemas, me dava muita paz.” Comentou Japa.
Futebol e Fuga da Realidade
Japa sempre gostou de futebol desde pequena, jogava e também assistia. Seu interesse surgiu quando ia com o irmão para os jogos dele. Ela começou a admirar o esporte e a praticá-lo, lhe trazia uma sensação de paz e principalmente um subterfúgio das dificuldades enfrentadas.
“O futebol me tirava da realidade, das coisas ruins e tóxicas do mundo. Meu pai era alcoólatra e apanhava muito, eu jogava para fugir dessa realidade e isso me fazia muito bem”.
A jovem atleta também teve que se adaptar aos obstáculos que se encontravam em seu caminho. Sua cidade natal não possuía clubes de futebol femininos e muitos outros times que atuou também não.
Em todas as equipes masculinas que jogou, ela sempre foi a única menina. Porém, isso nunca foi um problema para ela, isso a motivava e todos seus companheiros a respeitavam.
“Eu sempre amei muito jogar bola com meninos, todos me respeitavam. Eu era firme igual eles, por isso que eles gostavam de jogar ao meu lado. Todos os times que joguei sempre fui muito bem recebida, quem me menosprezava eram os adversários. Já fui xingada, atacada por pedra, pedaço de pau, várias coisas”.
Objetivos
Chegar no Vila Nova foi uma conquista muito grande para Japa, depois de muita luta e todas as dificuldades enfrentadas. A jovem busca se profissionalizar, sonha em jogar fora do país e também na seleção brasileira.
Porém, seu principal objetivo vai além de sua carreira no futebol, Japa quer ajudar pessoas fora do futebol, amparar quem sofre com condições de vida e financeiras precárias. Sua motivação para seguir no esporte é dar uma vida melhor para sua família. Ela não se aquietou e busca continuar lutando contra os obstáculos para alcançar suas metas.
“Eu preciso mudar a história da minha família. Quando eu falava isso ninguém acreditava. Muitas pessoas zombaram da minha mãe falando que eu não viraria nada. Depois que fiquei mais velha, a minha mãe começou a me apoiar e acreditar”.
A jogadora quer ser uma motivação para outras meninas como ela, incentivar todas as pessoas que buscam o sonho de jogar futebol. Ela ressalta o lado positivo das dificuldades enfrentadas, como um incentivo para não desistir:
“Eu não quero ser a melhor, eu quero ser aquela que incentiva, olhar para as pessoas e ver que elas torcem por mim é a melhor coisa que tem nesse planeta. Não foi fácil chegar onde estou hoje, aqui no Vila. Mas hoje eu agradeço muito por ninguém ter acreditado em mim no começo, porque se fosse fácil demais eu acho que teria desistido. Foram essas dificuldades que me fizeram chegar onde estou hoje, forte e firme com garra e determinação para ir mais além.”
“Com oito anos de idade eu falava para minha mãe que eu iria mudar a história da nossa família. Olha eu aqui mãe, realizei o que sempre sonhei, sua filha hoje é jogadora do Vila Nova, estou onde eu sempre sonhei desde de ‘molequinha’. Eu não luto só por mim, mas sim pelas pessoas que torcem pelo meu sucesso e me apoiam mesmo de longe. Amo minha mãe e meus irmãos. São o motivo de eu estar aqui, a saudade é dolorosa mas eles irão me ver brilhando por aí ainda.” Conclui a jovem Japa.
[…] Conheça Japa: Jogadora do Vila Nova que viveu uma história de superação (LabNotícias, 2023) […]