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Durante os últimos anos, crescentes problemas vêm ameaçando o jornalismo em escala mundial e assustando seus profissionais. Programas de inteligências artificiais (IA’s), descrédito à mídia e constantes ameaças democráticas contribuíram para um cenário preocupante para a prática, que apesar de ser ferramenta necessária para a consolidação democrática, muitas vezes vista como Quarto Poder, podem contribuir com uma crise no segmento.
Partindo disso, o Instituto Reuters, filiado à Universidade de Oxford, divulgou a previsão de especialistas para o novo ano jornalístico. Feita por Nic Newman, o resultado foi colhido depois de entrevistas com 314 novos líderes de 56 países, 76 editores chefes, 65 CEOs e gerentes, e 53 chefes de plataformas digitais e inovação.
A infoxicação é um dos principais desafios do jornalismo atual. O termo alude à ideia de uma superlotação de informações recebidas pelo usuário, uma carga significativamente maior do que é capaz de ser absorvido, causando uma exaustão extrema. Isso faz com que ele cada vez menos tenha o desejo de consumir notícias.
O avanço descontrolado das IA’s também já é visto como um futuro impacto negativo na esfera informativa global, aliando-se com as instabilidades políticas e econômicas ocasionadas pelos malefícios do capitalismo e as guerras atuais. Isso, por sua vez, será determinante para uma menor credibilidade nos jornalistas, vistos cada vez mais como peças políticas e econômicas das nações.
Além das mudanças de conteúdo, a transmissão também será transformada, com a emergência de Experiências Generativas de Busca (SGE) e chatbots alimentados por IA para acesso mais rápido às informações, reflexos da “falta de tempo” numa sociedade acelerada. Essas alterações podem reduzir o tráfego para os sites de notícias, prejudicando ainda mais os resultados financeiros.
Como representantes midiáticos enxergam o próximo ano
Confiabilidade na indústria
- Apenas metade (47%) dos entrevistados, incluindo editores, CEOs e executivos digitais, expressam confiança nas perspectivas do jornalismo para o próximo ano.
- Cerca de 12% manifestam baixa confiança devido a preocupações com custos crescentes, queda na receita publicitária e desaceleração no crescimento das assinaturas, além de aumento do assédio legal e físico.
Tráfego nas mídias digitais
- Cerca de 63% dos entrevistados estão preocupados com uma queda acentuada no tráfego de referência de sites de mídia social.
- Dados indicam uma redução significativa no tráfego para sites de notícias proveniente do Facebook (-48%) e X/Twitter (-27%) em 2023.
- Como resposta, 77% planejam focar mais em canais diretos, 22% consideram cortar custos, e 20% estão experimentando com plataformas de terceiros.
Preferências das plataformas
- Há um aumento no interesse por WhatsApp (+61%) e Instagram (+39%) após a decisão da Meta de abrir canais de transmissão para editores.
- A preferência por redes de vídeo como TikTok (+55%) e YouTube (+44%) permanece forte, enquanto o Google Discover se torna uma fonte mais importante, mas volátil, de referência.
- O sentimento em relação ao Facebook (-38%) e X/Twitter (-39%) piorou.
Estratégias de conteúdo
- Editores planejam criar mais vídeos (+64%), newsletters (+52%) e podcasts (+47%), enquanto mantêm o mesmo número de artigos de notícias.
- Cerca de 54% concentram-se mais em maximizar a atenção do que em respeitar o tempo do público (37%).
Desafios da Infoxicação
- Preocupações com evasão seletiva de notícias e fadiga de notícias são destacadas.
- Estratégias consideradas importantes incluem melhor explicação de histórias complexas (67%), abordagens construtivas (44%) e histórias humanas inspiradoras (43%).
Modelo de negócios
- Editores continuam investindo em assinaturas/membros (80%) como fonte de receita importante.
- Apesar das dificuldades econômicas, a maioria relata um leve aumento ou estabilidade nas assinaturas pagas no último ano.
IA e tecnologia
- O uso de IA para automação de notícias nos bastidores (56%) é considerado a aplicação mais importante pelos entrevistados.
- Há ambivalência sobre o uso de IA na criação de conteúdo, visto como o maior risco reputacional por mais da metade dos respondentes.
Tecnologias emergentes
- Interfaces experimentais como óculos AR/VR, alfinetes e dispositivos vestíveis ganharão destaque.
- Dispositivos ativados por voz, como fones de ouvido e alto-falantes inteligentes, atualizados com tecnologias de IA, são vistos como a opção mais provável (41%) para substituir ou complementar smartphones a médio prazo.
Alguns dos pontos, como o crescente uso do WhatsApp como distribuidor de notícias, trazem desafios pela frente, como os vistos durantes as últimas eleições presidenciais no Brasil.
Entre os anos de 2018 a 2022, a ferramenta foi palco principal para a disseminação de fake news sobre os candidatos à presidência. Hoje, essa prática foi minimizada, devido a estratégias colaborativas entre Estado e o Grupo Meta, com a implantação de medidas de segurança que dificultam a circulação de conteúdos falsos. O problema, porém, migrou para outros aplicativos semelhantes, como o Telegram, que não chegou a acordos com o governo federal.
Assim, outras medidas de transmissão jornalística foram sugeridas pelos entrevistados.
Outros possíveis desenvolvimentos em 2024?
- Redução na Produção Diária de Jornais Impressos: Como continuação das previsões do ano passado, é esperado que mais jornais interrompam a produção diária impressa em 2024 devido ao aumento nos custos de impressão e enfraquecimento das redes de distribuição, alcançando em alguns casos um ponto crítico.
- Crescente Tendência para Pacotes de Conteúdo Digital: Grandes editoras buscarão consolidar clientes existentes ao oferecer pacotes que incluem não apenas notícias digitais, mas também conteúdo não relacionado a notícias, como jogos, podcasts, revistas, livros e até mesmo conteúdo de outras editoras.
- Plataformas de Tecnologia Adotando Modelos de Negócios Pagos: Grandes empresas de tecnologia, como X, Meta e TikTok, intensificarão a adoção de modelos de negócios pagos para reduzir a dependência da publicidade. Serviços premium, incluindo opções sem anúncios e amigáveis à privacidade, serão oferecidos.
- Ascensão de Bots de IA e Assistentes Pessoais: Os bots de IA e assistentes pessoais ganharão mais destaque em 2024, especialmente no fornecimento de notícias e esportes atualizados. O aumento dessas tecnologias levantará questões existenciais sobre propriedade intelectual, especialmente quando muitos desses bots são impulsionados por personalidades ou jornalistas, com avanços nas tecnologias de clonagem.
- Conflitos entre Defensores e Críticos da IA Continuarão: As disputas entre os “AI Doomers” (pessimistas em relação à IA) e os “AI Accelerationists” (otimistas em relação à IA) persistirão em 2024, resultando em declarações de alto perfil sobre os riscos para a humanidade e mudanças nas salas de reuniões. Os “Accelerationists” continuarão na liderança à medida que os governos enfrentam desafios para entender e controlar a tecnologia.
- Expectativa de Mudanças Drásticas e Comunicação Direta em 2024: Após a previsão correta do ano anterior sobre Elon Musk deixando o cargo de CEO do Twitter, antecipa-se mais comunicação direta e mudanças acentuadas de direção em 2024, com eventos como grandes cortes de empregos, uma mudança de nome (X) e acusações de chantagem por parte de Musk contra anunciantes.