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Karla Sofía Gascón Foto: Neue Visionen Filmverleih Fiol

Emilia Perez é um filme musical que foi escrito e dirigido em 2024 pelo francês Jacques Audiard e, desde seu lançamento, vem dividindo opiniões. Há quem goste, mas também há quem odeie. Mas acredite: essa não é uma balança em equilíbrio. O lado que pesa mais é o da crítica. Desde que está em cartaz, milhares de espectadores vêm se posicionando de forma crítica às várias representações estereotipadas presentes no longa. E não é para menos. O que podemos esperar de um filme que se diz mexicano, mas que, em sua maioria, teve cenas gravadas na França? Além disso, o diretor fez declarações xenofóbicas, afirmando que não era necessário estudar a cultura mexicana para fazer um filme sobre o país. Para piorar, uma de suas piores falas envolveu a língua espanhola, quando afirmou que o espanhol é uma “língua de imigrantes pobres”.

Dentre as críticas à maneira rasa como a cultura mexicana foi retratada, evidenciando a xenofobia e o racismo escancarado, o filme, apesar de trazer representatividade trans, se mostrou totalmente transfóbico. Em vários momentos, o longa-metragem reforça estereótipos, como o de que pessoas trans são desesperadas por fazer cirurgias plásticas, principalmente as de redesignação sexual. Isso fica explicitamente claro em uma cena do musical, onde cantam que “vaginoplastia deixa homens felizes”. Essas ideias reafirmam pensamentos ultrapassados de que pessoas trans precisam dessa cirurgia para terem sua identidade validada.

Além dos problemas citados acima, o filme, já queimado por muitos, não foi bem recebido no México. Mas alguém achou que seria? A produção, totalmente rasa e com conteúdos vazios, traz consigo atores que não convenceram tanto assim.

E falando em atores…

A atriz Karla Sofía Gascón recentemente foi protagonista de uma quantidade exagerada de polêmicas, que, por sua vez, acabaram lançando uma sombra na campanha de Emilia Pérez na caminhada para o Oscar de 2025.

Tudo aconteceu no dia 28 de janeiro, quando um jornal publicou uma entrevista em que Karla afirmou que “pessoas no ambiente de Fernanda Torres” (protagonista do filme Ainda Estou Aqui e rival na categoria) falavam mal de seu trabalho e do filme Emilia Pérez. Logo após as declarações da atriz, o caos se instalou nas redes sociais. Brasileiros, que apesar de suas desavenças têm em comum o senso de justiça e o desejo de vitória, tomaram para si a questão e decidiram agir, denunciando à Academia que Karla havia infringido as regras de campanha da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood para o Oscar. O regulamento de 2025 estabelece que indivíduos diretamente ligados a um filme elegível “não podem compartilhar informações enganosas ou falsas sobre um filme, performance ou conquista”. Apesar dos esforços de uma nação, a Academia não viu as declarações da atriz como desrespeito às regras. Após esses desdobramentos, Karla veio a público pedir desculpas.

No mesmo dia em que se desculpou, uma outra faceta de Karla veio à tona. Posts antigos da atriz começaram a viralizar na rede social X (antigo Twitter). A jornalista canadense Sarah Hagi resgatou publicações de Karla, datadas de 2020 e 2021, com teor racista e xenofóbico.

Em seus posts, Karla Sofía Gascón, com seus delírios de grandeza, mostrou que não exclui ninguém, uma vez que parece odiar todos igualmente, não poupando nem mesmo colegas de elenco. Ainda que tenha se desculpado mais de uma vez e deletado sua conta no X, o estrago já estava feito. O escândalo se tornou um grande obstáculo para Emilia Pérez no Oscar.

Diante do show de horrores protagonizado pela atriz fora das telonas, ela foi oficialmente desvinculada da campanha de Emilia Pérez para o Oscar. Segundo o The Hollywood Reporter, Karla foi retirada de e-mails e anúncios relacionados à promoção do filme para premiações e não participará de eventos importantes em Los Angeles. Como era de se esperar, ninguém quer associar seu nome ou trabalho a alguém tão manchado. Faltou bom senso da parte da atriz, e agora o preço que ela está pagando é alto — e, para muitos, merecido.

No fim das contas, o julgamento de Karla já está em andamento, e não é dentro de uma sala de audiência, mas sim no tribunal da opinião pública. Sua imagem, que antes estava atrelada a boas causas e à representatividade trans, agora está completamente manchada e abalada por seus próprios atos. Uma coisa é certa, a lição que nos fica clara é: internet não é terra sem lei, e que na era de cancelamento em que o mundo se encontra hoje tudo pode ser perdoado, exceto o que fere a moral coletiva. Karla pode ter perdido não só a chance de brilhar no Oscar, mas também o respeito do público. 

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