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No último dia 10 de agosto, o Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior Indígena da Universidade Federal de Goiás (NTFSI/UFG) promoveu uma passeata pelo Campus Samambaia em uma manifestação pacífica, que tinha como objetivo a reivindicação dos direitos dos estudantes indígenas e do próprio núcleo de Estudos Interculturais junto à Reitoria da universidade.

Sendo uma das primeiras políticas de ação afirmativa na educação superior para os povos autóctones no Brasil, o curso de licenciatura em Educação Intercultural da UFG existe desde 2006, sendo em 2014 inaugurado o prédio que comporta esse curso junto ao NTFSI. Ao todo, são atendidos trinta povos indígenas dos estados do Maranhão, Tocantins, Mato Grosso, Minas Gerais e do interior de Goiás. Esse atendimento costuma acontecer presencialmente na universidade durante os meses de janeiro, fevereiro e julho.

Altos custos e dificuldades de permanência

A manifestação se deu devido às dificuldades de permanência desses discentes na universidade, agravadas pela pandemia do COVID-19, considerando a falta de apoio financeiro, elevados preços de aluguel em Goiânia, assim como questões de transporte e locomoção da aldeia até a UFG.

Segundo relatado por Luciano Cardenes, doutor em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas, professor do núcleo Núcleo Takinahakỹ e um dos principais líderes da manifestação, alguns alunos chegam a gastar cerca de três mil reais com o deslocamento da aldeia até a cidade de Goiás. “Há caso de estudantes que para sair do seu território, precisam fretar algum tipo de embarcação e pagar o combustível. Na mesma viagem, esses estudantes pegam ônibus ou fretam carro lotação para chegar na cidade mais próxima, onde conseguem pegar um ônibus interestadual até a cidade de Goiânia. Estes estudantes relataram que há kitnets cobrando o valor de mil reais por aluno para o período de um mês”, relata Cardenes.

Universidade é território indígena

Além de exigir maior apoio financeiro e estrutural para os discentes do curso de Estudos Interculturais, o Núcleo Takinahakỹ também cobra a sua autonomia enquanto unidade acadêmica não mais vinculada à Faculdade de Letras. Pensando nessas e em outras reivindicações, foi elaborado o documento “Universidade é território indígena” entregue para a Reitoria em uma reunião feita pelos Conselheiros do Núcleo em consonância com os discentes, em que constam as seguintes requisições pensando no bem-estar e permanência dos alunos na universidade:

  • Garantia da alimentação gratuita para todos os matriculados na etapa UFG;
  • Construção da casa do estudante indígena com transporte para a UFG;
  • Inclusão das professoras indígenas no Programa Bolsa Canguru;
  • Autonomia do Núcleo Takinahaky e sua transformação em uma unidade, faculdade ou instituto de educação intercultural;
  • Servidores efetivos para atender as demandas no Núcleo Takinahaky;
  • Colação de grau com direito a rituais, pinturas e vestimentas tradicionais;
  • Criação do mestrado em educação intercultural.

Apesar de não publicar uma nota, no ato de recebimento da carta elaborada pelo Núcleo, a Reitoria da UFG se comprometeu a estudar as solicitações, que envolvem principalmente medidas a serem adotadas no médio a longo prazo.

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