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FELIPE DE JESUS CUSTODIO
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Letícia Brito é jornalista formada pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e possui sólida experiência em televisão, jornalismo científico e cobertura política. Iniciou sua trajetória na TV Universitária de Uberlândia, onde atuou como produtora, repórter, apresentadora e editora-chefe de telejornais ao vivo. Atualmente, é repórter na TV Anhanguera, afiliada da Globo em Goiás. Paralelamente, desenvolve projetos autorais de divulgação científica, como o Doses de Física, série em parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp), da qual é criadora, roteirista e apresentadora.

FC: Como se iniciou sua trajetória no jornalismo?

LB:Na fase do ensino médio de decidir que graduação fazer, eu pensava em jornalismo e psicologia. Acabei indo para o curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em 2014. No início do curso, até pensei em desistir, mudar para Direito, mas no terceiro semestre, quando comecei a fazer o jornal impresso laboratório, o jornalismo me ganhou porque eu vi como se faz na prática. Tomei gosto pela coisa. Comecei fazendo estágio em Uberlândia, fui contratada quando me formei. Depois de alguns meses vim para Goiás.

FC: Quais os principais desafios do jornalismo atualmente?

LB: São vários, mas ando pensando muito em um específico: formato. As redes sociais deixaram tudo mais curto. Ou, se não é tão curto, é nichado, é exatamente o que quem procurou aquilo quer assistir – pense nos canais de YouTube, por exemplo. Já o jornal fala de inúmeras coisas numa mesma edição. Acho também que, como as fontes de informação são muitas, as pessoas estão ficando cansadas. Por isso, eu tento pensar em formatos diferentes para minhas reportagens. Por exemplo, já fiz matéria estilo bate-papo, sem OFF (texto que repórter narra, coberto por imagens), só com sonoras (trechos de entrevistas).
Também tento ressaltar imagens que possam chamar atenção: o audiovisual é sensacional. E tento ser objetiva, mas não distante. Penso muito sobre isso.

FC: Como lidar com a sobrecarga de trabalho e a pressão por rapidez na apuração?

LB: Eu acredito muito que, quanto mais a gente faz algo, melhor a gente fica em fazer. Parece óbvio, mas é a maior verdade nesse contexto de lidar com a pressão. A necessidade de rapidez já me assustou mais, no começo. Só que, com o tempo, a gente entende que a sensação de correr contra o tempo dura algumas horas, e, a partir do momento em que vai ao ar, aquilo acaba. Sempre passa. Também percebi a importância de estar bem informada. Quando um assunto cai no meu colo e eu não sei nada sobre ele, eu acabo levando mais tempo para entendê-lo. Quando eu já tenho uma noção, porque assisti o jornal mais cedo ou li sobre aquilo, ajuda.

Mas não é fácil. Ter que apurar, checar, escrever, ligar para a fonte pra tentar uma entrevista que não está planejada ainda, conversar com editor de texto, tudo isso sem estourar o deadline, é difícil – especialmente se a pauta é complexa. A gente precisa olhar para si mesmo com cuidado. No meu caso, não viver só na rotina do trabalho é essencial.
Ter atividades além do trabalho (muito) corrido de um repórter é importante. Isso ajuda a manter a saúde mental bem – até para fazer um bom trabalho.
Eu, por exemplo, resolvi voltar a fazer aulas de ballet. Tinha parado há uns 15 anos e voltei agora. Foi a melhor coisa que fiz!

FC: Existe algum tipo de pressão (econômica, política ou social) que afeta a liberdade de apuração?

LB: Acho que, em geral, as pessoas que acreditam que exista essa pressão imaginam que seja uma “super pressão”: como se cada matéria feita fosse cuidadosamente analisada, como se o repórter saísse da redação com mil orientações, quase uma censura. E não, não é assim. Longe disso. Por outro lado, veículos de comunicação são empresas, têm regras e diretrizes, têm interesses econômicos. A grande questão é entender o limite. Na TV Anhanguera, empresa onde trabalho hoje, eu vejo esse limite muito bem definido: o jornalismo é feito – na essência – para denunciar o que está errado. E eu percebo isso no meu trabalho, no dos meus colegas e na postura da minha chefia. Mas não é assim em todo lugar. Anos atrás, eu fui demitida de um outro veículo de comunicação, um veículo bem menor, depois de dizer do meu interesse de ter independência nas perguntas que eu iria formular, do meu interesse de fazer questionamentos mais incisivos. Poucos dias depois dessa conversa, me dispensaram sem muita explicação.

FC: Como as redes sociais impactaram a rotina e a credibilidade jornalística?

LB: Eu já comecei no jornalismo com as redes sociais consolidadas: me formei em 2018. Tem impacto em coisas cotidianas mesmo. Por exemplo, além de gravar o material da reportagem, eu gravo vídeos curtos para as redes sociais da emissora. Percebo também que a presença do repórter em redes sociais, com perfil próprio, é importante para manter Vinculo com a audiência. Claro que dentro do limite, já que aprendemos desde cedo, na faculdade, que jornalista não tem que aparecer mais que a notícia. Muitas pautas podem surgir do que vemos na internet, do que está sendo discutido nas redes sociais, por exemplo. E, repito, também vejo que o formato muda: a gente já não gosta tanto assim de assistir vídeos muito longos. Em geral, as pessoas gostam de coisas curtas, edição com cortes rápidos, roteiros mais objetivos. E eu acho importante que a TV aprenda com esse estilo. Nas minhas reportagens, eu sempre tento ficar atenta a isso.

Mas a essência do jornalismo em si, de trabalhar com apuração, questionamento, profissionalismo, continua a mesma. Sobre credibilidade, eu realmente acredito que as pessoas ainda pensam que o que aparece em um veículo de noticia profissional, um canal de TV por exemplo, é mais confiável do que boa parte do que chega pela internet sem uma fonte definida, Por uma questão até de estrutura, de quantidade de profissionais contratados “somente” com a missão de apurar, o jornalismo profissional é mais confiável. Claro que nem todo mundo tem esse pensamento, mas acredito que a maioria ainda tem.

FC: Com a desinformação crescendo, como o jornalista pode combater as fake news de forma eficiente?

LB: Fazendo o próprio trabalho bem feito. Sendo desconfiado. Não vivendo só de release de assessoria de imprensa (assessorias são essenciais, mas o jornalismo não pode se resumir a elas). Apurando e se dedicando, Saindo deste básico, acho que outro princípio chave do jornalismo também ajuda a combater fake news: falar, noticiar, de um jeito nítido. A informação falsa tem várias artimanhas para conquistar espaço: uma delas é ser direta e simples de ser entendida. Se o jornalismo “falar difícil”, a notícia falsa vai chegar mais longe mais facilmente. Claro que não se resume a isso, mas o jornalismo não pode se esquecer de que ele só existe se for compreendido.

FC: Que conselhos você daria para quem está começando na profissão?

LB: Assista muito jornal – ou ouça, ou leia, ou faça tudo isso. Para se inspirar, desenvolver seu estilo próprio, mas também para saber o que você não quer fazer. Desenvolva a habilidade de escutar, de verdade, seu entrevistado: você vai ver quanto aprendizado dá para tirar disso, quantas histórias vão acabar te emocionando e quanta informação a mais você tira ao escutar (informações que podem ser o “brilho” da sua reportagem ou o “exclusivo” na tela).

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