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Um estudo publicado pela USP (Universidade de São Paulo) em 2024 relacionou o consumo de alimentos ultraprocessados com um maior risco de desenvolvimento de sintomas depressivos. A equipe do Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde), acompanhou, desde 2020, quase 16 mil adultos sem histórico de depressão, e sua relação com a comida. A análise do estudo indicou um risco aumentado de 42% para quadros depressivos em pessoas que consomem quase dois quintos de alimentos ultraprocessados em suas dietas.

As pessoas que participaram da pesquisa informaram, através de questionários online aplicados semestralmente, os principais alimentos consumidos no dia anterior e seu estado de saúde. Dessa forma, foi possível traçar as possíveis ligações entre a dieta das pessoas e o humor. O estudo indicou que, em média, os alimentos ultraprocessados representam 20% da alimentação diária dos brasileiros. Assim, foi possível identificar que quem come de forma mais saudável consome, em média, 7% de ultraprocessados, enquanto o grupo oposto apresenta 40% em seu consumo.

Alimentos ultraprocessados são aqueles feitos a partir de ingredientes baratos extraídos de alimentos in natura que recebem aditivos como conservantes, saborizantes e aromatizantes. De acordo com a nutricionista Nayara Rios, esses alimentos são ricos em gordura, sódio, açúcar e também possuem muitos aditivos químicos, que são adicionados para que eles possam durar mais tempo nas prateleiras.

O estudo da USP chega à conclusão de que o humor de uma pessoa pode apresentar mudanças se ela consumir altas quantidades de ultraprocessados. A nutricionista Geovanna Barreto explica que, para o nosso organismo, existe um termo chamado “eixo intestino-cérebro”, que é uma ligação entre o sistema nervoso central com o intestino. “É frequente ouvirmos que o nosso intestino é o nosso segundo cérebro. Por estarem interligados, o intestino influencia no cérebro e o cérebro influencia no intestino. A microbiota intestinal tem a capacidade de influenciar positivamente e negativamente o nosso organismo”, afirma Geovanna.

Barreto continua explicando que “quando consumimos alimentos que podem prejudicar a nossa microbiota intestinal, como adoçantes artificiais, alimentos ricos em açúcar e gordura, o nosso cérebro recebe isso como um desequilíbrio, causando alterações no humor, nas emoções e nos comportamentos”. No entanto, Geovanna indica que é possível reduzir os riscos associados ao consumo de alimentos ultraprocessados através de uma dieta equilibrada e saudável.

No entanto, evitar a ingestão de alimentos ultraprocessados não é uma alternativa possível a todos os brasileiros, ao menos é o que indica o Relatório sobre o Estado da Insegurança Alimentar Mundial divulgado neste ano passado, que alerta para o número de pessoas sem condições de pagar por alimentos que atendam às diretrizes nutricionais mínimas. A partir da pesquisa, em 2020, o total de brasileiros incapazes de pagar por uma dieta saudável era de 42,1 milhões de pessoas, ou 19,8% da população nacional.

PANCs como alternativas para uma alimentação saudável

As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), são plantas que crescem de forma espontânea nos quintais de casas, terrenos baldios ou entre calçadas. Esses alimentos podem ser facilmente confundidos com ervas daninhas, mas quando consumidas, possuem alto poder nutritivo.

Além disso, as PANCs são boas opções para manter uma dieta saudável e balanceada, sem gastar muito. O MAPA indica que plantar PANCs em casa para consumo próprio é uma alternativa: “normalmente, elas possuem um crescimento espontâneo, exigem um cultivo simples, além de serem facilmente adaptáveis a diferentes ambientes”.

A nutricionista Raquel Assis indica o consumo de PANCs na dieta, pois “incluindo essas plantas na alimentação, conseguimos aumentar a diversidade nutricional do prato”. Além disso, Raquel afirma que essas plantas contam com antioxidantes, fibras e micronutrientes importantes, que podem prevenir a incidência de doenças cardiovasculares e outras enfermidades como anemia e câncer.

As PANCs podem ser uma ferramenta no alívio dos sintomas da depressão: Assis descreve que as propriedades antioxidantes e vitamina C presentes na Vinagreira, Ora-pro-nóbis e Peixinho da horta podem auxiliar na melhora do humor e resposta imunológica. “As antocianinas, por exemplo, com sua função neuroprotetora e anti inflamatória, auxiliam no cuidado com a saúde mental”, afirma a nutricionista.

Débora Santiago, chef de cozinha especialista em culinária com PANC’s, afirma que esses alimentos “têm um papel fundamental para a compreensão da nossa cultura, história e existência humana”. Débora também chama atenção para outro significado da sigla PANCs, que pode ser Plantas Alimentícias Não Colonizadas: “Elas são o passado, o presente e o futuro”, diz.

As receitas utilizando PANCs são muitas, e a criatividade na hora de pôr a mão na massa é livre. Santiago conta que um bolo comum de farinha de trigo quando acrescentado Ora-pro-nóbis e canela na massa, é uma boa opção. Também uma dica refrescante para acompanhar essa receita pode ser o suco de Vinagreira, feito com folhas de Vinagreira, água, limão e mel ou açúcar.

Receitas com PANCs

Receitas com PANCs

Arroz de cuxá
Arroz de cuxá

Ingredientes

  • Folhas de vinagreira
  • 1 cebola picada
  • Pimenta de cheiro a gosto
  • Gergelim a gosto
  • Azeite
  • 1 tomate picado
  • 1 pimentão picado
  • 150gr de camarão seco
  • 1/2 kg de arroz cozido

Modo de preparo

Coloque a vinagreira pra cozinhar até murchar, retire do fogo, escorra, e dê algumas batidas nela com a outra face da faca. Refogue todos os temperos em azeite, coloque o camarão seco, um pouco do gergelim e a vinagreira, mexendo sempre para incorporar ao refogado. Depois vá adicionando o arroz já cozido até ficar verde pela vinagreira.

Peixinho da Horta Frito
Peixinho da Horta Frito

Ingredientes

  • 300g de peixinho-da-horta (folhas e hastes)
  • 1 xícara de farinha de trigo (ou farinha de milho)
  • 1 ovo (or 1/2 xícara de leite, se preferir uma opção vegana)
  • Sal a gosto
  • Pimenta-do-reino a gosto
  • Óleo para fritar

Modo de preparo

Lave bem as folhas de peixinho da horta em água corrente para remover qualquer sujeira ou inseto. Em uma tigela, bata o ovo (ou misture a farinha com o leite) e tempere com sal e pimenta a gosto. Em um prato, coloque a farinha de trigo. Reserve. Passe as folhas na mistura de ovo (ou mistura de leite) e depois na farinha, garantindo que fiquem bem cobertas. Aqueça o óleo em uma frigideira grande em fume médio-alto. Quando o óleo estiver quente, adicione as folhas empanadas aos poucos, fritando até que fiquem douradas e crocantes (cerca de 2 a 3 minutos de cada lado). Retire do óleo e coloque em um prato forrado com papel toalha para escorrer o excesso de gordura.

Bolo de Ora-pro-nóbis
Bolo de Ora-pro-nóbis

Ingredientes

  • Massa
  • 2 xícaras de folhas de ora-pro-nóbis (bem lavadas e picadas)
  • 3 ovos
  • 1 xícara de açúcar (pode ser açúcar mascavo ou demerara)
  • 1 xícara de óleo (canola ou girassol)
  • 1 xícara de leite (ou leite vegetal)
  • 2 xícaras de farinha de trigo
  • 1 colher de sopa de fermento em pó
  • 1 pitada de sal
  • Canela em pó a gosto (opcional)
  • Cobertura (opcional)
  • Açúcar de confeiteiro para polvilhar
  • Coco ralado ou castanhas trituradas

Modo de preparo

Preaqueça o forno a 180 °C (350 °F). Em um liquidificador, bata os ovos, o açúcar, o óleo e leite até ficar homogêneo. Adicione as folhas de ora-pro-nóbis picadas e bata rapidamente, somente para misturá-las na massa. Em uma tigela grande, peneire a farinha de trigo, o fermento em pó, o sal e canela (se estiver usando). Misture bem. Despeje a mistura líquida do liquidificador sobre os ingredientes secos e misture com a colher de pau ou um fouet até ficar homogêneo (não misture demais). Unte uma forma com manteiga e farinha de trigo (ou use papel manteiga). Despeje a massa na forma e leve ao forno por cerca de 35-40 minutos, ou até que um palito inserido no meio do bolo saia limpo. Retire do forno e deixe esfriar um pouco antes de desenformar.

Créditos das fotos: Marcelo Ramalho/Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes.

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