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Relatórios publicados pela OMS e Abrelpe, mostram números exorbitantes relacionados ao período do pico da pandemia, entre 2020 e 2021, além de prejuízos ao meio ambiente
A pandemia de Covid-19 alterou completamente a rotina das pessoas: práticas que antes não eram tão frequentes, como usar máscara, álcool em gel e fazer a higiene de objetos, passaram a ser essencial para evitar a disseminação do vírus. Sendo assim, uma das principais mudanças foi o acréscimo do isolamento social, implementado como forma de amenizar o risco de contaminação. Dessa forma, as pessoas ficaram, por certo período, impossibilitadas de trabalhar, estudar, fazer compras e até mesmo sair de casa. Essa situação fez com que as pessoas passassem mais tempo nos seus domicílios, o que culminou no aumento considerável da produção de lixo no Brasil e no mundo.
Segundo a Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), durante o ano de 2020, a geração de resíduos sólidos urbanos teve um aumento de 82,5 milhões de toneladas. Esse cenário mudou consideravelmente, nos anos de 2018 e 2019, já que nesse período a geração de resíduos chegou a 79 milhões de toneladas.
Ainda segundo a Abrelpe, a pandemia aumentou exponencialmente a produção de resíduos de saúde: no Brasil, cerca de 290 mil toneladas foram produzidas em 2020. Em relação aos anos de 2018 e 2019, cerca de 252 mil toneladas tiveram elaboração, ou seja, houve um acréscimo de 38 mil toneladas.
Os impactos da maléfica gestão de resíduos e das mudanças climáticas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são sentidas, principalmente, em comunidades empobrecidas que não têm suprimentos de água e saneamentos resilientes geridos de forma segura, além dos cuidados inadequados relacionados a saúde. Ainda segundo a organização, com o advento da pandemia, a produção de plástico mais que dobrou, trazendo preocupações aos impactos que isso poderá causar em curto prazo na água doce, oceanos, na qualidade do ar e o impacto de longo prazo de nanopartículas persistentes.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela lei do Brasil desde 2010, afirma que a coleta seletiva de resíduos sólidos é de responsabilidade dos municípios, que devem proteger a saúde pública, estimular padrões sustentáveis de produção, além de desenvolver e aprimorar tecnologias limpas.
Alerta e preocupação da OMS
No início de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um alerta relacionado aos dados de 2019, que mostra a relação dos problemas na coleta de materiais da saúde com o prejuízo ao bem-estar das pessoas, indicando que: “um em cada três estabelecimentos de saúde em todo o mundo não gerencia com segurança os resíduos hospitalares.” O relatório afirma ainda que “a pandemia de Covid-19 levou a grandes aumentos nos resíduos de saúde, sobrecarregando as instalações de saúde com recursos e exacerbando os impactos ambientais dos resíduos sólidos.”
O principal órgão de saúde mundial, inclusive, afirmou que “recomendações incluídas no relatório baseiam-se em ações no Manifesto da OMS para uma recuperação saudável do Covid-19: prescrições e acionáveis para uma recuperação saudável e ecológica. Eles visam os níveis global, nacional e de instalações para promover um cenário ‘ganha-ganha’ para uso, testes e vacinas de EPIs Covid-19 que sejam seguros e apoiem a sustentabilidade ambiental.”
A Organição Mundial da Saúde destacou que aproximadamente 87 mil toneladas de equipamentos de proteção individual (EPI), adquiridos entre março de 2020 e novembro de 2021, foram enviados para apoiar os países na resposta à Covid-19 por meio de uma iniciativa conjunta de emergência da Organização das Nações Unidas (ONU). Porém, a organização estima que a maior parte desses equipamentos acabou em lixo. A explanação mostrou ainda, que mais de 140 milhões de kits de testes, com potencial para gerar 2,6 mil toneladas de resíduos não infecciosos e 731 mil litros de resíduos químicos tiveram envios globais, enquanto mais de 8 bilhões de doses de vacina foram remetidos, o que ocasinou na produção de 144 mil toneladas de resíduos adicionais em forma de seringas, agulhas e caixas de segurança.
Em entrevista cedida para o portal da OMS, Anne Woolridge, presidente do Grupo de Trabalho de Resíduos de Serviços de Saúde da International Solid Waste Association (ISWA), destacou que são necessárias melhorias no gerenciamento de material hospitalar. “Uma mudança sistêmica na forma como os serviços de saúde gerenciam seus resíduos incluiria um escrutínio maior e sistemático e melhores práticas de aquisição”.
Anne Woolridge afirma ainda que existe “uma crescente percepção de que os investimentos em saúde devem considerar as implicações ambientais e climáticas, bem como uma maior consciência dos cobenefícios da ação. Por exemplo, o uso seguro e racional de EPI não apenas reduzirá os danos ambientais causados pelos resíduos, mas também economizará dinheiro, reduzirá a potencial escassez de suprimentos e apoiará ainda mais a prevenção de infecções por meio da mudança de comportamentos”.
Soluções para um ambiente sustentável
A agência especializada em saúde, OMS, trouxe diversas soluções práticas para melhorar o ambiente sustentável dos resíduos hospitalares no contexto da pandemia, entre eles:
• redução da quantidade de EPIs desnecessários por meio do uso seguro e racional, incluindo a aplicação de outras medidas de prevenção de infecções;
• uso de embalagens menores e mais sustentáveis;
• desenvolvimento e uso de EPI reutilizáveis e facilmente desinfetados com segurança (luvas, aventais e máscaras);
• uso de EPIs feitos com maior proporção de materiais renováveis, de base biológica ou recicláveis;
• investimento em sistemas de reciclagem de resíduos gerais de saúde;
Além das recomendações citadas acima, a OMS também acrescentou: “fortalecer os sistemas de resíduos de saúde, por meio de normas e regulamentações aprimoradas e mais sustentáveis, monitoramento e relatórios regulares e maiores investimentos na gestão segura de resíduos, juntamente com outras infraestruturas fundamentais de água, saneamento e higiene (WASH) e energia.”