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A virada do século trouxe consigo diversos avanços no que diz respeito à tecnologia, com o surgimento de computadores e celulares mais modernos e com o crescimento do uso da internet, que passou a ser utilizada em praticamente todos os âmbitos da sociedade. No entanto, é necessário reconhecer que também trouxe prejuízos pelo mesmo motivo. O aumento do tempo de exposição às telas, tanto para o lazer quanto para o trabalho, gerou um grande desgaste para a população e, consequentemente, levou ao aumento de casos da síndrome de burnout.

Devido à pandemia do Coronavírus e ao isolamento social, muitas empresas adotaram o regime de home office ou híbrido. Ainda que essa forma de trabalho tenha benefícios devido à praticidade e ao conforto de poder trabalhar em casa e à possibilidade de não encarar o estresse de se locomover pela cidade em horários de pico, muitos tiveram que reaprender a trabalhar.  

As ferramentas e os meios de trabalho mudaram. Computadores e celulares se tornaram peças imprescindíveis para os trabalhadores, houve o crescimento da necessidade de estar conectado e comunicável o tempo todo (inclusive, muitas vezes, até fora do horário do expediente, aumentando a carga de trabalho), junto com o aumento do imediatismo. Além de tudo isso, muitos tiveram que adaptar espaços em casa para funcionar como escritório. Entretanto, se é um espaço improvisado, algumas questões entram em cena. 

Como é possível se concentrar com pessoas conversando ao redor? Como conseguir conciliar atividades domésticas com o trabalho? De que forma é possível ter um momento de autocuidado e lazer com o aumento do número de demandas (e manutenção do mesmo salário)? É possível ou normal se desconectar um pouco do universo digital? Como conseguir ser produtivo estando exausto física e mentalmente? Convenhamos que esse é o cenário perfeito para a criação e desenvolvimento do burnout nos indivíduos. E realmente foi.

De acordo com um levantamento realizado em oito países pela International Stress Management Association (Isma-BR), o Brasil ocupa, atualmente, o primeiro lugar com mais pessoas que sofrem com a síndrome de burnout (ou esgotamento profissional), um transtorno psíquico relacionado ao emprego e ao desemprego, que conta com sintomas físicos, como dores de cabeça, enxaqueca, sudorese, pressão alta, insônia e problemas gastrointestinais e psicológicos, como ansiedade, depressão, irritabilidade, mudanças de humor e dificuldade de concentração.

A síndrome, incluída em 2019 na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), deixou de ser vista como estado de exaustão vital e passou a ser considerada como esgotamento fruto de estresse crônico no ambiente de trabalho. Dessa forma, a partir de diagnósticos psiquiátricos, o trabalhador que for diagnosticado com burnout tem direito a afastamento por licença médica, estabilidade na empresa em que trabalha e, a depender do caso, se aposentar por invalidez.

Mas qual seria a solução, ao menos temporária, para evitar o aumento de pessoas com a síndrome de burnout?

Creio que muitas delas soariam clichês graças ao sistema capitalista no qual estamos inseridos. Porém, contudo, entretanto, no entanto e todavia, são importantes e deveriam ser adotadas, visto que o burnout é uma condição que incapacita uma pessoa de trabalhar. E sem emprego, não há dinheiro. E sem dinheiro, não há como se sustentar, forçando as pessoas a aceitarem “bicos” e até mesmo enfrentarem condições subumanas, que gera ainda mais estresse.

Obviamente, a primeira delas é proporcionar condições agradáveis de trabalho, onde o trabalhador e suas ideias sejam acolhidas. Para além disso, a implantação de jornadas reduzidas de trabalho, na qual as pessoas tenham tempo para o mínimo: o autocuidado. Tempo para se cuidar e se dedicar a outras atividades são essenciais para propiciar bem-estar para o trabalhador e, consequentemente, para o ambiente de trabalho. 

Além disso, um dos pontos mais importantes para os trabalhadores é ter um tempo para se desconectar do ciberespaço. Há de se difundir a ideia de que não é necessário estar conectado o tempo todo, até porque isso gera uma sobrecarga de demandas – fora de horário comercial e sem remuneração – e até mesmo de emoções.

E em caso de qualquer sinal de burnout, é fundamental recorrer à ajuda psicológica e aos seus direitos para não sofrer nenhum dano moral ou injustiça por parte da empresa. Vale recordar que sem o trabalhador, nenhuma empresa funciona.

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