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Completa sensação de enclausuramento e uma ansiedade que não larga o peito. Às vezes, estar caminhando dentro dos muros da universidade, com as mãos dadas àquele dever de ser – implantando, feito semente, no nascimento da nossa consciência – não nos faz perceber que o universo da academia é perverso, culpamos muito mais o exterior. A pauta na qual escrevo nem sequer passava mais pela minha cabeça. Bom, seria mais fácil deixar aqui uma opinião sobre a situação política do Brasil, mas, com o corpo e a mente cansados, em suspiros, ainda lembro: existo nesse universo.

O cochicho entre os corredores, numa sexta-feira, era de uma docente que teria expulsado uma discente de sala, simplesmente, por não estar matriculada na disciplina. A conversa pode nem sequer ser fato, mas houve gatilho e lembrança. Guilherme Santos, 24 anos, estudante da Faculdade Baiana de Direito, tirou a própria vida durante sua apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso, no dia 07 de julho.

Relatos de colegas afirmam que, minutos antes do acontecimento, o estudante teria sido humilhado por uma professora. Com essa notícia rodando há dias na timeline, a preocupação, não minha, ainda, mas de colegas que estão no mesmo período de vida, pede um esforço e doação. Não quero que passem por isso, ainda mais quando o acontecimento prova a perversidade do ambiente esquartejador da universidade.

Não que isso não seja um problema político, uma vez que representa, para mim, uma classe de acadêmicos que estão se sentindo muito à vontade para viver o seu doce narcisismo, num desgoverno onde não há mais responsabilidade pelo ataque ao outro. Diria também, que, talvez, tenha sido a pandemia – período em que aumentou 25% a ansiedade, depressão e outros transtornos psíquicos no mundo. Mas, o ambiente não é dócil há muito tempo.  

Desde que você consiga doar a sua vida aquilo e conforme todo script declarado pelos intocáveis – leia-se, alguns, doutores – tudo é bem mais difícil, bem mais do que só ter que lidar com permanência financeira e temporal. Em 2019, aconteceu comigo. O professor brincalhão, depois de inúmeras pausas na sua aula para falar sobre o meu cabelo e a roupa da colega, terminou o seu trabalho e me expulsou da sua turma.

A motivação não me surpreendeu, desde que entrei na universidade ainda sofro de uma força simbólica que impede o abrir da boca para compartilhar uma experiência mais popular. Mesmo que sejam linhas lidas de Habermas ou até mesmo, Marx, não há conforto. Nunca se sabe o bastante. E para não viver com olhos ao umbigo, bom, a discussão rodeia há anos todos os grupos sociais que escolhi e até mesmo por acaso, caí.

Mas bem, sobre o brincalhão, ele havia me dito para não voltar mais ali se decidisse viajar para apoiar na comunicação de um território do Movimento dos Trabalhadores. A situação gerou até comentários por parte de colegas, defendendo o docente, e o contrapondo em peso, com a metodologia de outro docente, de vivências e metodologias completamente distintas. Ainda não consegui achar sentido nesse momento de discussão, narrativa e colocação.

Dali em diante, minha vida nunca mais foi a mesma. O que já era um problema, se transformou em desgosto por toda a estrutura. Além do mais, quando submetido a um regime remoto, engolia assuntos e repetia, sofrendo com outros mais 25, coisas que nem sequer podiam ser processadas. Conteúdo demais, tempo de menos.

De fato tem sido, até agora, muito tenebroso conviver nesse universo. A universidade sempre esteve presente no horizonte como alternativa de retribuição à sociedade, e tudo tem caído por terra. Para as públicas, os desmontes estão por aí – para 2023, já são mais 12%. E em meio ao caos da existência humana, o local da universalidade se apegou no reforço à existência daqueles que soletram Habermas ou até mesmo, Marx. E olhe lá.

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