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“Coisas de trigêmeas” é o nome dado ao perfil que a Ana Julia Silva tem com suas irmãs. Elas são trigêmeas e, juntas, têm um perfil no TikTok com 8 milhões de seguidores. Além desse perfil, cada uma tem um perfil solo, um perfil pessoal. Ana Julia, mais conhecida como Juju, tem quase 2 milhões de seguidores em seu perfil pessoal.
Além de Influencer, Juju é estudante de Dança pela Universidade Federal de Goiás, e nessa entrevista fala sobre a exposição, o hate que sofre, e sobre a dança no seu dia a dia.
Como e quando decidiu começar a gravar vídeos para a internet?
Bom, eu comecei a gravar vídeos na internet em 2017, porque o canal que a gente criou no Youtube, sou e minhas irmãs, e, nossa prima falou assim: “Nossa! Eu sempre vejo gêmeos na internet, mas eu nunca vi trigêmeos. E seria muito interessante você fazer um canal, porque todo mundo sabe que existe gêmeos, e que existem trigêmeos, mas não é tão visto.” Aí a gente falou “Nossa! É uma ótima ideia, né? A gente criar um canal no Youtube para a gente.” E aí, em 2017 criamos, e deu muito certo o canal.
Nós ficamos muitos anos lá, só que quando chegou 2020 surgiu o Tik Tok, e ele nem era tão grande igual ele é hoje em dia, só que eu percebi que era uma rede social em ascensão, que daqui uns anos seria a maior rede social, então a gente tem que migrar para lá. Então eu falei para as minhas irmãs para a gente criar um perfil lá, a gente criou e não deu em outra, estouramos lá também e desde então abandonamos o Youtube. Hoje em dia a gente só trabalha com Tik Tok e Instagram, porque é uma coisa mais fácil, mais rápida, e que, querendo ou não, hoje em dia está rendendo mais.
Já era um sonho se tornar famosa?
Então, eu não sei minhas irmãs, mas para mim nunca foi um sonho, sabe? A gente criou o canal no YouTube na intenção de brincar, sabe? Tipo, “ah vamos postar e ver no que vai dar”, só que eventualmente quando foram chegando os seguidores e a fama, assim, a gente foi gostando. Mas para mim nunca foi um sonho. Eu sabia que queria ser alguma coisa na área artística, né? Eu já pensei em ser modelo, atriz, “num sei o que lá”, só que eu acabei ficando na dança mesmo e só que eu nunca pensei sobre ser famosa, só queria ser, sabe? Eu nunca pensei nisso, mas acabou que deu certo e hoje em dia eu gosto bastante.
Como você lidou com o crescimento nas plataformas digitais?
Ah, então, a minha criação, é uma criação muito, tipo assim, seca, sabe? Tipo, não tem muito carinho e “tals”. Então eu estranhei muito quando chegava gente que eu nunca tinha visto na minha vida e falava que me amava, que era muito minha fã e queria me abraçar, queria me beijar. E eu ficava muito, tipo assim [assustada], porque eu não era muito disso, tipo, eu não estava acostumada com carinho. E eu era muito tímida, hoje em dia eu sou muito mais comunicativa e “tals”, mas antigamente eu não sabia falar, sabe? E aí o pessoal chegava em mim e eu ficava assim [assustada] “uhum”, nossa eu não sabia me comunicar. Então, tipo assim, no começo foi muito complicado, porque além de ter toda aquela visualização, aquelas pessoas olhando para mim e eu não sabia agir, tipo, as pessoas chegavam em mim, e até hoje eu fico meio assim, recentemente tiveram pessoas que chegaram em mim: “Ah, eu te assisto”, e aí eu fiquei tipo: “obrigada [risos]”.
Até hoje eu não sei reagir a uma coisa que… Eu já trabalho com internet. Se for contar com o YouTube, faz cinco anos já, mas até hoje, é meio doido pensar nisso e ao mesmo tempo eu não sei reagir muito bem, mas com o tempo a gente vai se acostumando. Hoje em dia eu sei me movimentar muito melhor nesse negócio.
Como funciona sua rotina de produção? O que te inspira?
Eu costumo falar que a minha rotina é uma rotina muito privilegiada, porque a maioria dos trabalhos a gente precisa acordar cedo, se locomover até o trabalho, trabalhar fora horas seguidas e tudo mais. E o meu trabalho não funciona assim, porque hoje em dia eu trabalho com internet, então eu faço meu horário, eu gravo onde eu quiser, por exemplo, eu viajei esses dias para o Nordeste e eu trabalhei lá, porque qualquer lugar pode ser meu trabalho, entendeu?! Em qualquer lugar eu posso trabalhar, qualquer hora eu posso trabalhar. Então a minha rotina não é uma rotina certa, sabe? É quando dá, quando estou pronta, quando eu estou arrumada e quando tem alguma coisa para gravar.
Sobre inspiração, eu acho que, principalmente no TikTok, esse negócio de inspiração não tem mais. A gente fala que é criador de conteúdo, mas a gente só replica conteúdo. Porque se você reparar, os vídeos do TikTok são todos iguais com pessoas diferentes. Então, tipo assim, não tem muito uma criatividade, eu não tenho muito o que pensar, eu tenho que ver o que está em alta e tenho que fazer a mesma coisa, entendeu? Então, além da minha rotina ser muito privilegiada, eu faço meu próprio horário e eu trabalho em qualquer lugar., Eu não preciso pensar muito para produzir também.
A sua conta no TikTok, com suas irmãs, tem cerca de 8 milhões de seguidores. O seu perfil pessoal tem quase 2 milhões de seguidores. Qual a parte boa dessa exposição? E a parte ruim?
Ah, eu aprendi a gostar do reconhecimento, né? E querendo ou não, o reconhecimento sempre é bom para o nosso trabalho, por exemplo, eu quero trabalhar com dança e eu já tenho certo reconhecimento, porque no meu tik tok eu só faço dança, e algumas outras coisas, mas geralmente é só dança mesmo [risos]. Eu acho que as partes boas são: o reconhecimento, o carinho que a gente recebe e a gente recebe muito carinho, e é muito bom saber que as pessoas gostam da gente e tem curiosidades de saber sobre a minha vida, por mais que eu fale que a minha vida é muito sem graça porque eu basicamente só fico na faculdade [risos],. E… deixa eu pensar, ah, a minha rotina que é privilegiada, porque é um trabalho tão bom, eu tenho orgulho e sei que meu trabalho é um trabalho privilegiado. Gosto, também, das oportunidades que o reconhecimento proporciona, porque hoje em dia, infelizmente, as pessoas olham mais os seguidores que você tem, do que a qualidade daquilo, então as pessoas associam ter muitos seguidores à ter boa qualidade… É tem muitas, muitas, muitas coisas boas!
Sobre a parte ruim, tem um ditado, não sei se posso chamar de ditado, que é “a internet é uma terra sem lei”, ninguém tem “papas na língua” para falar na internet, então tipo assim, as pessoas criam coisas sobre sua vida, elas olham um vídeo de 15 segundos e já começam a interpretar de um jeito totalmente diferente, e aí você começa a receber hater pelo seu corpo, você começa a receber hater pela sua fala, por qualquer coisa, sabe? Tem gente que não gosta de mim por eu ser eu, sabe?! Tipo, não tem nada a ver. Uma coisa que eu tenho na minha cabeça é: gente que eu não gosto, eu não sigo. Mas tem gente que não gosta de mim, mas que me segue para ver as minhas coisas e está sempre lá me criticando. Eu acho que, a única não, mas a principal coisa ruim de estar na internet, de fazer conteúdo, é o hater sem sentido, sem necessidade que a gente recebe.
Quando a gente começou no YouTube, tínhamos 15 anos de idade, e teve quem comentou “Eu acho fulana e fulana mais bonitas, por mim a outra poderia morrer”, e tipo assim, nós tínhamos 15 anos de idade. Desnecessário, né? Principalmente para uma criança de 15 anos escutar, sabe? Com 15 anos acho que ainda estamos construindo nossa personalidade. A gente já escutou muita coisa, e que acabou atrapalhando, mas ao mesmo tempo ajudando a gente a ser mais forte, mais resistente a esses comentário desnecessários.
Como você lidar com os hates que sofre?
Depende muito do dia, do meu humor, se eu estou bem ou se eu estou feliz. Tipo, têm dias que eu estou muito triste. Teve uma época, meu sonho é ser professora de dança, e aí, eu gravava coreografias mais elaboradas e postava no tik tok, e eu era massacrada porque, tipo assim, eu sei que eu não tenho uma técnica muito boa, mas eu estou postando porque eu quero mostrar minha evolução, quero mostrar que daqui um ano não vou estar mais dançando como dançava antigamente, só que as pessoas não viam isso, eram só criticas, criticas e criticas., e aí, eu parei de postar dancinhas mais elaboradas porque eu não queria levar hater. Ás vezes eu me isolo, ás fico triste, ás vezes eu vou lá e milito: “Se você não quer, você não me assiste…”, aí as vezes eu fico brava, eu fico triste, mas geralmente são sentimentos ruins, sabe? As vezes eu não ligo, sabe? Penso; “Ah, a pessoa comentou isso? mas pelo menos comentou, ne? bom que dá engajamento” [Risos]. Mas eu acho que depende mesmo, do dia, do meu humor, não tem um jeito especifico, sempre é ruim receber.
Quando respondo comentários ruins, as minhas irmãs chegam e falam: “Para de responder comentário ruim, você recebe mais comentários bons que comentários ruins.” Aí eu fico tipo assim: “Realmente”, mas parece que a gente tem um filtro, sabe? Que a gente filtra só coisas ruins, e parece que as coisas boas a gente não liga tanto. Mas estou trabalhando isso em mim, para eu começar a prestar mais atenção nas pessoas que gostam de mim e me assistem porque gostam.
Você disse que seu sonho é ser professora de dança, e inclusive, você já estuda dança. Como fica a relação com a dança que você pratica na plataforma e a dança que você estuda?
Então, é uma pergunta complexa que tem pensamentos diferentes de pessoa para pessoa, então eu vou dar a minha opinião sobre coisas que eu estudo e que eu penso. A principal diferença entre a dança que eu estudo e a dança que eu faço no tik tok, é que: a dança do tik tok é feita especificamente para vender, ela é feita só para vender, por exemplo, por que que o tik tok tem coreografias muito fáceis? Para todo mundo conseguir fazer, porque se todo mundo fizer a dancinha, mais ela vai ser vista, mais vai ser reproduzida, e mais a música que está sendo dançada vai ser conhecida. Já a dança que eu estudo ela não tem o principal objetivo de vender, ela tem o objetivo de você se relacionar com seu corpo, você conhecer a técnica, você conhecer os teóricos, a prática e tals.
Então acho que a principal diferença é que o tik tok, ele virou um aplicativo totalmente comercial, então o tik tok é para vender. Por que tantos cantores investem em dancinhas no tik tok? Um exemplo, é a Virgínia, quando o marido dela lança uma música, o tik tok vira aquela música, o tik tok dela vira ela dançando aquela coreografia. E se você reparar, são coreografias bem mais simples de reproduzir, e ela sabe que as pessoas vão reproduzir porque é uma coreografia fácil, e geralmente as músicas são viciantes. Já na faculdade não, a dança que a gente estuda é uma coisa diferente, mais complexa, que eu ainda estou estudando, então não tenho tanta prioridade para falar.
As danças do Tik Tok seguem um padrão, tem movimentos repetidos. Como criadora de conteúdo e estudante de dança, o que você pensa sobre isso?
Quando eu comecei a me apaixonar por dança, foi jogando “Just Dance”, e muita gente, talvez, possa ter desvalorizado o Just Dance. Mas, por exemplo, eu acho que tudo que você dança pode ser uma forma de você começar a se apaixonar por dança. Realmente as dancinhas do tik tok são muito menos elaboradas que uma coreografia de hip hop, por exemplo. Mas a sua dancinha no tik tok pode ser um começo que vai te levar para ou balé, ou contemporâneo. Muita gente desvaloriza o tik tok, mas eu acho que o tik tok tem potencial para fazer as pessoas enxergarem a dança como, sabe? um começo.
Mas eu também acho que o tik tok pode ser um começo, mas eu acho que tem que ser um começo, só um começo. Não, por exemplo, vou fazer um show e todas as coreografias vão ser só tik tok., eu acho que é uma desvalorização profissional.
Agora, falando sobre os bastidores, você e suas irmãs já tiveram alguma intriga durante a produção de algum conteúdo?
Já, três pessoas que, por mais que sejam muito parecidas na aparência, a gente é muito diferente de cabeça, nos somos pessoas completamente diferentes, sabe? Então a gente acaba tendo divergências, opiniões diferentes. Então a gente acaba brigando, tipo “ah, eu não acho que vai ficar legal” “Ah, eu não acho que essa dancinha vai ficar legal” “Eu não acho que se a gente gravar esse vídeo, ele vai dar certo no nosso perfil”… E a gente briga, mas eu acho que é coisa de irmã, sabe? Eu acho que irmão acaba tendo a ter uma tendência de ter menos paciência com irmão, do que com amigos [risos], então a gente acaba tendo menos paciência do que se tivesse gravando com um amigo, entendeu? Então a gente briga [Risos].
Para finalizar, quais são seus projetos, suas metas com o tik tok e com a dança?
Bom, normalmente eu não conto muito sobre o que eu planejo para o futuro, porque eu acredito muito no “Quanto menos gente souber, mais chances de dar certo”. Então, tipo, eu conto para todo mundo que eu quero ser professora de dança, porque é realmente o principal objetivo da minha vida, mas eu não falo outros detalhes, entendeu? Então, para a faculdade de dança eu quero me formar como professora de dança, quero dar aula, principalmente de balé e jazz, coisas mais clássicas. Eu não comecei com balé e jazz, eu comecei com danças urbanas, mas aí eu me apaixonei por jazz e balé e é meu objetivo. E no tik tok, eu espero só crescer mais, continuar trabalhando com isso, porque eu gosto do meu trabalho, é um trabalho que eu sei que é privilegiado, e, é um trabalho bom, é o que eu vivo. Hoje em dia, tudo que eu consegui foi trabalhando com a internet, então quanto mais eu crescer, melhor para mim. E para a vida profissional, espero me formar como uma licenciada em dança.