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Educação sexual ainda é um tabu na sociedade. Seja por ignorância, preconceito, receio ou qualquer outra coisa, ainda é um tópico bastante polemico. Entretanto, a educação sexual é uma das formas mais eficazes de prevenir e enfrentar o abuso sexual contra crianças e adolescente, prevenir a transmissão de ISTs e gravidez precoce.

Diferentemente do que grande parte da população acredita, a educação sexual não é apenas sobre sexo. É importante frisar que esse modelo de educação busca ensinar e esclarecer questões relacionadas ao sexo, sexualidade e até mesmo questões psicológicas.

Sala de Aula (Foto: Unsplash/Ivan Aleksic)

Em 2022, O Instituto Datafolha divulgou o resultado de uma pesquisa feita com 2.090 brasileiros com idades entre 16 anos ou mais de 130 municípios do país, de 8 a 15 de março de 2022. O estudo foi encomendado pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e pela Ação Educativa. Confira o resultado:

Infográfico feito a partir do Canva, a partir de pesquisa feita pela Datafolha.

74,5% dos entrevistados gostariam que o assunto fosse abordado nas escolas, os resultados são positivos, entretanto o tema educação sexual não é uma proposta debatida., muito disso em razão de não se ter conhecimento do que se trata especificamente esse tipo de ensino. Para sanar algumas dúvidas a respeito desse assunto, convidamos Milene Fontana, Mestre em Psicologia e que realiza atendimento em psicologia escolar na temática da educação em sexualidade e capacitação de professores, para explicar mais sobre esse assunto.

Entrevistador: Primeiramente, você poderia explicar com clareza o que é educação sexual? Apesar do debate ser popularmente conhecido, muitas pessoas têm uma visão errada acerca desse tema. 

Milene Fontana: Eu não sei se ele é um debate plenamente conhecido. Eu acho que que as pessoas ouviram bastante falar sobre educação sexual na época das eleições, né? Talvez mas as pessoas realmente não tem um conhecimento aprofundado do que que seja prática. Até porque é uma prática que não tá implementada nas escolas, ela tá no currículo escolar mas poucas escolas realmente aplicam a educação em sexualidade abrangente. As escolas acabam é dando aulas de fisiologia e alguma coisa de reprodução, e isso geralmente é o que o que se entende de educação sexual nas escolas hoje.

Então assim, o que que é a educação e sexualidade? Eu até uso o termo sexualidade em vezes sexual, porque sexualidade abrange mais do que o sexual, é um processo então de ensino, formalizado que quer dizer que tá baseado em um currículo. Ah, e é um processo de ensino-aprendizagem e ele engloba aspecto os emocionais físicos sociais culturais cognitivos da sexualidade, tá? Então ele é um ensinamento com base curricular que vai passar para todas as faixas etárias da infância, até a fase adulta. Conhecimentos e também habilidades sobre sexualidade, e aí sexualidade é um conceito amplo.

Entrevistador: A Partir de qual idade é importante começar a ensinar sobre educação sexual?

Milene: Deveríamos começar a trabalhar a educação e sexualidade desde bebê, na verdade desde pequenininho porque desde pequenininho a gente começa a falar sobre corpo, né? Desde pequenininho a gente começa a falar sobre consentimento, começamos a ter um entendimento do limite do eu e do outro, O que que eu posso fazer? O que que eu não posso fazer, né? A gente começa a entender valores sociais valores culturais. E aí, nesse entendimento a gente entende de gênero também, o que que para determinada cultura é esperado pra pra determinado gênero. A gente começa a entender é que daí vai evoluindo conforme a faixa etária, né? E a educação e sexualidade por ela ser curricular ela tem um trabalho específico para cada faixa etária, então é de acordo com cada.

A gente não vai discutir, por exemplo, prática sexual com uma criança de 4 anos. Vamos trabalhar fisiologia, a higiene, vamos trabalhar limite do corpo, vamos trabalhar prevenção ao abuso sexual, né? Então entender consentimento, entender privacidade, com os menorzinhos e lá com os maiores ,considerando que eles já tiveram todo o acompanhamento. Se isso fosse uma realidade lá nos maiores, esse trabalho da identidade de gênero, identidade sexual.
Então na verdade a educação sexualidade, ela deveria vir junto com o desenvolvimento Né, desde os pequenininhos. Mas claro que apropriada a cada faixa etária.

Entrevistador: Como as escolas podem se preparar para transmitir uma educação sexual de qualidade?

Milene: Ao meu ver elas deveriam receber uma capacitação, porque hoje em dia os profissionais que trabalham nas escolas não têm a capacitação para trabalhar com sexualidade. E aí, isso que eu estou te falando é baseado em pesquisa mesmo, tanto nas que eu fiz quanto nas pesquisas que a gente tem sobre educação sexual no Brasil, os profissionais não estão capacitados, eles não recebem esse tipo de de informação. Então o que acaba acontecendo é que muitas vezes eles utilizam do próprio saber individual, pra passar alguma informação. E aí a gente acaba tendo um problema que são informações diversas e baseada no senso comum, baseada em cada em cada professor ou diretora ali.

E corremos mais risco nesse sentido de ter práticas não baseadas em evidências, e práticas, às vezes, ancoradas em alguma conduta religiosa ou alguma crença específica do funcionário do Professor, né? Enfim, então a gente quando a gente não tem uma capacitação a gente tem um pouco mais de risco de práticas discriminatórias, de conhecimentos errados. Então as escolas deveriam receber uma capacitação.

Muitas vezes é difícil para as escolas, principalmente para as escolas públicas. Porque isso não parte necessariamente deles, né? Deveriam partir das secretarias municipais e estaduais, enfim, de um programa Federal. Então enquanto as escolas particulares poderiam contratar, mas aí, (talvez até entre numa outra pergunta tua) muitas vezes isso entra num conflito de interesses da escola com a comunidade, a educação sexualidade ainda envolve muitos mitos e e tabus por ser sexualidade. Às vezes a escola não acaba não fazendo essas capacitações até por algum medo de retaliação com pais, algum medo de incomodar nesse sentido.

Entrevistador: Educação Sexual ensinada em domicílio  é uma medida eficaz?

Milene: Com certeza, mas ela cai um pouco na mesma questão da educação sexualidade institucional, porque, também, os pais muitas vezes vem de criações de outras gerações que também não tiveram educação e sexualidade, então muitas vezes os pais também não sabem direito o que fazer, não sabem como falar com seus filhos, não sabe o que que eles podem falar, o que que eles não podem falar, sabe? Então, é uma medida eficaz eu acho que é ótimo hoje em dia tem vários livros também, que ajudam nisso, né? Que ajudam os pais a conversarem com os filhos sobre educação e sexualidade, mas também é uma prática que acontece pouco, né? Acontece pouco, assim, poucas famílias têm já se essa prática né no seu dia a dia.

Entrevistador: Sexualidade é um dos temas de Educação Sexual?

Milene: Talvez seja o tema central da educação e sexualidade, considerando que (Como te falei que) sexualidade é um conceito amplo, né? E ele faz parte da qualidade de vida dos indivíduos, então ele fala dos aspectos fisiológicos, cognitivos, emocionais, sociais e históricos. Então por ser um um conceito amplo. Ele abrange Claro muitas coisas, né? E ele é um tema central da educação em sexualidade, da educação sexual, o tema central é a Sexualidade. Não é o sexo, não é a prática sexual.

Educação Sexual nas Escolas

No dia 26 de julho, o Ministério da Saúde anunciou que estudantes do ensino básico do país voltarão a ter aulas sobre saúde sexual e reprodutiva, e prevenção de HIV/IST. Isso devido à retomada do Programa Saúde na Escola (PSE). Projeto do qual, segundo a pasta, 99% dos municípios aderiram ao programa e receberão recursos para materiais e equipes. Além disso, o PSE também deve trabalhar atividades de prevenção de violências e acidentes, saúde mental, promoção da cultura de paz e direitos humanos.

Para uma experiência no campo da educação, entrevistamos o Odair Scatolin, professor formado em Biologia.

Entrevistador: Inserido nesse meio de ensino e educação, o que pensa sobre Educação Sexual?

Odair Scatolin: Na minha visão, educação sexual é um assunto muito importante, ainda um tabu, né? Para nossa sociedade a aceitação do assunto, ser mencionado com essa terminologia nas escolas, os pais por serem leigos, e até por um preconceito sobre o assunto, eles acabam negligenciando muito. Mas na verdade a o assunto educação sexual, ele vem informar as crianças e adolescentes cuidado com o corpo conhecimento do seu corpo, as barreiras físicas e fisiológicas, mudanças alterações corporais.
Ou ela vem para ensinar as crianças, né? Tem a ideia de ensinar as crianças, o que é um toque, um toque maldoso com segundas intenções. O que é um toque de carinho, né? A gente sabe que 76% dos abusos com crianças e adolescentes acontece dentro das próprias famílias, amigos do âmbito familiar.

Entrevistador: Já abordou temas sobre educação sexual em aula?

Odair: Sim e, por várias vezes, eu abordo o assunto, principalmente no ensino médio, né? Onde nós temos, normalmente no primeiro ano, a parte de gametogênese, onde nós explicamos o processo de formação e nesse processo a gente já aborda com eles as alterações corporais, a influência dos hormônios na caracterização secundária, voltamos a abordar isso de forma científica. No segundo ano quando a gente fala sobre sistema endócrino, produção dos hormônios sexuais, as glândulas sexuais e então a gente acaba aproveitando para abordar.

Como eu disse, o termo educação sexual muitas vezes remete aos pais e pessoas leigas que trata de falar sobre sexo, relação sexual e não é isso, apesar de ser abordado sim a forma do ato sexual seguro, as formas de preservativos., as formas anticoncepcionais, então é um termo muito importante. Com certeza deveria ter um espaço maior para ser abordado com mais profundidade, principalmente o ensino médio onde os adolescentes estão conhecendo seu corpo iniciando o processo de conhecimento e relação sexual, que hoje nós temos isso cada vez mais cedo dentro dos grupos de adolescente, então teria que ter mais profundidade, apesar de ser abordado por várias vezes aí no decorrer do ano letivo no ensino médio.

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