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O aumento do desemprego no Brasil, sem dúvidas, é uma das severas consequências da pandemia de COVID-19 que a população enfrentará nos próximos anos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 10 milhões de pessoas estavam fora do mercado de trabalho no fim de 2022. Assim, os brasileiros estão cada vez mais adeptos aos aplicativos de corridas e de delivery.
O que é a Uberização e como ela surgiu?
Segundo a doutora pela UNICAMP e especialista em sociologia do trabalho, Andréa Vettorassi, o termo surgiu há alguns anos no Brasil por pesquisadores da Sociologia do Trabalho, sobretudo pelo professor Ricardo Antunes, e discute a informalidade presente no mercado contemporâneo.
Em meio às mudanças da reforma trabalhista mais recente, o novo modelo de trabalho se popularizou no país e apesar do termo derivar da palavra “uber”, ele já abrange diversas profissões da área da tecnologia e da comunicação, por exemplo, não seguindo as normas da Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT.
A pesquisadora afirma que a informalidade oferecida pelos contratantes precariza as condições atuais dos trabalhadores, mas que por muitas vezes ser a única opção, eles se submetem aos poucos direitos assegurados até mesmo quando possuem ensino superior.
As consequências são diversas e, de acordo com Vetorassi, acometem mais as minorias das grandes cidades. Entre elas estão indivíduos negros, pardos e imigrantes.
A uberização no Brasil
Andrey é de Goiânia, tem 27 anos e trabalhou 6 anos consecutivos na Uber e na 99 Pop antes de se mudar para Portugal em busca de uma melhor qualidade de vida. Inicialmente, o rapaz tinha apenas o objetivo de gerar uma renda extra, mas depois as corridas se tornaram sua principal ocupação.
Ele afirma que trabalhava com medo e que seu maior desafio era a falta de segurança e a pouca ajuda oferecida pelos aplicativos. Por isso, era preciso tentar superar sozinho os acidentes e os assédios sofridos durante o expediente.
Quando comecei trabalhar eu conseguia manter meu salário tranquilamente, mas com o passar do tempo tudo foi ficando muito caro e saindo fora do planejamento. Eu trabalhava em torno de 15h por dia.
Andrey, 27 anos
Relatos de rotinas exaustivas e de motoristas que foram desrespeitados são comuns, mas segundo Juliana Mendes o mais complicado é enfrentar o preconceito no trânsito. Com quase dois anos trabalhando com aplicativos, ela conta que também não se sente segura e que os colegas de trabalho “cuidam uns dos outros”, visto que as plataformas não oferecem apoio suficiente aos parceiros.
Ela é de São Paulo, trabalha cerca de 10 a 12 horas por dia e declara que nunca sofreu importunações sexuais, mas que ouve as incontáveis histórias de seus amigos. Além das dificuldades em lidar com certos passageiros, é preciso ser resiliente para continuar dirigindo diante a ausência de suporte por parte das empresas.
Os aplicativos fazem o que querem, mandam e desmandam.
Juliana Mendes, 34 anos
A motorista acredita fazer parte de uma categoria esquecida, já que nem o poder público nem o privado parece se esforçar para oferecer melhorias.
Embora seja uma grande problemática para uma parcela dos colaboradores, Juliana acredita que não possuir vínculos com as empresas é uma vantagem, posto que não haverão prejuízos (com exceção dos financeiros) ou penalidades nos dias em que não puder trabalhar, por exemplo. Ela finaliza: “e nos aplicativos nós temos mais uma parte boa, quanto mais você trabalha mais você ganha”.
Os especialistas ressaltam que, para além das viagens, este fenômeno atinge, todos os dias, novas profissões. Logo, é preciso que o Estado proteja os trabalhadores. Porém, até que isso aconteça, é necessário que eles se organizem e cobrem medidas efetivas.