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O que fazer quando você não suporta mais a vida e a Morte se recusa a te levar? Essa é a premissa do livro de estreia da autora Magda Jaber, de 19 anos. O livro lida com temas delicados, ao mesmo tempo em que mergulha o leitor em um mundo fantástico, em que os personagens encontram seres celestiais e atravessam Sete Céus em busca de respostas. 

A escrita sensível e poética de Magda amarra a história de uma maneira reconfortante, mesmo quando tratando de assuntos como suicídio. Ainda assim, “Sete Céus Para Beatrice” é um livro desafiador, com muitas questões sobre a existência humana, sobre traumas e sobre a finitude da vida. 

Marca páginas do livro “Sete Céus Para Beatrice”, de Magda Jaber. Foto disponível no Instagram

Lab Notícias: Qual foi a sua inspiração inicial para começar a escrever essa história? 

Magda Jaber: Eu sempre fui o tipo de pessoa pensativa. Sabe quando a gente pensa demais pro
próprio bem? Então. Temas que dizem respeito a morte, a vida ou até mesmo a vida
após a morte sempre me fascinaram, ao mesmo tempo em que me deixavam alerta. A
minha inspiração inicial pra escrever Sete Céus para Beatrice foi quando me vi em
uma posição de contemplação desses temas. Era uma época da minha vida onde tive
certo contato com quartos de hospitais, e lembro de pensar muito no estado de espírito
das pessoas que passavam dias e dias lá. Foi observando o destino mórbido dessas
pessoas que a inspiração surgiu. Então, como sempre tive muitas perguntas ao
observar essa realidade, fui em busca de respostas. A busca aconteceu; Sete Céus para
Beatrice é fruto dela, mas não significa que as respostas tenham sido satisfatórias.

O livro chegou em 3° lugar dos mais vendidos entre livros de fantasia na Amazon. Quando você estava escrevendo, você imaginou que algo assim pudesse acontecer? Que essa seria a reação do público? 

É uma resposta clichê mas… isso nem passou pela minha cabeça. Eu realmente não
via Sete Céus para Beatrice entre os 10 mais vendidos em fantasia, e quando alcancei
a terceira posição, foi um choque. É gratificante ver o seu trabalho ganhando espaço
em um ranking tão badalado quanto o de fantasia! Fiquei feliz de verdade. Acredito
que um dos motivos de eu não ter me acostumado com a ideia até agora é que eu não
colocava fé nenhuma nesse projeto. Eu sempre fui a maior hater de Sete Céus para
Beatrice, muito porque eu não sentia que estava conseguindo fazer jus a essa história. O
livro sempre teve o propósito de emocionar, transformar, amparar, mas eu sentia que o
que eu escrevia não conseguiria impactar o leitor da forma que eu desejava. Então,
quando vi Sete Céus como terceiro livro mais vendido de fantasia junto com os
feedbacks que alegavam exatamente o que eu queria que as pessoas sentissem, eu
fiquei genuinamente surpresa.

Qual era a sua intenção principal ao publicar esse livro? 

Gosto dessa pergunta porque me faz pensar na dedicatória de Sete Céus para Beatrice.
“Para todas as almas que foram rejeitadas quando precisavam ser lidas”. Essa é uma
frase que eu olhei torto por um tempo. Lembro de ter bolado ela e ter deixado anotado
em algum lugar, no caso de eu realmente usar. A verdade é que eu estava com medo de
parecer humana demais pra um monte de humanos. Eu achava que eu seria chamada
de dramática mas, na verdade, nas resenhas de Sete Céus, fui acusada de ter espionado
a vida das pessoas e trazido os conflitos delas da forma mais poética possível. A
minha intenção sempre foi trazer a vulnerabilidade do humano, e com isso, as partes
feias e as partes bonitas que nos fazem quem somos. Sete Céus para Beatrice quer
compreender, amparar e confortar o leitor. Ele quer investigar o mundo, mas não
sozinho, junto das pessoas perdidas. Ele quer mostrar que apesar das nossas sombras e
dos nossos erros, somos dignos de amparo e apreciação. É isso. Sete Céus para
Beatrice é tudo o que aprendi sobre a vida e tudo o que pretendo buscar.

Na sua percepção, qual tipo de público você acredita que essa obra mais atingiu? 

As pessoas atingidas por Sete Céus para Beatrice são definitivamente as pessoas que
sentem demais e as pessoas que sentem de menos. Lendo as resenhas, eu entendi que
esse livro chegou no coração de quem ainda guarda aquela chama na alma, aquela
responsável por nos fazer sentir e buscar. No geral, as pessoas que saíram há um
tempinho da adolescência, que são pessoas mais perdidas, que andam passando por
algumas turbulências.

Como a história do livro está ligada com a sua? 

Acho que quando o livro descreve a paixão de Bené pela busca das respostas. O Bené
é facilmente um personagem que me identifico muito, e é da minha jornada pela busca
da vida que baseei a busca dele. Ainda que eu tenha um pouco da Beatrice e da
Clementina, foi no Bené que eu mais me vi. Talvez por querer ter a mesma
oportunidade que ele, de entrar em uma jornada fantástica em busca das coisas mais
lindas da vida. Essa ligação entre o Bené e a minha história é provavelmente fruto do
meu desejo de me aventurar pelo mundo. Gosto muito disso, de me ver ligada a um
personagem tão corajoso como o Bené.

Eu vi que você começou a escrever essa história com 16 anos, e a finalizou com 19. Como você acha que seu amadurecimento ao longo desse tempo interferiu no seu processo de escrita? 

Interferiu bastante. Com 16 anos eu tinha uma cabeça, com 19 eu tinha
completamente outra. Acho que uma forma muito interessante de responder essa
pergunta é exemplificando com as fases do livro. Primeiro temos Beatrice, e a
Beatrice só poderia ter sido escrita por uma Magda de 16 anos, porque fazia muito
sentido com os questionamentos e investigações que eu tinha na época. Era pra
história ter parado por aqui, porque nem ia ser publicada, mas decidi continuar. Então,
surgiu o Bené na segunda fase, que foi escrito muito tempo depois, e era na época em
que eu tinha acabado de voltar do Líbano. Eu estava revigorada, então a história foi
interferida por esse sentimento. Por fim, veio Clementina na terceira fase, que é uma
fase não muito distante, aconteceu no meio de 2022. A estabilidade que senti depois
de ter me acostumado novamente com o Brasil é refletida nela. Porque Clementina é
estável. Não sente nada mas está estável. Dessa forma, realmente acredito que com o
passar dos anos e das fases foi que a história foi se moldando.

Como foi o processo de publicação do livro de forma independente? Você cogitou procurar alguma editora ou sempre quis que fosse um projeto exclusivamente seu? 

Foi bem confuso. Por ser meu primeiro lançamento e ainda de forma independente, eu
tinha que ficar bem ligada em relação a tudo. Tive que ir atrás de profissionais da área
editorial e esse processo nunca é tranquilo. Por saber que o sucesso do seu livro
depende completamente de você, acabamos por nos sentir extremamente
pressionados. Fui obrigada a fazer uma organização com planilhas e tudo, o que foi
bem minimalista e funcional, porque não tenho esse costume. Preparar o marketing do
livro foi outro bicho de sete cabeças, tive que recorrer a um planejamento detalhado,
mas não posso reclamar. Tive bons resultados por causa disso. Sobre a editora, não
cogitei procurar uma. Sempre entendi os meus limites, e pra reconhecer que eu não
tinha muita experiência nesse meio editorial não foi difícil. Eu não queria me meter
em algo que eu não entendesse muito, especialmente porque existem editoras que
podem não ser o melhor pro seu livro. Pensei comigo mesma que publicar de forma
independente me prepararia bem no sentido de experiência e, durante e após o
processo do lançamento, poderia começar a ficar de olho nessa história de editora.

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