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Com certeza você já deve ter visto algum amigo ou amiga se destacar em alguma competição esportiva, a ponto de visualizar um futuro muito próspero dentro dessa área para esse alguém. Entretanto, infelizmente, no Brasil não é bem assim.
Mas afinal de contas, não seria justo que, se uma pessoa tivesse um potencial esportivo apurado, ela ganhasse uma bolsa de estudos ou um patrocínio que lhe incentivasse a manter a rotina de treinamentos? No mundo perfeito, sim, mas por aqui, a realidade é que os custos para ir treinar são caros, os clubes não selecionam sempre os melhores jogadores e muitas vezes o incentivo por parte das políticas públicas são escassos.
Diante desse cenário, Raphael Teixeira, estudante de jornalismo na Universidade Federal de Goiás (UFG) e atleta universitário, comenta sobre essa ocasião:
“Desde pequeno sempre tive o sonho de me tornar jogador de futebol, logo cedo meu pai e até alguns professores de educação física perceberam que eu tinha habilidade e me incentivavam a não desistir do sonho. Aos 14 anos, meu pai e meu avô se juntaram para me matricular em um clube aqui da capital, aonde joguei por 6 meses, mas um dia meu técnico disse pra mim diretamente que não poderia me promover pois eu tinha pouco tempo de casa. Aos 16, fiz uma peneira no Goiás Esporte Clube, consegui render bem e passei de fase, mas infelizmente nenhum jogador da minha posição veio a ser integrado ao elenco.”
Raphael Teixeira
Raphael também relata sua opinião sobre o processo de captação desses clubes para obterem mais jogadores para serem formados em suas categorias de base:
“O método de captação dos clubes é muito falho em minha opinião, tive a oportunidade de ver grandes jogadores que não foram selecionados, e eram meninos que, mesmo com pouco tempo, demonstraram seu talento. O modelo norte-americano poderia ser usado como exemplo, pois o Brasil é um país extenso, e mesmo com vários obstáculos, conseguimos revelar atletas em vários esportes, ou seja, se houvesse incentivo, revelaríamos muito mais e nossos jogadores teriam também mais chances com bolsas nas universidades.”
Raphael Teixeira
Ainda assim, há alguns que ainda conseguem chegar a disputar a categoria profissional, como é o caso de Bernardo Gomes Aires, que foi jogador de futebol profissional do Trindade Atlético Clube, mas por diversos motivos, acabou optando por deixar a carreira de atleta e resolveu investir na carreira musical, sendo hoje um dos músicos do grupo de pagode “Sem Migué”, além de ser aluno de Publicidade e Propaganda na UFG:
“Passei por diversos clubes pelo Brasil até parar no próprio Trindade. Entretanto, já estava meio desanimado em continuar jogando, e um fator determinante pra minha desistência foi a minha dispensa do elenco que iria disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior, sendo que eu era um dos jogadores titulares do elenco. A partir daí, repensei os rumos da minha vida e acabei indo pro ramo musical, aonde hoje sou muito feliz com o meu grupo de pagode e enquanto publicitário também.”
Bernardo Gomes Aires
Bernardo também ressalta sua opinião com relação aos processos de seleção de atletas por parte dos clubes, e compartilha sua sugestão de como pode-se modificar essa realidade de forma positiva:
“Acredito que o processo de captação dos clubes está adequado, falo por experiência própria, mas ainda assim, muitos desistem de suas carreiras nas categorias de base, mas quando chegam aos profissionais, preferem se manter no ramo. Então, na minha visão, para que mais atletas pudessem ter essa oportunidade de serem profissionais, creio que deveriam ser criados mais clubes de futebol para suportar essa alta quantidade de jogadores em formação.”
Bernardo Gomes Aires
Quando tratamos das modalidades femininas, os motivos se agravam ainda mais. Milleny Basílio, ex-atleta e, atualmente, estudante de Engenharia da Computação no campus de Trindade do Instituto Federal de Goiás (IFG), relata sobre isso:
“Minha experiência foi bastante curta, jogo futebol desde os 9 anos, mas vivenciei o sonho de ser profissional apenas durante 1 ano, em 2019, quando os times de série A foram obrigados a terem times femininos. Teve uma peneira no Goiás que não consegui ir, então esperei a peneira do Atlético-GO e passei, joguei 3 meses lá, mas por conta do horário da escola não consegui ir mais. Em 2021, quando a normalidade começou a retornar, eu estava no 3° ano do ensino médio e precisei escolher entre o esporte e os estudos, acabei escolhendo os estudos, por ser uma opção mais estável.“
Milleny Basílio
Milleny também comenta sobre sua visão para que se possa melhorar o modelo contemporâneo encontrado no futebol e no esporte feminino em geral:
“Os motivos que me levaram a desistir de uma carreira profissional foram a falta de oportunidades no futebol feminino, principalmente na época que comecei a jogar, a dificuldade de relacionar a rotina de treinos com os estudos, e acredito que tenha sim uma desvalorização maior do que a categoria masculina, mas acho que já melhorou bastante em relação a minha época, por exemplo. Porém, há muito ainda o que melhorar, ao começar por salários mais justos para as profissionais, patrocínios por parte das empresas e a mudança da mentalidade das pessoas acerca do tema né, pois acho que já está mais do que provado que as mulheres podem e vão se destacar nas mais variadas áreas do esporte e da vida.”
Milleny Basílio
Quando o esporte é outro, a realidade pode ser até mais desafiadora do que já foi demonstrada nessa reportagem. Rhenan Alves, que é, atualmente, estudante de Direito na Faculdade e Colégio Aphonsiano, foi um nadador de nível estadual e até nacional, mas que por diversos motivos, preferiu deixar a carreira esportiva para focar nos estudos:
“Eu avalio que meu período enquanto atleta de natação foi muito proveitoso e importante para minha própria formação pessoal. Como atletas, nos formamos com um espírito esportivo, aprendemos a trabalhar em equipe, a ter disciplina, garra e buscamos sempre nossa melhor versão a cada dia. Os motivos que me fizeram parar foram, com certeza, a falta de apoio governamental e a dificuldade de angariar apoio financeiro de terceiros, uma vez que o esporte de alta performance exige muitos custos, tanto no preparo físico, como na alimentação, no transporte e nas viagens de competição. Além disso, a dificuldade de conciliar a vida esportiva com a vida escolar/acadêmica, quando não há um apoio para isso, também dificulta muito para continuar nessa jornada.
Rhenan Alves
O ex-atleta também comenta sobre o que ele considera como fundamental uma melhoria para que essa perspectiva se modifique de forma agradável:
“A falta de incentivo do governo é o principal dentre os maiores motivos para isso acontecer, pois os custos básicos do esporte de alto rendimento já são muito altos e caso a família do atleta não esteja em uma boa condição financeira, fica muito difícil de manter o nível necessário para as competições. Outro grande fator de relevância é o futuro financeiro, pois para um atleta de natação garantir um grande patrocinador ou um clube que pagará um salário relevante para ele, muitas vezes só é possível depois de muitos anos no topo dos campeonatos, se destacando internacionalmente, o que impede que muitas pessoas que ainda não chegaram nesse nível não tenham nem chance de alcança-lo.”
Rhenan Alves
Já se pressupõe que, para conseguir ter uma carreira de alto nível no esporte, é preciso ter muita persistência e também é necessário que haja mais incentivo e melhorias das políticas públicas para o desenvolvimento dessa área. Hugo Evaristo, graduado em Educação Física na UFG e treinador de futebol dentro do meio universitário e fora dele também, comenta sobre essas perspectivas:
“Acredito que a grande maioria dos atletas acabam enfrentando as dificuldades, algumas estruturais, durante o seu processo de formação profissional, e destaco a estrutura financeira como uma das principais, já que diversos garotos têm a sua carreira interrompida para se direcionar a outras ocupações não conseguindo dar continuidade a carreira enquanto jogador de futebol ou tendo que se dividir entre os treinamentos e a rotina de trabalho. Outro ponto que é importante ressaltar é a estrutura familiar, uma vez que a ausência e por vezes a inexistência de apoio pode influenciar dentro do processo e impedir que o atleta alcance o profissionalismo.
Hugo Evaristo
O professor também comenta sobre o que se pode fazer para que esse cenário deixe de estar em vigor:
“Para mudar essa realidade, ao menos parcialmente, o investimento em estruturas melhores nos clubes (de base ou não) para possibilitar ao atleta uma boa formação e aumentar a sua chance de chegar até o profissional, a utilização de profissionais particulares para auxiliar no processo, como preparadores, nutricionistas, médicos e psicólogos, seriam de grande ajuda. Se tratando do ambiente universitário, vejo que o desenvolvimento de parcerias com clubes profissionais (com e sem bolsa) seria benéfico e aproximaria ambos os certames, o que consequentemente poderia possibilitar a continuidade do atleta no esporte.”
Hugo Evaristo
Recentemente, a Secretaria de Esportes e Juventude da cidade de Trindade divulgou que está organizando um campeonato de futebol de campo na cidade, visando possibilitar uma maior visibilidade por parte dos jogadores desse torneio às equipes profissionais, e para promover também a maior inclusão dos jovens no esporte:
“O intuito desse torneio é trabalhar com atletas de menor idade, e teremos mais de dez equipes disputando essa competição, sejam elas de Trindade ou do entorno.”
Luana Martins, Secretária de Esporte e Juventude da cidade de Trindade, em vídeo publicado na página da prefeitura da cidade no Instagram
Na capital de Goiás, Goiânia, há cerca de um mês atrás, começou também a Copa Interbairros, competição de futebol society que voltou a ser disputada após oito anos, e agora, já faz parte do calendário municipal de esportes:
“É mais uma competição que o prefeito Rogério Cruz nos incumbiu de realizar para a população goianiense. Com certeza será um sucesso. Quem jogou a copa sabe da importância dela para Goiânia. Onde vou todos falam da competição, e muitos recordam que já jogaram.”
Álvaro Alexandre, secretário de esportes municipal, em entrevista ao portal “Diário de Goiás”