Além do Diploma: Entenda a necessidade da psicologia durante a universidade

Com o passar dos anos, a necessidade de recorrer-se ao atendimento psicológico tem se tornado cada vez mais fundamental entre os universitários; Confira e analise os dados na matéria a seguir;
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Foto: Reprodução/Clínica SIM

De acordo com uma pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (World Mental Health Survey) que foi publicada na Revista Ensino Superior e no site da Associação Brasileira das Mantenedoras das Faculdades (ABRAFI), cerca de 35% dos estudantes de instituições de ensino superior no mundo todo têm problemas de saúde mental. Segundo a revista e a associação, tal resultado é explicado por conta de que a fase da graduação é um período na vida das pessoas em que as perspectivas profissionais estão em constante mudança e desenvolvimento, somados às idades críticas que, por seus desafios trazidos ocasionalmente, geram altos níveis de estresse.

O psiquiatra espanhol Vicent Balanzá-Martínez, um dos principais responsáveis por ajudar na realização de pesquisas sobre esse tema, em entrevista concedida à repórter Luciana Alvarez para a revista, explicou que esses estudantes em específico estão vulneráveis com relação aos problemas de saúde mental. Com base em suas constatações, Vicent argumenta que isso já é um fenômeno global e que há diversos fatores biopsicossociais que interferem diretamente nessa análise, como por exemplo a distância do núcleo familiar, o aumento das responsabilidades assumidas, a diferença na questão econômica, entre outros motivos.

O psiquiatra ainda ressaltou que atividades imediatas ajudam nesse combate às complicações, entretanto, afirmou também que a abordagem de todos os problemas mencionados é uma tarefa de longo prazo.

Trazendo o assunto para um recorte específico da história da humanidade, de acordo com um estudo feito pela Chegg.org, chamado de “Global Student Survey” (Pesquisa Global de Estudantes) e publicado pelo G1, por conta da pandemia da Covid-19 durante o ano de 2020 até o início de 2023, cerca de 87% dos estudantes universitários em solo brasileiro justificaram que tiveram seus níveis de estresse e ansiedade elevados por enfrentarem a época desse surto.

Ao todo, foram ouvidos relatos de 16,8 mil estudantes entre 18 e 21 anos de 21 países diferentes (Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, Quênia, Malásia, México, Arábia Saudita, Coreia do Sul, Espanha, Turquia, Reino Unido, EUA e Rússia).

O Brasil, dentro da pesquisa, foi o país aonde a maior quantidade de estudantes declarou ter desenvolvido quadros altos de problemas de saúde mental. A pesquisa ainda aponta que 61% dos universitários ouvidos no Brasil afirmaram ter dificuldade para pagar as contas, sendo que a média entre os demais países é de 53%.

Entre os problemas mencionados pelos estudantes brasileiros presentes na contagem dos 16,8 mil entrevistados no mundo todo, 40% afirmam ter dificuldade para quitar os serviços públicos (como por exemplo, conta de luz e água), 25% com a alimentação, 25% com contas médicas, e 19% com aluguel ou hipoteca.

Os entrevistados destacam que os três principais pontos que são diretamente enfrentados são: O aumento da desigualdade (34%), a dificuldade em conseguir empregos de boa qualidade (24%) e a falta de garantia de uma boa educação para os mais jovens (14%). Dentro dessa parcela brasileira de consultados, a pesquisa ainda destacou que sete a cada dez universitários no Brasil tiveram sua saúde mental impactada por conta da pandemia da Covid-19 (cerca de 76%), e que apenas 21% deles buscou ajuda de fato, enquanto outros 16% revelaram que tiveram pensamentos suicidas.

Ainda nessa pesquisa, foi constatado que apenas 39% dos entrevistados argumentaram que o Brasil é um lugar considerado “bom para se viver”, fazendo com que o país tivesse uma das piores médias dentro do estudo, atrás apenas da Rússia e do México, ambos com 37%, e da Argentina, a última colocada do ranking, com 14%.

Cerca de 45% dos estudantes em terras brasileiras alegaram que um aumento de aulas remotas disponibilizadas, gerando uma diminuição das mensalidades e custos ajudaria bastante para reverter gradualmente a situação. Entretanto, apenas 14% deles aprovariam uma maior disponibilidade de recursos online, enquanto 51% não aprovariam e 35% não souberam opinar a respeito.

Buscando traduzir o real sentimento de um discente com relação às obrigações e compromissos que o ensino superior exige aos alunos, o estudante do terceiro período de Jornalismo na Universidade Federal de Goiás (UFG), Raul Modesto, comentou com o nosso portal, em uma entrevista via whatsapp, sobre como acaba sendo desgastante o processo de aprendizado a cada semestre da sua formação, destacando a falta de tempo de descanso entre os trabalhos entregues, a exigência de produção de atividades em períodos de descanso, as falhas da grade curricular, entre outros motivos. Acompanhe o depoimento logo abaixo:

“Sempre ouvi falar sobre a importância da saúde mental, e desde antes de entrar na UFG, esse tópico já estava presente na minha vida, pois tive muita ansiedade antes de ingressar na chamada pública por ter dúvidas sobre o que eu queria. No início, os compromissos da faculdade me deixaram sem descanso e até meio grosso com as pessoas, porque eu sempre estava sobrecarregado. Como a estruturação das grades é falha, eu praticamente surtei por ter que entregar uns cinco trabalhos na mesma semana, tanto que, após entregar, não me envolvi em nenhum outro assunto da faculdade. O fato de, às vezes, ter que se preocupar com novos trabalhos durante os recessos e feriados também é muito desgastante, então tive que me acostumar com o tempo, uma vez que, no início, todas essas obrigações pareciam um pesadelo sem fim.”

Raul Modesto, estudante de Jornalismo na UFG

Com base nessa temática da saúde mental, o psicólogo Wilson Neto, graduado na área pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), em uma entrevista ao nosso portal via whatsapp, dissertou sobre o papel da psicologia nessa fase e deu sugestões de medidas que podem ser tomadas para controlar esses índices de uma forma mais eficiente, confira:

“Em diversos períodos da vida, estamos sujeitos a enfrentar essas ocasiões relacionadas com a saúde mental, e baseado nisso, a psicologia surge para que o estudante possa, em uma eventual consulta, desabafar e ter a sensação de alívio após conversar com um profissional que estará lá para que o paciente possa compreender a si mesmo, criando essa unicidade, a qual varia por cada pessoa. Como sugestão, acredito que a psicoterapia seja uma alternativa muito positiva por se tratar de um momento da semana onde o paciente poderá colocar suas emoções pra fora, tendo com ele uma pessoa capacitada que não irá julgá-lo, mas sim apoiá-lo e confortá-lo dentro de cada situação, fortalecendo sua saúde psicológica e geral também.”

Wilson Neto, psicólogo

Ainda dentro dessa temática, a neuropsicóloga Grasiela Emerenciana de Castro Oliveira, também graduada pela PUC-GO e especializada em neuropsicologia, comentou sobre a função da área nessa fase universitária em uma entrevista concedida ao portal via whatsapp, ressaltando ainda mais o valor da psicoterapia para ajudar os estudantes. Veja logo abaixo:

“Na prática clínica, também constatamos esse aumento considerável nos sintomas designados da saúde mental, e o papel da psicologia nesse sentido é de acolher esses estudantes através de um acompanhamento psicoterapêutico, com projetos desenvolvidos dentro e fora das instituições de ensino. Sendo assim, a psicoterapia é a melhor indicação, pois existem muitos profissionais bons com diversas abordagens dentro da psicologia que certamente serão eficazes depois dos sintomas instalados. Contudo, é preciso cuidar tão bem do nosso emocional, como cuidamos do nosso físico. De nada adianta um corpo saudável com uma mente adoecida. Ou seja, busque ajuda sem medo, acredite no próprio potencial e faça a sua história.”

Grasiela E. de Castro Oliveira, neuropsicóloga

Na Universidade Federal de Goiás (UFG), está em vigor o programa “Saudavelmente”, o qual pode-se definir como o serviço de saúde mental para estudantes da UFG que atua em diversas frentes,
como o acompanhamento terapêutico e algumas ações de promoção da saúde. O programa busca acolher a todos os estudantes da universidade que procuram algum tipo de ajuda com a saúde mental e que não possuem as melhores condições financeiras existentes.

Dentro do programa, há uma grande variedade de serviços e atividades fornecidas, como por exemplo consultas psiquiátricas, solicitação e retirada de receitas, participação em vários projetos e ademais ocasiões. Todas as informações complementares, como as localidades, meios de contato entre outras, estão disponíveis no site do programa fornecido pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE-UFG).

Foto: Reprodução/PRAE UFG

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