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IGOR RODRIGUES CHAVES

Imagem em destaque: RMTC Goiânia

Desde janeiro deste ano os terminais de Aparecida de Goiânia ganharam modificações em suas estruturas de entrada e saída de usuários para receberem a “Meia Tarifa”, que vem sendo implantada na região metropolitana da capital desde o ano passado.

Segundo o site da RMTC Goiânia, consórcio responsável pelo sistema de transporte coletivo da região metropolitana de Goiânia, “a meia tarifa é um benefício social no valor de R$ 2,15 destinado à população usuária de linhas alimentadoras do transporte público coletivo de municípios da região metropolitana de Goiânia.”

O terminal Vila Brasília foi o primeiro, em Aparecida de Goiânia, a adotar esse modelo, na sequência o benefício foi implantado no terminal Maranata, Araguaia, Veiga Jardim e, por fim, Garavelo. Desde então, quem deseja andar dentro de Aparecida de Goiânia, que é o foco de análise aqui, paga R$ 2,15.

Por mês, a prefeitura deve gastar cerca de 3 milhões de reais. Da adoção para cá, o que não falta são reclamações de usuários. No dia 21 de abril, a CBN Goiânia mostrou o relato da aposentada Neusa Dias, uma usuária no terminal Veiga Jardim.

“Precisava melhorar os ônibus dentro dos terminais. Você chega à parte da manhã, os ônibus demoram cerca de meia hora para sair. Eles gastam dinheiro com isso aqui e vai ficar uma multidão de gente aqui com essa restrição de espaço. É de manhã e à tarde, cheio de gente e a gente só chega ao serviço atrasado”.

Essa multidão de que a Neusa Dias fala, trata-se dos usuários que estão nos terminais na espera pelos ônibus, formando longas filas para embarcar nas linhas que receberam a meia tarifa. Ao invés de embarcar nas portas traseiras, como era feito antes da meia tarifa, agora precisam entrar na porta dianteira, um a um, para passar a catraca dentro dos veículos.

De todos os problemas que o transporte coletivo da região metropolitana enfrenta, será se essa seria a questão mais urgente para ser enfrentada? A mesma cidade que em março de 2023 viu um ponto desabar em cima de Wellington Oliveira, de 27 anos e matá-lo, por falta de manutenção na estrutura, vai gastar 3 milhões de reais em um benefício questionável no que diz respeito ao quantitativo de beneficiados.

Sobre os pontos, a defesa civil da cidade fez a interdição de vários, por exemplo, os que estão situados na avenida Pedro Luiz Ribeiro, e em seguida, a prefeitura fez a remoção. O que foi implementado no lugar? Nada: agora os usuários esperam os ônibus ao relento.

Será se a meia tarifa seria a questão mais urgente a ser adotada em uma cidade que vê a migração diária de cidadãos saindo de Aparecida de Goiânia rumo a Goiânia? Em que momento os usuários que saem dos bairros de Aparecida e seguem para Goiânia irão se beneficiar desse benefício?

A ideia da meia tarifa é boa, mas, no contexto do transporte coletivo da capital, demonstra na prática ser algo que tem trazido mais dor de cabeça do que benefício de fato, visto que outros problemas sobressaem mais fortes do que o benefício da meia tarifa.

Uma das linhas beneficiadas, a 503, por exemplo, que sai do terminal Veiga Jardim e segue até o Jardim Tiradentes, tem um intervalo entre uma viagem ou outra de mais ou menos 60 minutos. Nos dias de hoje, em que o tempo se mostra um fator cada vez mais importante, quantas pessoas ficariam esperando 60 minutos para fazer um deslocamento relativamente curto, visto que as linhas beneficiadas pela meia tarifa são linhas alimentadoras?

Não adianta o poder público gastar dinheiro em projetos sendo que falta o básico para o transporte público funcionar, como por exemplo, mais veículos em circulação, manutenção de ônibus e terminais. Quantas pessoas deixariam seus carros para o transporte coletivo de Goiânia?

Entrada antes da meia tarifa no terminal Veiga Jardim. Catracas foram retiradas para o meio da plataforma. Foto: RMTC Goiânia

O terminal Veiga Jardim, que foi citado acima, teve a implantação da meia tarifa no dia 21 de abril. No dia 23 de abril, portanto, dois dias depois, foi registrado o esfaqueamento de um homem dentro do terminal, que veio a óbito. Novamente retomo ao ponto: será se não haveria outras questões mais urgentes no transporte coletivo da capital para serem resolvidas antes da implantação do novo sistema? Os usuários dificilmente serão atraídos para um lugar que não dá garantias de que estão seguros.

É necessário que as prefeituras e o governo do Estado tenham dimensão de que o problema da mobilidade urbana da capital, passa necessariamente pelo transporte coletivo. A meia tarifa só será atrativa de fato quando problemas primários forem sanados, como pontos de ônibus adequados para embarque, intervalo entre uma viagem e outra for menor, corredores exclusivos forem construídos, para que as pessoas se sintam atraídas e possam de fato andar pela cidade por um preço menor, garantindo o direito de ir e vir descrito na constituição e, assim, melhorar a mobilidade urbana.

Para que Goiânia seja um modelo a ser exportado, coisa que não é atualmente, ao contrário do que o governador de Goiás afirmou durante inauguração do terminal Paulo Garcia, na capital, é preciso olhar para o básico e investir na solução dos problemas primários para que projetos mais robustos sejam aplicados.

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