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BRUNO JOSE GOULART DARUGNA

Nas noites escuras e, por vezes, frias das ruas da capital paulista, uma voz destaca-se entre os muitos rostos anônimos. Thalessa, uma travesti preta corajosa e resiliente, compartilha sua vida cotidiana através das redes sociais, revelando ao mundo os desafios enfrentados por aqueles que, como ela, vivem à margem da sociedade e se veem obrigados a se prostituir para sobreviver.

Ao seguir Thalessa nas redes sociais, somos confrontados com uma realidade dura e muitas vezes negligenciada. Através dos stories do Instagram, ela compartilha suas experiências, e expõe as dificuldades inerentes à sua vida, embora sempre com um sorriso no rosto.

Sua primeira postagem, é sempre acompanhada de seu café, misturado a leite em pó e um cuscuz com margarina.

“Cadê o bom dia da trans?”, inicia ela com uma voz melódica.

Nascida em uma família de baixa renda de Teresina, no Piauí, Thalessa, uma travesti, preta e pobre, que foge dos estereótipos estabelecidos pela sociedade, viu nas ruas sua única opção para sobreviver. A prostituição tornou-se seu meio de sustento.

Thalessa compartilha, diariamente, no Instagram, a sua vida de prostituição nas ruas de São Paulo. Nos vídeos, ela mostra os encontros, as abordagens feitas por pessoas que buscam sexo, além das dificuldades enfrentadas por não conseguir um trabalho formal.

No final de 2022, devido dificuldades financeiras, ela retornou para casa de sua família no Piauí, onde mora sua mãe e a avó, a quem chama carinhosamente de “Naza”. Lá, passou alguns meses, contudo, em fevereiro, decidiu voltar para São Paulo com o objetivo de fazer um “dinheiro”.

Na despedida da família, que é toda compartilhada pelos stories uma coisa chama a atenção – os olhares tristes da mãe e da avó quase que expressando o medo de não a poder encontrar novamente.

Como é de conhecimento de todos, o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo. De acordo com um levantamento realizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), em 2022, foram registrados no Brasil o assassinato de 131 pessoas trans. Além disso, outras 20 pessoas tiraram suas próprias vidas devido à discriminação e ao preconceito presentes na sociedade brasileira.

Dos 151 casos de pessoas trans mortas no total, em 2022, 65% foram motivados por crimes de ódio, caracterizados por sua natureza cruel. Surpreendentemente, 72% dos suspeitos não possuíam qualquer vínculo prévio com as vítimas. Conforme ressaltado pelo relatório, a identidade de gênero é um fator determinante para essa violência.

Apesar das dificuldades, Thalessa mostra uma determinação inabalável em compartilhar sua história. Ela deseja conscientizar o público sobre a realidade enfrentada pelas travestis e prostitutas, rompendo com os estereótipos e preconceitos arraigados na sociedade. Suas postagens são um convite para uma reflexão profunda sobre os direitos humanos, a igualdade e a necessidade de ampliar o olhar para as pessoas marginalizadas.

Thalessa nos faz questionar o sistema social que a marginaliza e a invisibiliza. Ela nos mostra que a luta pela igualdade não pode ser ignorada, e que cada um de nós tem o poder de promover mudanças positivas em nossa sociedade.

Ao acompanhar Thalessa em suas redes sociais, somos confrontados com uma realidade desconfortável, mas também com a esperança de que a compaixão e a empatia possam desafiar as estruturas injustas.

Thalessa e sua mãe que vive no Piauí. Foto: Redes Sociais

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