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Quem conhece a filmografia de Wes Anderson não confundiria seus filmes com os de nenhum outro diretor. Sua fórmula única e pessoal é inconfundível. A fotografia simétrica: O grande Hotel Budapeste (2014), as narrativas não lineares, personagens peculiares e exóticos: Os Excêntricos Tenenbaums (2001), o humor sarcástico, as histórias fantasiosas que não deixam de ser reflexivas,cenários multicoloridos com paletas de cores tons pastéis: Moonrise Kingdom (2014), são elementos compõem um universo único e exclusivo de Wes Anderson.
Asteroide City obviamente não destoa da corrente do diretor, a trama se passa no início dos anos 50 e apresenta, de forma metalinguística, a construção de uma peça de teatro escrita pelo dramaturgo Conrad Earp, vivido por Edward Norton. Ela é sobre um grupo de pessoas que visitam uma cidade pequena e afastada num deserto dos EUA, para uma convenção de jovens gênios. A cidadezinha tem o nome do título do filme, pois há 5000 mil anos um asteroide caiu na região formando uma cratera, tornando o lugar uma grande atração da desértica cidade.
A narrativa de uma história dentro de outra história, no caso, de um filme para uma peça teatral, é mais uma assinatura de Wes Anderson visto em A Crônica Francesa (2021). Igualmente a obra citada, o filme é separado em três atos, justamente como no teatro. As cenas nos camarins e no palco do teatro são mostradas em preto e branco, enquanto as cenas do filme são multicoloridas.
Asteroide City, possui muitas tramas e subtramas, como uma atriz vivida por Scarlett Johansson, tentando lidar com seu passado, um fotógrafo de guerra viúvo, interpretado por Jason Schwartzman, com seus quatro filhos e enfrentando o luto, sob uma atmosfera de pós guerra, medo da guerra fria e bombas atômicas e invasões alienígenas.
Mas a aura alucinada da história é indiferente para os personagens. Eles são empenhados nas suas próprias inconformidades, nos seus conflitos e objetivos. Esse molde de personagens extremamente distintos, destacam a sutileza deles, que, mesmos os mais hilários e esquisitos, possam observar a dura realidade e os desafios do caminho de cada um.
O elenco é composto por grandes nomes de Hollywood, os já citados Jason Schwartzman de “Scott Pilgrim contra o mundo” (2010), Scarlett Johansson de “Histórias de um casamento” (2019) e Edward Norton de “Clube da Luta” (1999), como também Tom Hanks de “Forrest Gump” (1994), Tilda Swinton de “Michael Clayton” (2007), Adrien Brody de “ O pianista” (2002), Margot Robbie de “Barbie” (2023) e vários outros artistas.
O tema de Asteroide City não poderia ser exclusivamente um, visto que um personagem descreve a peça teatral do filme: “É sobre o infinito e não sei o que mais”. É exatamente o que pode se esperar com Wes Anderson na direção, ele aborda a cultura e a histórica americana até os anos 50, fazendo uma leitura política singular, dialogando com pandemia e crise existencial.
Sua narrativa não convencional, provavelmente deixaria quem não conhece o estilo do diretor, um pouco perdido ou entediado, mas não impediria de passar um mínimo de sentimento de reflexão ao final do filme, como em O Fantástico Sr. Raposo (2009).
O lançamento do filme ocorreu posteriormente aos blockbusters Barbie (2023) e Oppenheimer (2023). Intencionalmente ou não, o diretor alude aos filmes de Christopher Nolan e Greta Gerwig, com sua fotografia remetente a casas de boneca (cenas com enquadramentos separadas por paredes), a própria “barbie” com Margot Robbie no elenco, as explosões das bombas atômicas e o contexto de guerra de Oppenheimer.
Asteroide City, é mais do mesmo (encantador e excelente) de Wes Anderson. A inconformidade do diretor em não se superar em cada obra é admirável. Seu filme pode ser ofuscado nas bilheterias por Barbie e Oppenheimer, mas não por sua qualidade e inovação característica do diretor. Sua longa filmografia ganha mais uma obra com o carimbo Wes Anderson.