Expectativas externas e internas: Entenda a visão de um jovem sobre as cobranças do mundo atual

Escolas, tecnologia e influencers são apontados como catalisadores desse problema
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A adolescência e início da vida adulta está cercada por incertezas e descobrimentos, mas também pelas primeiras grandes decisões de nossas vidas. Com essa grande responsabilidade a juventude acaba sofrendo com cobranças, pressões e expectativas, vindo de diversos lugares e se tornando difícil não estar cada vez mais ansioso e preocupado nos dias atuais.

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Imagem: Getty Images

Para entender o que a juventude pensa sobre isso o estudante Caio Leandro nos concedeu uma entrevista.

Confira a entrevista abaixo:

Lab Notícias (LN): Você acredita que exista algum tipo de pressão ou cobrança sobre os jovens hoje em dia? Quais são as áreas, na sua visão, que essas pressões estão mais presentes?

Caio Leandro: Acho que existe sim uma cobrança muito forte, uma pressão muito grande nos jovens. Isso em todas as áreas, tanto no meio social quanto na escola. Com a escola é a questão de sempre estar tendo um bom desempenho, você tem que apresentar notas boas, você tem que ser um bom aluno e tem sempre essa pressão da escola. Tem a questão do Enem também, que bota uma pressão gigantesca na cabeça dos jovens, porque parece que você é só a nota. Você só importa na sociedade se você tiver uma nota boa, basicamente. Essa é a pressão que a sociedade impõe sobre os jovens na atualidade, na minha visão. E na questão social também tem uma pressão, de você se encaixar em grupos, você tem que estar participando de vários grupos, você tem que estar encaixado ali, porque se não estiver, é excluído.

LN: E você já se sentiu cobrado, mesmo que indiretamente, sobre alguma dessas áreas? De quais locais você vê essa cobrança chegar?

Caio Leandro: Sim, eu já me senti cobrado. E foi na área da educação mesmo, na questão de escola e do ENEM. Me senti cobrado pela própria escola, que coloca muita cobrança em cima de você, coloca muito tipo, ‘você tem que tirar as melhores notas’, ‘você tem que ter o melhor desempenho’, sempre passando isso pra você e colocando essa pressão em cima de você. E a própria família também cobra demais da gente, querendo sempre o melhor resultado e às vezes colocando muito mais expectativas do que deveria, fazendo a gente ter que atender a essas expectativas. E nesse processo a gente se cobra bastante.

LN: Quais são os efeitos dessa cobrança e como ela afeta os jovens, na sua visão?

Caio Leandro: Eu acho que a cobrança tem um efeito muito negativo, principalmente essa cobrança em excesso. E ela afeta os jovens de várias maneiras, com questão de ansiedade mesmo, talvez até na questão de se sentir insuficiente, porque às vezes você é cobrado, você tem uma pressão enorme em cima e você não atende a essas expectativas, você não corresponde a essa cobrança e você fica mal por isso. E tá tudo bem, não atender a essas cobranças e não atender a essas expectativas. Muita gente coloca o Enem, principalmente, como se fosse: ‘não passei na faculdade que eu queria, meu mundo acabou’. E não é assim que funciona, só que a sociedade impõe que é assim.

LN: Internamente você enxerga se cobrando também? Como você vê a influência dessa cobrança na sua vida?

Caio Leandro: Eu acho que eu me cobro internamente. Atualmente eu tenho muito menos do que eu tinha antigamente, acho que na época do colégio eu tinha muito mais uma auto cobrança, a ponto de ser meio doentio, de ficar muito mal e às vezes prejudicar minha saúde mesmo, de fazer coisas para alcançar resultados que estava tudo bem eu não alcançar eles na época do colégio. Mas hoje em dia a auto cobrança que eu tenho em mim não é tão grande assim, eu aprendi a lidar melhor com ela, ainda tem um impacto na minha vida em alguns quesitos, mas muito menos do que ela tinha antigamente.

LN: A geração Z está desde cedo em contato com tecnologias, redes sociais e o mundo digital, você acredita que essa exposição apresenta mais pontos positivos ou negativos? Quais seriam eles?

Caio Leandro: Eu acho que essa exposição prematura da geração Z a tecnologia faz mal, acho que deveria ter uma idade mínima para se começar a introduzir isso nas crianças. Porque a rede social mexe muito com a gente, também gera uma cobrança muito grande. Em outros aspectos que eu não cheguei a citar antes, mas em questão de físico mesmo. O Instagram mexe muito com a gente, a gente se compara muito, a gente fica com a pressão muito grande sobre nosso corpo, e essas coisas. Às vezes a gente se cobra muito para ser igual aquela pessoa que tá no Instagram, mas aquela pessoa que tá no Instagram só posta uma foto, às vezes com filtro, ela nem é assim na verdade. Então acho que prematuramente tem uma influência muito negativa, mas depois de um tempo acredito que fique bem mais neutro, passando mais até para o positivo do que para o negativo.

LN: Hoje a um grande crescimento, principalmente nas redes sociais, de pessoas influentes que divulgam seus estilos de vida“perfeitos”. Na sua visão, isso se relacionaria de alguma maneira com essa pressão na vida dos jovens?

Caio Leandro: Sim, eu acho que tem total relação com a pressão na vida dos jovens, nessa questão de você ver aquele influencer com a vida perfeita, você começa a pensar ‘Pô, por que minha vida não é assim?’. Porque no Instagram ninguém vai postar uma coisa triste, não vai postar ‘Ah, Meu dia tá sendo ruim’. Sempre vão postar a pessoa na praia ou a pessoa num momento feliz. E aquilo começa a entrar na sua cabeça, você começa a pensar tipo ‘O que eu estou fazendo de errado? Por que minha vida não é assim?’. E isso causa uma pressão muito grande na cabeça do jovem.

LN: Hoje muitos jovens enfrentam problemas com ansiedade e vários outros problemas psicológicos. Você acredita que exista uma explicação para isso na forma como a sociedade se relaciona com eles e em como eles estão se relacionando com o mundo? 

Caio Leandro: Sim, eu acho que tem uma relação nessa questão de como o mundo se relaciona com os jovens atualmente, e como eles se relacionam com o mundo de volta. E isso vai muito pela pressão que a sociedade coloca nos jovens e também pela questão da tecnologia, porque é muita coisa nova para a gente. Essa questão de rede social mesmo, é uma coisa que veio nas últimas décadas e são coisas que ainda estão evoluindo. A gente pegou uma fase meio prematura disso tudo, então tá surgindo problemas baseados nas redes sociais e eu acho que a ansiedade e outros problemas psicológicos vêm muito disso, dessas questões novas que estão surgindo e da maneira que a sociedade vem lidando com os jovens, tendo cada vez mais pressão sobre o jovem.

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