Outubro Rosa: ‘Um dos nossos principais desafios é o diagnóstico tardio da doença’, diz mastologista em conversa sobre câncer de mama

Equipe do Lab Notícias entra em contato com médica mastologista para conversar sobre o Outubro Rosa e tirar dúvidas sobre câncer de mama
out 30, 2023 , ,
Tempo de leitura: 7 min

No mês de Outubro são feitas inúmeras ações afirmativas relacionadas à prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama. A Campanha tem como foco alertar e informar mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e também o de colo de útero. Diante da importância do assunto, a equipe do Lab Notícias entrou em contato com Aline Regina Nunes Reis, médica Mastologista do centro de Oncologia IHG, mestre e doutoranda em Ciências da Saúde UFG, com o objetivo de tirar as principais duvidas sobre o assunto e manter a população informada.

Aline Regina Nunes Reis (Fonte: Acervo pessoal)

Lab Notícias (LN): Qual o propósito da campanha ?

Aline Nunes: O objetivo da Campanha do Outubro Rosa é alertar a população sobre o câncer de mama, além de oferecer meios para facilitar o acesso ao atendimento médico e a realização dos exames de rastreamento.

LN: Quais são as atividades e iniciativas que ocorrem durante o mês de Outubro para apoiar a conscientização?

Aline Nunes: Durante a campanha são realizadas palestras em diversos locais públicos e privados, como empresas e hospitais. Também há os encontros em praças com fornecimento de material informativo e a realização de mamografias ali no local. Além disso, são realizadas reportagens em TVs, rádios, jornais e posts nas redes sociais.

LN: Quais são os principais desafios enfrentados na luta contra o câncer de mama, e como o Outubro Rosa contribui para superá-los?

Aline Nunes: Um dos nossos principais desafios é o diagnóstico tardio da doença, pois isso influencia no tratamento e também nas chances de cura da doença. Quando o diagnóstico é precoce a paciente é submetida a tratamentos mais conservadores e menos mutilantes e apresentam maiores chances de cura. O Outubro Rosa contribui para que possamos fazer mais diagnósticos precoces através da mamografia de rastreamento, pois se descobrimos a doença ainda antes de surgir o nódulo palpável as chances de cura serão maiores.

LN: Como as pessoas podem se envolver e apoiar a campanha?

Aline Nunes: Toda a comunidade deve estar envolvida na campanha. As mulheres devem realizar a mamografia de rotina e estimular todas as mulheres que conhecem a realizarem também. Os homens também devem estar atentos a qualquer alteração que apareça em suas mamas e devem estimular as mulheres da sua família a realizar a mamografia de rastreamento.

LN: Quais os avanços recentes na pesquisa e tratamento do câncer de mama foram influenciados pelo outubro rosa?

Aline Nunes: As pesquisas e o tratamento da doença estão cada vez mais individualizados e visando, além da cura, o bem-estar e a qualidade de vida das pacientes. Hoje temos leis que garantem a reconstrução mamária imediata para as pacientes após o tratamento cirúrgico, sempre que possível. Houve ainda maior acesso aos pacientes do SUS e da rede privada a medicações novas que aumentaram as taxas de cura. No Estado de Goiás, o governador assinou há alguns dias parceria com a UFG para garantir acesso às pacientes com câncer de mama ao teste genético. Então são inúmeras conquistas nos últimos anos que a campanha do Outubro Rosa vem proporcionando às mulheres.

Nota da redação: [A parceria a qual a médica se refere foi firmada pelo governador Ronaldo Caiado no dia 19 de outubro, no Palácio das Esmeraldas. A assinatura faz parte do projeto de ações Goiás todo Rosa e permite que mulheres que possuem alterações mamárias consideradas suspeitas possam fazer o teste de sequenciamento genético de forma gratuita a partir de uma amostra de sangue simples.]

LN: Quais são os principais fatores de risco associados ao câncer de mama?

Aline Nunes: O surgimento do câncer de mama não tem uma causa única, sendo vários fatores de risco envolvidos, entre eles estão o sexo feminino, o avançar da idade, primeira gravidez após os 35 anos, sedentarismo, obesidade, uso de terapia hormonal na menopausa com estrogênio e progesterona, consumo de bebidas alcoólicas e a exposição a radiação ionizante em doses altas ou moderadas (como ocorre no tratamento de alguns tumores de mediastino). São considerados também fatores de risco a história familiar de parentes de primeiro e segundo grau com câncer de mama ou ovário e pessoas com mutações genéticas, em especial mutação dos genes BRCA 1 e BRCA 2.

LN: Pode compartilhar informações sobre os métodos de rastreamento e diagnóstico precoce do câncer de mama?

Aline Nunes: Entre os métodos de rastreamento e diagnóstico temos a mamografia, ultrassom e a ressonância de mamas. A mamografia de rastreamento está indicada, segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia, para todas as mulheres a partir dos 40 anos, anualmente. Caso a mulher tenha casos de câncer de mama na família, ela deve procurar o médico mastologista para avaliar a necessidade de iniciar este rastreamento antes desta idade. A ultrassom está indicada como complementar à mamografia e nos casos de nódulos de mamas. A Ressonância nuclear magnética (RNM) das mamas está indicada no rastreamento de mulheres de alto risco com mutação genética e complementar em alguns casos a mamografia.

LN: Quais são as opções de tratamento disponíveis para o câncer de mama, e como as pacientes podem tomar decisões acerca do seu tratamento?

Aline Nunes: O tratamento envolve cirurgia, quimioterapia, radioterapia, terapia alvo e hormonioterapia. A definição de cada tratamento envolve o tipo do tumor, seu tamanho, idade da paciente e comorbidades que ela já tenha, por exemplo: a radioterapia tem que realizar as pacientes submetidas a cirurgias que conservam a mama, se ela fizer mastectomia irá ser submetida a radioterapia se o tumor medir mais de cinco centímetros ou se tiver 4 ou mais ínguas com doença na axila. Também é possível realizar a radioterapia intraoperatória (durante a cirurgia) em alguns casos. A hormonioterapia é utilizada para as pacientes que o tumor tem receptores hormonais, tumores com hiper- expressão do HER 2 utilizam medicamentos para bloquear este receptor, tem ainda medicamentos utilizados para pacientes com mutação genética BRCA. A paciente deve sempre conversar com seu médico assistente, pois o mesmo irá avaliar as medicações indicadas no seu caso e também o melhor tratamento cirúrgico e adjuvante para ela. Para redução dos efeitos colaterais das medicações que causam a queda de cabelo (alopecia) é possível utilizar, na maioria dos casos, a touca térmica fria, que é uma touca que causa um resfriamento do couro cabeludo e a paciente inicia o uso mais ou menos uma hora antes do início da quimio e durante toda a aplicação, que em geral é mais ou menos três a cinco horas.

LN: Como o apoio emocional e psicológico desempenha um papel importante no tratamento e recuperação das pacientes?

Aline Nunes: O apoio emocional e psicológico é essencial durante todo o tratamento e no seguimento das pacientes com câncer de mama. O tratamento exige tempo, tem efeitos colaterais, interfere na qualidade de vida e na rotina da mulher. Com uma rede de apoio familiar e de amigos, o processo se torna menos doloroso para a paciente. Além disso, o acompanhamento especializado com psicólogo também auxilia no enfrentamento da doença, na adesão ao tratamento e acompanhamento.

LN: Quais são os sinais de alerta do câncer de mama que as mulheres devem conhecer e monitorar?

Aline Nunes: As mulheres devem realizar o autoexame das mamas uma vez ao mês, sendo que as mulheres que menstruam o período ideal é 7 a 14 dias após o início da menstruação. As mulheres que não menstruam devem escolher um dia do mês para realizar o exame. Durante o exame devem se olhar no espelho e observar se há alguma mudança no formato ou na pele das mamas. Após, devem realizar a palpação das mamas com a mão contralateral à procura de nódulos (caroços) nas mamas.

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