Quando a luz se apaga: jornada contra a depressão pós-parto

Em busca da razão da perca de luz dessas mães que dão a luz, a equipe do lab notícias foi em busca dos motivos da depressão pós parto
jan 17, 2024 ,
Tempo de leitura: 7 min

Segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Brasil, cerca de 26,3% das mulheres que dão à luz apresentam sintomas de depressão pós-parto, o que representa aproximadamente uma em cada quatro mulheres. 

A equipe do Lab Notícias, a fim de ir mais a fundo para a compreensão do assunto, entrou em contato com a professora e psicóloga clínica e hospitalar, especializada em luto gestacional, neonatal e infantil, Michelle Castro.

Baby Blues

De acordo com Michelle, o Baby blues ou a melancolia da maternidade é uma tristeza persistente pós-parto, que traz para a mulher muita culpa, solidão, choro incontrolável, entre outros sintomas. Muitas as mulheres só percebem o baby blues quando contam para ela que é, muitas das vezes elas não tem conhecimento do que se trata e até se assustam confundindo com a depressão pós parto.

Um dos fatores para o baby blues é a despersonalização da mulher diante da sociedade que começa a tratá-la não como uma pessoa mas como a mãe de alguém. Essa despersonalização apesar de ser principalmente por parte da sociedade também vem dela que está passando por esse período de descoberta de uma nova identidade.

Muitas vezes as pessoas não percebem que a mulher está com baby blues porque não olham para essa mulher, por exemplo, quando vão visitá-la no pós-parto focam apenas no bebê em vez de oferecer apoio para a mãe. 

O baby blues dura em torno de duas semanas e ocorre entre 80 e 90% das mulheres.

Depressão pós parto (DPP)

De acordo com a psicóloga, a depressão pós-parto é uma condição específica do período perinatal. Neste caso, ocorre no pós-parto, entre a quarta e a oitava semana, previamente. Mas ainda pode ocorrer em qualquer período até o primeiro ano após o parto e acomete de 10 a 15% das mulheres.

Os sintomas seriam irritabilidade, choro frequente, sentimento de desamparo, falta de energia, alterações alimentares e no sono, sensação de incapacidade, também podem ocorrer, dores nas costas, erupções na vagina e dor abdominal. 

Ela explica que a diversos fatores que podem levar ao um quadro de depressão pós parto, um dos fatores de risco para desenvolver DPP é a depressão prévia ou condições psicopatológicas prévias, como a depressão, ansiedade, transtorno compulsivo obsessivo (TOC), transtorno bipolar. A mulher estar inserida em um ambiente abusivo, por parte da família e/ ou cônjuge, não ter uma rede de apoio, por exemplo, o pai da criança ou também viver em situação de carência econômica.

Michelle fala sobre o que diferencia o baby blues da DPP, que seria a duração desse período, visto que, o baby blues passa espontaneamente, ele tem uma duração por volta de 10 a 15 dias, diferente da depressão pós parto que os sintomas da doença persistem e é necessário tratamento psiquiátrico, somado aos sintomas que são característicos da DPP. Como por exemplo, esses sintomas de melancolia não permanecem, o medo e insegurança se tornam fobia, a mulher começa a ter pensamentos negativos sobre si e sobre o bebe.

Essa mãe passa por um processo que se chama perturbação da amamentação que se trata do momento em que ela pega o bebe para amamentar e não consegue porque ela suporta olhar para ele, não suporta sentir o cheiro da amamentação, ela chora e rejeita a presença da criança. 

Então o que difere o baby blues e a DPP é em principal a duração dos sintomas, a depressão pós parto não é diagnosticada antes do período de duas semanas.

O desafio do diagnóstico é a mulher não identificar os sinais de que ela está doente ou mesmo quando idêntica fica com receio de verbalizar o que está sentindo por medo do que as pessoas vão achar, se irão querer afastar ela da criança, se vão julgá-la uma má mãe, então cabe a rede de apoio de dessa mulher ficar atenta aos sinais silenciosos, reparar o comportamento dela e também do bebe, visto que o bebe é um reflexo da mãe.

Tratamento

A psicóloga explica que o melhor tratamento é a prevenção, o cuidado no pré natal, o processo de prevenção a DPP que é chamado de pré-natal psicológico, se a mulher tem acesso aos exames necessários, à alimentação adequada, se a assistência para essa mãe.  

Ela ressalta a necessidade procurar ajuda especializada, a abordagem nesse caso deve ser feita de maneira multidisciplinar: psiquiatra e psicólogo, de preferência um especialista em perinatalidade, obstetra e outros profissionais que possam investigar uma possível condição medica.

Também se pode procurar um grupo de apoio onde essas mulheres podem compartilhar o que estão sentindo com outras mães que estão passando pela mesma situação.

Consequências

As consequências da DPP atingem a mãe e o filho. Pode afetar a relação futura deles, o desenvolvimento social e cognitivo da criança, e causar sequelas em ambos.

O não tratamento da depressão pós parto também traz consequências, em casos mais graves pode levar ao suicídio da mãe e/ ou a morte do bebe por negligência.

Relatos contra a depressão pós parto

Em busca de compreender o que essas mulheres passam durante esse período, o Lab Notícias conversou com duas mães que tiveram DPP. Maria Aparecida Golçalves, que passou por essa experiência ao ter sua primeira e única filha aos 24 anos, conta que sentia muitas dores de cabeça, tremores e insegurança para cuidar da bebê. Para ela o maior desafio era lutar contra si própria e saber que tinha alguém por quem era responsável: “ Eu sabia que precisava lutar para sair do estado depressivo que estava e ao mesmo tempo ter que ignorar o que as pessoas falavam “.

Cleria Borba, hoje com 46 anos, também conta como foi passar por esse período, ela relata que notou os primeiros sinais por causa do desânimo que sentia “ Eu só queria dormir o tempo todo, minha vontade era só dormir”, assim como para Maria Aparecida o seu maior desafio também era cuidar do bebe. Foi o esposo de Cleria que notou que ela não estava bem, e procuraram por ajuda “ Eu nem entendia e ele percebeu primeiro que não era normal eu estar tão desanimada e tão triste”.

Já Maria relata que não teve o apoio de ninguém para passar por esse período, ela conta que não teve a oportunidade de procurar por ajuda e não entendia o que estava acontecendo, porém hoje ela compreende o que aconteceu e quando alguém fala sobre isso ela entende pelo o que essa mãe está passando.

Ambas as mães aconselham as mulheres que estão passando por isso a procurarem por ajuda, Cleria fala que não são todas as mães que têm a oportunidade de ter apoio assim como o que ela teve de seu esposo. Maria Aparecida ressalta que se não procurarem por um tratamento irão carregar o trauma pelo resto da vida.

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