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Piter Salvatore, em sua infância, pegava uns livros ou outros na biblioteca, sejam eles gibis ou alguns contos. Já no Ensino Médio, a ficção o atraiu após seu pai levá-lo para uma livraria, onde pegou de cara três exemplares, um deles sendo do genial Edgar Allan Poe. Após esse evento, o hábito de leitura foi se transformando em vício.
Vício que possibilitou a Piter, entre seus nove a dez anos, se interessar a criar suas próprias histórias. Em 2015, foi apresentado à rede social Wattpad, onde poderia compartilhar as narrativas que surgiam de sua criatividade com outros leitores e escritores, até chegar em 2021, quando sua profissionalização na área já estava consolidada e ele sabia qual era a sua missão como autor nacional.
Como escritor do gênero gótico, Piter reconhece que dentro do Brasil existe uma parcela da população interessada e dedicada a conhecer o que ele produz. De certa forma, está fora do grandioso mainstream, mas aplicativos como o Instagram puderam dar a Salvatore chances de se conectar com as pessoas que possuem o mundo literário similar ao seu e que desejam compartilhar suas experiências com suas leituras e sentimentos em relação a uma obra.
Não só o Wattpad, o Instagram; nem o gótico. Vários autores e leitores brasileiros viram no mundo digital uma maneira de expandir seus gostos, projetos e opiniões, esses sendo compartilhados de maneira facilitada, uma vez que no ano de 2021, durante a pandemia, o aplicativo de vídeos TikTok se tornou totalmente fenomenal na globalização e conexão entre indivíduos. A hashtag “Booktok”, dentro da rede social, inclui até hoje esses elementos não só de pertencimento entre leitores, mas também a ampliação do hábito de leitura entre os young adults, jovens de 18 a 30 anos, conforme o Jornal Cacos, da Universidade Federal de Uberlândia.
Mesmo a tag sendo enorme, contando com 170 bilhões de visualizações no aplicativo, consoante dados da revista eletrônica Emerge Mag, e tendo seus pontos positivos como dar chances a pequenos autores e motivar a leitura entre uma taxa de jovens, é importante lembrar que ela carrega consigo suas desvantagens para além, também, desse público. Dentre elas, a desvalorização de obras literárias brasileiras para com livros de autoria internacional, a adaptação da literatura impressa nessa nova era da digitalização e as desigualdades sociais que restringem cidadãos, focando, principalmente em crianças e jovens, de poderem consumir literatura e tornar a leitura presente em suas vidas, se destacam na abordagem realizada.
Inicialmente, o Lab Notícias enviou um formulário para o Fórum de Jornalismo da Universidade Federal de Goiás (UFG), com o intuito de saber, entre esse grupo de pessoas, como o hábito de leitura foi instaurado em suas vidas e como permanece. Dentre 8 respostas avaliadas, 80% se atraem e leem principalmente o gênero romance; 62,5% consomem mais obras internacionais do que nacionais, essas, também por maioria, chegando a eles por indicações de amigos ou mediante publicações de opiniões e/ou reviews nas redes sociais citadas anteriormente, como o Instagram e o TikTok.
Mesmo que em números menores, gêneros como ficção, biografia e suspense ainda se tornam presentes; alunos dessa bolha também procuram documentação nacional em relação a acontecimentos históricos e emblemáticos do Brasil, mostrando que, ainda que dentro da realidade onde há essa onda de concentração de obras e gêneros focados em apenas algumas áreas, é possível manter diversidade entre os temas contados e a (mínima, mas ainda existente) valorização das obras de autoria nacional, desacelerando a alienação completa para pouquíssimos conteúdos.
Tanto para esses estudantes, em sua maioria, e para Piter, “há espaço para essas obras no consumo da literatura no Brasil. Talvez não de forma majoritária, até porque o hábito de ler não é necessariamente um hábito brasileiro, e sim de algumas parcelas da população, evidentemente”.
A relação dos livros impressos e eletrônicos com o mercado editorial brasileiro
Além disso, a discussão entre os entrevistados do Lab Notícias foi variada e complexa em relação à atual estrutura de acesso e formato dos livros. Um dos levantamentos realizados pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livro (Snel), evidencia que o faturamento de conteúdos digitais para com tradicionais foi 28% maior em 2022 em relação ao ano anterior, e em 4 anos com o crescimento de 95% em relação aos conteúdos físicos.
“Acho que os livros impressos não entrarão em desuso, mas os livros digitais são mais práticos e baratos. Por isso, acho quase impossível que os livros impressos retomem a importância de antes no cenário”, diz aluno não identificado pelo formulário enviado. Na visão de Salvatore, como alguém que trabalha diretamente na área, “a leitura digital fornece mais acessibilidade, pois os livros são mais baratos e têm mais aparatos tecnológicos capazes de trazer uma leitura acessível à maioria das pessoas. Os e-books são mais fáceis de distribuir também, geram mais circulação e material para divulgação — os links são ótimas ferramentas para isso. O livro físico é mais caro, mais custoso de fazer, porém, ainda dá aquela sensação de que você está, realmente, lendo, pois o objeto e o ato de ler propicia diferentes estímulos sensoriais”.
Formalmente, o Lab Notícias trouxe Maria das Graças Monteiro, docente no curso de Biblioteconomia e doutora em Educação pela UFG, com redes de pesquisas nas áreas de mercado editorial, processos editoriais e produção editorial brasileira para jovens e crianças para dialogar sobre as questões pautadas acima.
Graça, no primeiro instante com o LN, esclarece a composição do corpo editorial de um livro e debate, o que é a literatura para o jovem?: “Quem é a cadeia produtiva do livro? É quem escreve, quem produz materialmente o livro e quem faz a mediação dele, seja professor, bibliotecário, ou mesmo jornalista. Para a gente tratar da discussão da literatura para jovem hoje, tem que partir desses três pressupostos. Nós estamos falando de gênero literário, atualmente contemporâneo, e por onde que está caminhando. Nós temos que entender que jovem é esse e como os suportes desse gênero literário estão sendo promovidos: o livro físico e o livro digital. Eu acho que é uma tríade que precisa ser compreendida na inter-relação entre elas”.
“A literatura para o jovem hoje, que nós estamos tratando aqui, tem um movimento muito grande no mercado editorial, que parte muito para temas identitários. E que é um pouco preocupante, porque a literatura fica de lado e os livros viram manifestos — nada contra nem a temática, nem a causa de identidade, nem ao manifesto — mas eu tenho que entender o que é a literatura. Nem todo mundo tem a habilidade para escrever textos literários. Isso é uma questão, mas o mercado se movimenta nesse sentido, nós não podemos tirar ele de foco hora nenhuma”, afirma a professora, esclarecendo que vivemos numa estrutura capitalista onde a demanda do produto se torna de rápida substituição e com pequeno tempo de demanda, onde houve e há grande influência das mídias digitais.
No debate entre o suporte de livros, Graça declara que “o tempo do livro [físico] é diferente do tempo digital. Tá aí, para mim, o principal entrave no livro digital”. Expondo as fontes informadas sobre o custo de produção de obras em formato digital, a pesquisadora discorda: “O custo é infinitamente menor? Não! Porque mesmo no digital, o processo de produção do livro não é diferente do físico, a única etapa distinta é a impressão. Então, todo o processo de produção gráfica, tradução, revisão, editoração, diagramação, ilustração, dependendo de cada obra, é o mesmo, e isso vai se diluir em quê? Sempre na tiragem. Então eu penso que existe uma fetichização, como sempre, do suporte eletrônico”.
“Sempre uma parece conto de fadas, né? É como uma luta entre o bem com o mal. Não é isso, nós temos que entender um conceito que é dialético. Ele é e não é ao mesmo tempo, tanto físico, quanto digital. Ele vai se constituir como um objeto não substitutivo, mas adequado à necessidade. Uma das questões que eu acho que pesa muito nessa perspectiva é que, com um livro físico ainda, você tem um mercado de sebo gigantesco que o digital não vai substituir nunca, porque lida com a perspectiva de você pegar uma obra e a ver em épocas diferentes, como ela foi impressa ou como você quer efetivamente fazer leitura naquele formato, da qual ela foi produzida”, exemplifica Graça,
falando sobre Algumas poesias, de Carlos Drummond, que foi transformada em uma edição facsimilar e fotografada com todas as anotações e revisões do autor na primeira versão do livro — coisa que só se é possível experimentar e viver fisicamente. “O livro é uma experiência material; o digital é uma experiência, acho, cognitiva de outra ordem, mas que não substitui essa experiência material, então não dá para querer comparar ou incomparável”.
A formação de (novos) leitores, obras e autores no Brasil
A professora, em sequência, mostra como acredita que, primeiro, temos de criar uma relação e viver experiências com livros físicos para a nossa formação como leitores: “Para a criança, na primeira infância, o livro é material, ele não pode ser digital nunca, até porque a criança se constitui concretamente pelo pensamento na relação com o objeto nominado pelo adulto. Então, ela não decodifica ainda, né? Não sabe ler, não entende o código, mas o objeto lhe sugere, pela sua estrutura física, a narrativa, e não é essa narrativa que a gente está ouvindo falar hoje em dia. A narrativa é a história contada, o processo narrador da história. Esse processo com a criança na primeira infância faz com que ela construa, portanto, todos os seus ferramentais cognitivos para se tornar uma leitora”.
“Para cada tipo de texto, você tem um tipo de leitura e um tipo de leitor. Se você vai ler um texto informativo ou um jornal, eles permitem que você esteja sentado de qualquer jeito, porque é uma leitura mais fluida, uma leitura que você pode parar, interromper e continuar a ler sem comprometer a compreensão. Se você vai ler literatura, já é outro estado de relação com o objeto; se você vai ler um texto científico e estudar para prova, é outra coisa, você precisa ter inclusive, fisicamente, um comportamento que traga concentração para o processo de leitura. Então, a leitura é árdua”, insiste Graça, ao falar que o hábito de leitura é um processo lento, gradual e sistemático que desenvolvemos ao longo da vida. Também, expõe que vamos nos comportando de maneira diferente à medida que temos acesso a estruturas textuais distintas em nossos contatos com esses tipos de leitura.
Wilson José Flores, professor de Teoria da Literatura na UFG e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Literatura (POSLIT) da Universidade de Brasília (UnB), nos leva ao debate aonde pontua que “a escola tem uma dificuldade grande, que é o nosso sistema educacional [em] formar leitores. É algo que ela deveria fazer. A outra situação é o fato de o TikTok e outras formas serem muito visuais e terem formas, também, de leitura de texto muito rápidas. Portanto, o tipo de atenção que um texto mais longo exige foi modificado pelas condições, tanto educacionais, o que, esse aqui, é um problema social fortíssimo, quanto, por outro lado, pelas novas tecnologias e pelas formas de comunicação atuais”.
Em tempos hodiernos da digitalização de livros, Wilson acredita que o modo de escrita muda conforme a época vivida. “Existe o surgimento, o que também é normal, de formas de escrita literária ligadas à linguagem das redes sociais. Então, romances vão sendo escritos ao longo de um tempo a partir de formas variadas de elaboração. A própria dinâmica dessa escrita muda, né? Então, a gente tem duas coisas: de um lado, o acesso e de outro lado, formas novas de escrita, que convivem com formas tradicionais; claro, com as diferenças de cada época. A maneira de escrever, o estilo, etc., varia a depender do tempo”, afirma o professor.
Em sequência, no debate com o educador de literatura, abre-se espaço para falar sobre gêneros de livros que estão sendo lançados ultimamente e crescendo no atual cenário, em relação, também, às obras internacionais: “O inglês é, continua e vai continuar sendo durante um tempo a língua franca do mundo. Coisas escritas em inglês vão ter uma difusão maior, porque a quantidade de pessoas que irão reproduzir isso no mundo inteiro é infinitamente maior e, portanto, incomparável com o que seria possível fazer no Brasil. A capacidade de difusão cultural de obras em inglês tem a ver com o primeiro ponto [citado acima]”.
“Um nicho seria trabalhar com narrativas de apelo mais amplo, que trazem histórias que de repente podem interessar um público. Uma narrativa fantástica escrita no Brasil é muito difícil de concorrer com a quantidade de narrativas fantásticas de expressão mundial”, exemplifica sobre o gênero abordado.
Piter, em relação ao seu gênero e à ocupação de espaço e visibilidade como autor nacional, afirma e percebe que “existe, sim, uma bolha de consumidores de ficção gótica aqui, formada tanto por escritores, editoras e leitores. Ainda assim, além de mim, outros autores estão avivando as páginas góticas nas nossas terras, como Patricia Ferreira, Indy Sales; somos uma legião, mas ainda não achamos oportunidade de levar isso aos grandes veículos de comunicação. Resta, para nós, o lugar das redes sociais, dos sites, dos veículos mais indies, mas que eu particularmente prefiro por questões de liberdade e autonomia.”
Alguns desafios enfrentados na cena literária nacional
A Lei de n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, prevê que a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. O acesso à leitura está inclusa na cláusula. Entretanto, sabemos que impasses derivados das grandes desigualdades sociais persistentes no Brasil privam indivíduos nas mais baixas camadas do coletivo social de usufruírem desse direito.
Wilson, quando comenta que nosso sistema educacional não forma leitores, mas traz informes recentes. O estudo, feito a partir de análises de dados do exame internacional Pisa (2018), revela que entre 66,3% dos alunos brasileiros de 15 e 16 anos, o livro mais extenso já lido não passou de 10 páginas. A pesquisa foi realizada pelo Centro de Pesquisas em Educação, Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), em parceria com a plataforma de leitura Árvore. Portanto, não são só as desigualdades que bloqueiam esse avanço.
Com o acesso à leitura sendo ainda totalmente elitizado no Brasil, Graça, aprofunda nas dificuldades em se formar um bom leitor, incluindo a quase-totalidade da sociedade brasileira: “temos que separar essas estruturas: a biblioteca como um equipamento social, o livro como um bem cultural, que deveria circular nas escolas — e não é mérito das classes desfavorecidos, porque as escolas privadas caríssimas também não tem biblioteca.”
“Nós estamos falando de uma totalidade de leitor que pega todas as classes sociais, nós temos um universo leitor muito pequeno. Mas isso é um cenário também restrito, nós estamos falando de política pública, estamos falando que nos últimos sete anos, com esse maldito governo que acabou, tivemos destruído programas essenciais, como o Programa Nacional de Biblioteca da Escola (PNBE), que existiu até 2016. O que nós temos que entender é que o livro é algo que precisa estar em bibliotecas, bibliotecas são de uso coletivo; acervo tem que ser pensado de acordo com cada comunidade e atender os interesses dela. Se for pública, pensando na comunidade, se for escolar, pensando na etapa de escolarização, e nós não temos isso”.
Graça ainda comenta sobre a falta de aplicação de projetos legislativos e o modelo capital da nossa sociedade: “nós temos diferenças regionais absurdas; temos de compreender que o MEC [Ministério da Educação] estrutura a política educacional, mas quem executa são estados e municípios, e os interesses políticos, hoje, de grandes organizações sociais, como Instituto Cultural Itaú, [entre outros] grupos financeiros e econômicos em suas organizações sociais, estão com diretrizes muito definidas na escola pública, pela lógica neoliberal de produzir um sujeito para o mundo do trabalho, e não sujeito autônomo. Então são questões precisam ser tratadas no macro para a gente conseguir entender o micro”.
Wilson José, falando sobre como incentivar a leitura de obras nacionais literárias, crê que não é preciso banalizar Machado de Assis ou Guimarães Rosa, a exemplo, mas sim, dessacralizar, tirar o sentido limitador que essas obras possuem. “Não se trata de querer criar escalas de valor, se trata de querer entender que são formas distintas de expressão narrativa e de expressão literária, que todas elas têm um lugar, e que é possível, sim, falar delas e abrir um pouco mais o campo da discussão. Na escola tem que acontecer, porque quem sabe, numa conversa como essa, a gente cria situações em que, aos poucos, os professores possam fazer além do que ele já tentam individualmente, que possam ter ali referências interessantes para trazer para os alunos hoje”.
Tocando na desafeição pelo suporte eletrônico, a ex-livreira Maria das Graças mostra um livro que produziu junto de seu marido que atua na área editorial e gráfica, trabalho coletivo que durou 10 anos. O livro conta a história do grupo de dança Quasar, entre páginas recortadas que simulam os movimentos de uma coreografia. “É um objeto de experiência e é uma proposta de trazer para o livro a dança. Então, ele foi pensado graficamente no movimento do balé e ele começa com uma série de imagens para depois ter texto. Você acha que isso aqui pode ser substituído por qualquer formato digital? O livro é todo pensado nesse movimento. Eu acho que é isso, assim não há possibilidade”.
Em seu último depoimento, enfatiza uma questão: “por mais que a gente diga que o acesso das redes proporcione democratização e acesso irrestrito, não é verdade, se você não tiver um sujeito que saiba onde buscar as coisas, para você ter um fluxo de informação, para poder se abastecer”.
Mesmo entre desavenças e descrenças, ainda existe esperanças para mudanças no cenário.
Um olhar para o futuro
Piter, em sua entrevista com o LN, esclareceu suas expectativas para com o crescimento da literatura entre os brasileiros que estão permitidos a viver essa realidade. “A literatura no Brasil tem crescido graças ao esforço dos autores nacionais, das editoras, dos influenciadores e de todo o pessoal que está envolvido nesse meio. É um trabalho de equipe e feito em conjunto. Cada vez mais vemos pessoas nas Bienais e outros eventos literários de grande renome. Tanto o consumo de livros, de modo geral, quanto o aumento na venda e leitura de autores nacionais se deve a essa múltipla mobilização. Usar as redes e os canais de comunicação é a melhor estratégia para fazer o estilo circular”, diz com convicção.
Entre os alunos que responderam o questionário elaborado pelo LN, novamente, há segmentações opinativas que se convergem. Enquanto um aluno crê que “o movimento de valorização da literatura nacional vem ganhando força, e autores e editoras independentes trabalham muito nisso também”, outro diz acreditar que “o espaço literário brasileiro continuará onde está, sem muita perda ou expansão. Pois, apesar da atualidade buscar sempre por informações e leituras rápidas, sempre haverá clássicos ou não clássicos que farão com que a leitura permaneça”.
Uma aluna aponta que “há, atualmente, três públicos: 1. os que preferem livros impressos; 2. que preferem livros digitais; e 3. que consomem ambos. Acho que esses três públicos podem conviver. Quem gosta de livros impressos não vai abandoná-los, e o mesmo se aplica àqueles que já se acostumaram com os livros eletrônicos”.
Que a leitura permaneça para quem lê. Para quem ainda há a possibilidade de criar esse hábito como presente e rotineiro na vida, é necessário que haja diálogo entre esses grupos, diz Wilson. “Se a gente conseguisse conversar, ele como escritor, eu como professor de Literatura, o outro como professor de ensino Municipal de Educação Básica, a gente conseguiria, as ideias seriam trocadas. E aí é um que diz que pode colaborar com o outro, e é possível que, eventualmente, com o tempo, até surja alguma coisa em que todos participam. O principal é que as ideias sejam trocadas, e que eventualmente cada um trabalhe ali com sua maneira, com seu enfoque, com ninguém ensinando ninguém. Não é assim, é justamente contando as experiências e discutindo possibilidades. Quando a gente consegue criar canais de diálogo, ganhamos muito, a gente vive. Esse é um princípio básico da democracia. Esse é um princípio básico do conhecimento. A gente tem que criar diálogos, [mas] é algo que o nosso tempo tem mais dificuldade, ele cria nichos e segmenta excessivamente.”
“No caso da questão educacional, seria preciso um olhar atento e uma discussão séria ligada a políticas públicas, que é um problema que nos acompanha desde sempre, e que às vezes dá algum desânimo em relação às possibilidades de solução, mas que, ainda que às vezes a gente desanime, ele tem que continuar na pauta, temos que continuar fazendo”, insiste o professor.
Para além de ter esperanças, é preciso pô-las em prática. Ações grandiosas, como a atuação efetiva do governo para com projetos de educação e leitura até um professor de escola, na periferia, integralizar seus alunos dentro da literatura, seja por um livro impresso ou por um aparelho digital, pelo diálogo ou por meio de outras dinâmicas, são enfoques que tornam a visão de um melhor futuro possível para a realidade literária do Brasil.