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Foto: Roberto Correa

Para o torcedor vilanovense “esperança” possui significado único. Um termo que muitas vezes não entra em rodas de discussão, mas que vive no coração do amante colorado. Depois de 38 anos fora da elite do futebol brasileiro, os altos e baixos são corriqueiros, uma verdadeira montanha russa de sentimentos. As decepções, alegrias, choros e gritos são comuns nas arquibancadas do Onésio Brasileiro Alvarenga.

Depois de uma temporada de 2022, no qual o respiro de alívio por escapar do rebaixamento foi mais alto do que muitos gritos de gols, essa tal esperança pareceu cair no esquecimento. Entretanto, para uma torcida apaixonada, nem o pior dos momentos é motivo para o abandono, e no ano de 2023 o futebol parecia querer contar uma nova história.

Eliminações e decepções logo no início da temporada

No campeonato goiano de 2023, a campanha do tigrão foi apagada. Desde 2005 o Vila Nova não ergue a taça de campeão goiano e mais uma vez ficou pelo caminho. Logo nas quartas de final, o Vila foi eliminado pelo Anápolis e deu adeus à competição.

Além do Goianão, as eliminações precoces na Copa Verde e na Copa do Brasil feriram e muito o orçamento da equipe. Na Copa Verde, o Vila também caiu nas quartas de final, sendo eliminado pelo Cuiabá. Já na Copa do Brasil, em derrota para o Naútico, o tigrão se despediu na segunda fase da competição. Apesar das derrotas, Claudinei Oliveira foi mantido no comando, dando início ao seu trabalho no Brasileirão série B.

Primeiro turno do Brasileirão série B

Átipico. Essa palavra define o primeiro turno do Vila Nova nesta campanha. O tigrão foi conhecer uma derrota no campeonato apenas na rodada de número 9. Sobre o comando de Claudinei Oliveira, o colorado se mostrou um time muito sólido defensivamente, capitaniado por Rafael Donato, zagueiro forte e veterano, Rodrigo Gelado, um lateral jovem, rápido e muito presente nas contruções de jogadas do Vila, Dênis Júnior, que mostrou ser um goleiro decisivo fazendo importantes defesas. Além de contar com a experiência de Ralf, ex-Corinthians, atuando como volante e fazendo uma boa função de terceiro zagueiro em contra-ataques.

Somando isso a um ataque eficiente, o Vila chegou a assumir a liderança do campeonato no triunfo sobre o Vitória na rodada 16. O primeiro turno foi de fato avassalador, carimbando o favoritismo do tigrão na briga pelo acesso. Ao fim das 19 primeiras rodadas, o Vila somou 35 pontos em 10 vitórias, 5 empates e 4 derrotas, ocupando o G-4 em 3º. Além da boa classificação, o colorado finalizou o turno com a melhor defesa do campeonato, sofrendo apenas 8 gols.

A esperança e o entusiasmo haviam voltado. A cada jogo as arquibancadas do OBA se enchiam de torcedores apaixonados e confiantes no time. O sonho do acesso tinha deixado de ser um mero delírio, parecia uma realidade concreta e real. O colorado Walter Vidal acompanhou de perto a campanha do Vila nesta temporada, e nos concedeu uma entrevista destacando o papel da torcida nesta boa fase da equipe.

“O entusiasmo era muito grande a torcida do Vila sempre foi uma torcida muito apaixonada que esperou muito por esse momento. Eu por exemplo tenho 21 anos, nunca passei por essa sensação de jogar serie A de ter o clube da maneira que esta. A gente realmente acreditava que esse ano ia.”

Mas, a boa fase passou. Após alcançar a liderança da tabela, o Vila ficou 5 jogos sem vencer, sendo 4 derrotas e 1 empate. A sequência negativa resultou na demissão do técnico Claudinei Oliveira, com a derrota para o Sport, deixando o Vila Nova na sétima colocação do campeonato. O jornalista da TV Anhanguera, André Guimarães, falou sobre a liderança do comandante e a sua polêmica saída, em entrevista ao labnotícias.

“Erro no futebol é algo muito relativo. Afirmar que não deu certo porque o time não subiu, pode ser considerado um erro, mas nada garante que se ele tivesse ficado ia ter conseguido subir. O Claudinei é um cara muito convicto das coisas que ele faz, ele não abriu mão do esquema com quatro homens de frente. Manteve o time, chegou até ser a sensação do campeonato no primeiro turno, o Vila era reconhecido pela forma de jogar. Só que chegou o momento que não deu liga mais. Então eu acredito que a demissão dele não pode ter sido um erro, pode se falar que foi uma aposta da diretoria.”

Mudanças no comando

Com a saída de Claudinei Oliveira, o Vila anunciou a contratação do técnino Marquinhos Santos. Foi uma passagem curta, Marquinhos ficou apenas 8 jogos a frente da equipe colorada. Mesmo com um início positivo de 2 vitórias e 1 empate, o treinador não seguiu no comando com a sequência negativa que viria a seguir. Com 45% de aproveitamento, Marquinhos Santos foi demitido com 3 vitórias, 2 empates e 3 derrotas.

Faltando 9 rodadas para o fim do campeonato, Lisca assumiu o comando do Vila Nova, com a missão de fazer a equipe reagir na reta final do Brasileirão série B. Se a passagem de Marquinhos Santos foi curta, a de Lisca durou a metade do tempo. O treinador liderou apenas 4 jogos pelo tigrão, ficando 1 mês no cargo, somando 1 vitória, 2 empates e 1 derrota. Lisca deixou o Vila Nova faltando 5 jogos para o fim do campeonato e com remotas chances de acesso.

Essa mudança constante de treinadores desagradou a torcida e aos próprios jogadores. Logo após a saída de Lisca, o atacante Guilherme Parede criticou essa postura da diretoria, em entrevista coletiva a TigrãoTV.

“Já são 4 treinadores, é muito complicado, porque são muitas mudanças. Particularmente, não gosto disso, assim como um jogador precisa de uma sequência, o técnico também precisa. Isso é difícil para qualquer um, qualquer atleta, qualquer treinador. Existe um ser humano por trás, o último (Lisca) ficou 4 jogos, então é uma situação complicada.”

A chegada de Higo Magalhães e a reta final

Com a saída de Lisca, Higo Magalhães assumiu o comando do tigrão com uma tarefa que parecia impossível: buscar o acesso para a série A. Higo chegou no comando faltando 5 jogos para o fim do campeonato, com seu primeiro embate sendo o clássico contra o Atlético Goianiense.

Mesmo não sendo favorito, o Vila conseguiu vencer o Dragão e foi em busca de um milagre nos últimos 4 confrontos. Os próximos duelos seriam contra o Vitória, Londrina, Ceará e ABC, respectivamente, jogando em casa contra Londrina e Ceará.

Ao enfrentar o líder do campeonato, e futuramente o campeão, o tigrão empatou em 1 a 1. Contra o Londrina, uma vitória avassaladora por 4 a 1 acendeu a esperança do torcedor. O jogo contra o Ceará mudou a história do campeonato, o Vila precisava da vitória para seguir na briga pelo acesso, mas dependia da derrota de seu rival para chegar ao G-4 faltando uma rodada para o fim. O que parecia ser algo matematicamente impossível, se tornou realidade, o Vila venceu o Ceará por 3 a 1, e com a derrota do Atlético para o Mirassol, o tigrão retornava a zona de acesso, dependendo apenas dele para alcançar a tão sonhada série A.

O último jogo desta campanha histórica foi contra o ABC em Natal. A equipe nordestina se desmanchava, já rebaixada, o ABC não brigava por mais nada no campeonato. Era o jogo mais importante do Vila em décadas, todo o cenário estava montado, parecia ser uma história que o futebol gostaria de contar. No ano que o São Paulo venceu sua primeira Copa do Brasil, o Fluminense finalmente ergueu sua tão sonhada taça da Libertadores, por quê não? Por quê não sonhar com o acesso do Vila Nova depois de quase 40 anos?

Mesmo com o palco montado e milhares de torcedores colorados no Frasqueirão, a vitória não veio. O placar final foi de 3 a 2 para o ABC, e o acesso ficou mais uma vez pelo caminho. Mas o que faltou? O que faltou para essa vitória? Essa resposta foi dada pelo jornalista da TV Anhanguera, Victor Hugo Araújo, para o Labnotícias.

“Eu sei que o Vila não jogou. Mas o ABC recebeu mala branca? Mala branca não entra em campo. Faltou ter entrado com mais força, mais garra. O Vila não esteve perto de vencer do ABC. Não mostrou vontade de ganhar, então acho que faltou isso. Faltou coletividade, o grupo querer mais, porque é óbvio que o Vila é melhor que o ABC, mas ele foi engolido.”

Novamente voltando ao torcedor Walter Vidal, a resposta do colorado a este tema foi esta:

“Eu acho que o que faltou realmente foi estrutura. O Vila infelizmente não tem um dos melhores orçamentos, e hoje o futebol é muito ligado a isso. Muitas lesões também, a questão de ter um banco de reservas limitado atrapalhou muito. As contratações durante a segunda janela foram até que boas, o Juan Christian que no final ajudou muito porém, infelizmente não conseguiu esse tão sonhado acesso”

O que esperar do Vila Nova para 2024

O acesso não veio, faltava apenas 1 vitória, mas esse sonho colorado terá de esperar novamente. Quem sabe na próxima temporada. O técnico Higo Magalhães renovou seu contrato para 2024, e seu primeiro desafio será o Goianão 2024. André Guimarães foi questionada sobre o futuro do tigrão, associando esse possível sucesso com a gestão atual de Hugo Bravo.

“A gente dizer que ele pode deixar o Vila na Série A nos próximos anos é bem difícil. Esse ano caíram times que são bate e volta, por exemplo então ano que vem pode ser mais difícil ainda. Não dá para apostar que vai subir, mas ele pode entregar o Vila encaminhado para isso pelo menos com a estrutura melhor, eu acho que é o que o torcedor espera.”

Mais uma vez ficou para uma próxima, uma nova campanha, um novo ano, uma nova história. Em um 2023 que chegou tão perto, a de se esperar um entusiasmo para a nova temporada. Quem sabe neste ano seguinte, o futebol emocione milhares de torcedores que ficaram com o grito entalado na garganta.

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