Impactos do idadismo contra pessoas idosas no mercado de trabalho

Como a discriminação por idade afeta os profissionais de idade avançada
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Ana Tereza do Vale
Foto: PxHere

De acordo com o Censo Demográfico 2022 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a população brasileira passou de 203 milhões. Sendo que cerca de 23 milhões dessas pessoas têm 60 anos ou mais, e desses, aproximadamente 30,6% ainda trabalham. 

No cenário nacional do mercado de trabalho está sendo observado o idadismo. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Infojobs, cerca de 57% dos 1222 entrevistados já sofreram algum preconceito etário. Esta forma de discriminação baseada na idade afeta os profissionais experientes, limitando seu desenvolvimento e progresso no ambiente de trabalho.

O que é Idadismo?

Etarismo, etaísmo ou idadismo é uma forma de preconceito e discriminação baseado na idade e no medo do envelhecimento. Essa forma de preconceito pode acontecer com qualquer pessoa, entretanto a população idosa é a que mais sofre com o idadismo. Ele se manifesta por meio de agressão verbal (ex.: comentários depreciativos, zombação, ridicularização), física, psicológica e/ou por segregação e pode reverberar no âmbito familiar, e, mais comumente, no ambiente de trabalho.

Durante uma entrevista concedida pela professora doutora Kênia da Luz Souza, especialista em psicologia do trabalho, foi explicado que o idadismo é uma questão social. O envelhecer não é algo bem visto, quando as pessoas começam a envelhecer, elas acreditam que está findando a vida.

Vale ressaltar que a Lei nº 10.741, também conhecida como Estatuto do Idoso, garante que quem praticar o idadismo e qualquer tipo de discriminação por causa da idade contra as pessoas idosas sofrerá penalidades.

Idadismo e Mercado de Trabalho

Os estereótipos promovidos pelo idadismo, dizem que inovação e dinamismo são características apenas da juventude. Assim, criam barreiras dificultando ainda mais para o reconhecimento dos valores profissionais que os idosos possuem.

De acordo com o Relatório Global sobre Idadismo, realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o idadismo está presente no mercado de trabalho em todo ciclo. Iniciando no processo de recrutamento, quando muitos dos contratantes já desclassificam muitos candidatos no início do processo seletivo por causa da idade do profissional. Segue para a estada no emprego, onde o acesso às oportunidades de treinamento são mais restritos. E se encerra, no desligamento do mercado de trabalho, devido ao etaísmo, muitos idosos têm que recorrer a aposentadoria.

Em entrevista, uma senhora de 62 anos, que não quis ser identificada, trabalha com reabilitação fonoaudiológica fala sobre a instituição que ela trabalha:

É muito comum eu ouvir: “Quando você vai aposentar?”, “Já está quase aposentando né?!”, mas não sofro nenhum tipo de preconceito, o pessoal é compreensivo e ajuda com as tecnologias. Acontece uma troca de conhecimentos com os profissionais mais jovens também, um ajudando o outro.

O resultado dessa forma de preconceito promove baixa autoestima, isolamento, ansiedade, depressão, e outras doenças que afetam a saúde física, mental e psíquica. Além de impulsionar a desvalorização profissional, aposentadoria forçada, instabilidade financeira e acesso limitado a oportunidades.

Ainda durante a entrevista com a Profª Drª Kênia da Luz Souza, ela fala sobre a importância e como de combater o idadismo:

O que a organização precisa fazer? É base. Precisa pensar em valores. Hoje, valorizamos questões de âmbito muito associado à juventude. Agilidade, mudança constante, renovação. Então, quando não valorizamos, por exemplo, a propagação as trocas de conhecimento, a qualidade no planejamento, a troca de experiências, a preocupação com o time, o tempo, a meta, e a qualidade daquilo que está entregando, talvez já comece a valorizar questões associadas com o processo de envelhecer. Porque não vai adiantar nada a gente falar assim “Ah, vamos comemorar o dia do idoso”, sei lá, essas coisas meio descabidas que a gente vê na organização. Todas as ações que a gente faz tem valores de contrassenso, então não são ações de fôlego curto.

Desta forma, torna-se essencial a promoção de ações concretas imediatas para o combate ao idadismo no mercado de trabalho iniciando pelos processos internos empresariais. Um bom exemplo disso é o CEO Founder, Samuel Santos, da empresa 2KS Digital. Em entrevista ele disse que, apesar de não ter nenhum funcionário contratado com mais de 50 anos, o processo de contratação acontece observando as qualidades da pessoa. Outro fato que ele acrescentou sobre a contratação, é que sempre está em busca de diversidade na equipe afim de agregar conhecimentos variados a equipe. Além disso, ele conta que não seria aceito dentro da empresa que ele comanda preconceito ou discriminação de qualquer tipo contra um funcionário.

De acordo com a entrevistada especialista em psicologia do trabalho, pensar na qualidade do trabalho e de experiência, contribui no dia a dia, não só de pessoas mais velhas, mas a sociedade no geral. Assim, o que de fato é necessário não é pensar em regras e saídas para uma questão, mas sim nas possibilidades de mudança no ambiente que irão contribuir de várias formas. Deste modo, além de promover um ambiente de trabalho agradável, superar o idadismo é um benefício, não só para os profissionais idosos, mas também para o desenvolvimento interno empresarial.

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