Tricotilomania: Entenda mais sobre condição psicológica que leva 3% dos brasileiros a arrancarem seus próprios cabelos 

Pesquisa realizada em 2019 pela UNIFESP e USP determinou que, aproximadamente, 3% da população tem compulsão por arrancar os próprios fios
dez 13, 2023
Tempo de leitura: 6 min

A Tricotilomania ( do grego, trico = cabelo e tilo = puxar) é uma condição psicológica na qual a vítima sente um desejo de arrancar os fios de cabelo e pelos do próprio corpo de forma recorrente. No ano de 2023, essa condição ganhou uma certa notoriedade, já que a ganhadora do Big Brother Brasil 23, Amanda Meirelles, que apresenta essa condição, falou um pouco sobre sua experiência no programa, trazendo à tona a discussão do problema para a população.

Apesar de ser uma condição relativamente comum, como elucidado pelos dados apresentados na pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo e Universidade de São Paulo, não existem dados sobre a Tricotilomania em sites oficiais, como no site do Ministério da Saúde, o que revela a invisibilidade do tema e a insuficiência de estudos sobre o transtorno. 

Entendendo o diagnóstico

Esse distúrbio, apesar de ter sintomas muito específicos – impulso recorrente por arrancar fios de diversas áreas do corpo – é muitas vezes ignorado, isso porque normalmente é tratado como um hábito e não como, de fato, um problema. 

Entretanto, o psicólogo Marcos Matias da Silva faz um alerta sobre sua seriedade: “Ele – a Tricotilomania – foi incluído na categoria de TOC e transtornos relacionados, assim como o transtorno de acumulação, transtorno de escoriação (arranhar a própria pele) e outros. Esses transtornos se caracterizam pela repetição de comportamentos que causam grande sofrimento à pessoa e podem comprometer sua capacidade de funcionamento social e ocupacional”.

A tricotilomania, apesar de não ter uma causa única comprovada, se associa muito ao psicológico da pessoa diagnosticada, ou seja, o estresse e eventos estressantes podem desencadear mais facilmente essa condição. “Geralmente, o hábito de arrancar cabelos e pelos surge em momentos de maior tensão e/ou de maior sofrimento psicológico e, como a pessoa não consegue encontrar formas de lidar com a situação, hábitos com função de alívio ou de ter a sensação de algum controle acabam se fortalecendo”, completa Marcos.

Os impactos emocionais

A tricotilomania causa uma série de impactos na vida das pessoas com a condição. Assim, um deles é decorrido diretamente do ato de arrancar compulsoriamente os fios: a formação de buracos e feridas no couro cabeludo ou na área afetada. Essas falhas, ou ainda a perda total de pelos, interferem diretamente na autoimagem das vítimas. Segundo o psicólogo, essa insegurança pode acarretar ainda mais problemas, como o “isolamento por vergonha ou então por conta do julgamento do grupo social, principalmente familiares”. 

O Tratamento

No tratamento da compulsão, é essencial a busca por acompanhamento psicológico, já que essa condição está muito relacionada ao mal gerenciamento do estresse em situações e eventos estressores.

Dessa forma, é de suma importância que a vítima tenha noção do seu comportamento compulsório, bem como, saiba de sua relação com os gatilhos e questões emocionais relacionadas que levam a esse hábito.

É a partir dessa consciência, então, que paciente e terapeuta trabalham a compulsão e consequentemente, a superação dela. Nesse sentido, Marcos ainda afirma que “as abordagens que mais possuem evidência de eficácia são a terapia comportamental e a terapia cognitivo-comportamental, ambas utilizam estratégias de reversão de hábito para a tricotilomania.”. Existem ainda outras formas de tratamento, como o uso de medicamentos como antidepressivos, que devem ser prescritos por um médico psiquiatra.

Nota da redação: a OMS e a Anvisa desencorajam a automedicação e a consideram perigosa

Experiências individuais

Como apresentado antes, as causas do desenvolvimento são diversas e variam de pessoa para pessoa, sempre relacionadas com situações de estresse. Visto isso, conversamos com duas fontes distintas que concordaram em compartilhar suas experiências com a Tricotilomania para exemplificar e clarificar o funcionamento desse transtorno. 

 Vinícius*, com 19 anos, tem uma história diferente com o transtorno: durante a pandemia, aos dezesseis anos, começou a remover os cabelos da parte de trás da cabeça. “A mudança de rotina repentina me deixou ansioso e foi a maneira que desenvolvi para conter essa ansiedade”, afirmou. Com o tempo, Vinícius acabou formando uma falha em seus cabelos e resolveu parar: “A princípio eu não achei que fosse um problema. Só fui perceber a gravidade da situação quando a minha mãe notou um pequeno buraco na minha cabeça. A partir daí, eu fiquei com medo de ser permanente e nunca mais arranquei o cabelo. Toda vez que pensava em fazer eu parava por medo de ficar calvo”, completa o garoto.

Clarisse*, 20 anos, afirma que começou sua jornada com a tricotilomania de forma acidental – ela procurava alguns fios estranhos e acabava os arrancando, para “normalizar” o cabelo – entretanto, a estudante de cursinho, durante a realização de provas ou em momentos que exigiam sua concentração, inconscientemente, começou a arrancar os fios. A jovem ainda afirma: “Eu sinto uma mistura de sensações estranhas, às vezes me sinto culpada e esquisita por fazer isso mas ao mesmo tempo eu só quero fazer”. Clarisse afirma que, ao lidar com uma crise do transtorno, busca se distrair e achar outras formas de aliviar a tensão. Além disso, para ela, conhecer e ver a experiência de outras pessoas facilita o processo de cuidado com os fios. 

*Nota da Redação: os nomes dos pacientes foram alterados a fim de preservar suas imagens.

A recente repercussão

Tanto a experiência de Amanda, no BBB23, quanto os relatos de diversos influenciadores nas redes sociais TikTok e Instagram, trouxeram maior visibilidade para a Tricotilomania, favorecendo a conscientização popular.

@isareda_

cortei lo cabelito, os fiozinhos ainda tão aparentes mas achei que ficou bem melhor, o que vocês acharam? ☺️❤️ #fyp #tricotilomania

♬ som original – Isabela Reda

Para o psicólogo Marcos, esse fato é extremamente positivo, já que “pode auxiliar tanto a pessoa quanto as pessoas próximas a identificarem esse hábito como um problema, bem como auxiliar na quebra de estigmas que impedem as pessoas de falarem sobre e buscarem tratamento”.

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