Além das salas de aula: Graduanda da UFG narra suas experiências ao estagiar com inovação e pesquisa em radioterapia

Thaís Moreira Fontenele, estudante da Universidade Federal de Goiás no curso de Física Médica descreve a oportunidade de trabalhar em um projeto acadêmico que busca personalizar o combate ao câncer em hospitais goianos.
jan 12, 2024 , ,
Tempo de leitura: 6 min

O curso de Física Médica da UFG, em colaboração com o Hospital do Câncer Araújo Jorge, propôs um projeto de estágio em pesquisa científica na área de radioterapia e radiodiagnóstico com o intuito de engajar os discentes na aplicação dos conhecimentos adquiridos nas disciplinas, a fim de melhorar e personalizar os tratamentos oferecidos.

Dentre algumas especificidades do projeto, um levantamento de dados sobre os pacientes do hospital está sendo realizado, com a finalidade de selecionar os tratamentos com radioterapia e simulá-los em um Phantom – dispositivo que imita um órgão humano- . A aluna Thaís Fontenele, de 28 anos, foi uma das selecionadas para estagiar no projeto e, em entrevista, discorre sobre os feitos e suas experiências como estagiária.

Foto: Arquivo pessoal/Thaís Fontenele

LP- Para começarmos, poderia explicar como a radioterapia é utilizada no tratamento de doenças e quais são os seus principais objetivos?

Thaís Fontenele- A radioterapia é uma modalidade de tratamento médico que utiliza radiações ionizantes para destruir ou danificar as células cancerosas. Ela é utilizada no tratamento do câncer de forma bem ampla. Os principais objetivos da radioterapia incluem:

– Cura do câncer: Em alguns casos, a radioterapia é usada com a intenção curativa, visando eliminar completamente as células cancerosas.

– Controlar o crescimento do câncer: Quando a cura completa não é possível, a radioterapia pode ser empregada para controlar o crescimento das células cancerosas e aliviar sintomas.

– Redução do tamanho do tumor: Antes de uma cirurgia, a radioterapia pode ser usada para reduzir o tamanho de um tumor, tornando-o mais fácil de ser removido.

– Paliativo: Em estágios avançados do câncer, quando a cura não é possível, a radioterapia pode ser utilizada para aliviar sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente, como no alívio da dor ou da obstrução causada pelo tumor, chamados de tratamento descompressivo ou anti-hemorrágico.

– Prevenção de recidivas: Após a cirurgia para remover um tumor, a radioterapia pode ser aplicada para reduzir o risco de recidiva local, de modo a evitar que as células cancerosas retornem na área tratada, chamados bosts.

A radioterapia envolve um planejamento cuidadoso para direcionar as radiações de forma precisa ao local do tumor, isto é: minimizando o dano às células normais circundantes. Existem diferentes tipos de radioterapia, incluindo a radioterapia externa (onde a radiação é administrada a partir de uma fonte externa) e a braquiterapia (onde a fonte de radiação é colocada diretamente no local do tumor ou próximo a ele). O tratamento radioterápico é determinado por uma equipe multidisciplinar de profissionais de saúde, incluindo médicos radioterapeutas e físicos médicos, que avaliam a situação clínica de cada paciente para determinar a abordagem mais adequada.

LP- A respeito do projeto, quando o levantamento de dados do Hospital de Câncer Araújo Jorge começou?

Thaís Fontenele- No final de 2023, o curso de Física Médica formalizou uma parceria com o HAJ – Hospital Araújo Jorge – estabelecendo que o hospital receberia alunos para estágios nas modalidades observacional (com duração de 1 mês) e curricular (com duração de 3 meses). Ao tomar conhecimento dessa colaboração durante uma aula, busquei os responsáveis pelo processo com o objetivo de realizar um estágio observacional, tornando-me a primeira aluna a participar desse programa. Um dos requisitos para a realização do estágio era que o estagiário desenvolvesse um projeto de pesquisa durante o período de um mês. O HAJ possuía em meados de outubro de 2023 cerca de 1700 relatórios de QA – Quality  Assurance – disponíveis para a extração de informações (vale ressaltar que esse valor é atualizado diariamente). Nesse período de 30 dias fiz a extração das informações de aproximadamente 530 relatórios.

LP- Quais são as tecnologias mais recentes ou avançadas utilizadas no Phantom para alcançar os resultados esperados?

Thaís Fontenele- Os phantoms empregados para essa análise específica possuem tecnologias consideradas padrão ouro, permitindo a modificação de variáveis para análises mais precisas. O que se altera ao longo do tempo são estudos recentes que podem influenciar nos intervalos de confiança. Em outras palavras, os equipamentos utilizados são de última geração, mas os valores de referência podem variar de acordo com as atualizações da literatura, resultando em ajustes nas variáveis dentro da metodologia empregada.

LP- Como a pesquisa ajuda a personalizar o tratamento de acordo com as necessidades de cada paciente?

Thaís Fontenele- Esse levantamento possibilita a quantificação dos intervalos de confiança recomendados pelos protocolos de segurança, garantindo a verificação de que os tratamentos realizados no HAJ estão em conformidade com as expectativas estabelecidas na literatura. Cada sítio anatômico apresenta um intervalo de confiança específico, e no meu projeto, analisei os tratamentos relacionados à próstata e à região da cabeça/pescoço.

LP- Quais foram os resultados mais promissores já obtidos pelo projeto de pesquisa até agora? 

Thaís Fontenele- Recebi um convite para dar continuidade ao projeto, o que me proporcionou mais tempo para me dedicar ao trabalho. Até o momento, consegui levantar aproximadamente 800 casos e realizei a análise estatística dos parâmetros de confiança, os quais estavam todos dentro das expectativas.

LP- Considerando os desafios relacionados às pesquisas científicas no Brasil, o projeto já enfrentou alguma dificuldade ou sofreu algum atraso acometido pela negligência ou falta de financiamento?

Thaís Fontenele- Neste caso, não foi necessário buscar financiamento, uma vez que todos os equipamentos necessários para a condução desses controles de qualidade já foram adquiridos. O desafio foi principalmente no levantamento e na análise, não demandando diretamente recursos financeiros adicionais.

LP- Como funcionará a implementação dos resultados da pesquisa no tratamento no próprio Araújo Jorge, ou SUS de modo geral, por exemplo?

Thaís Fontenele- Os resultados possibilitam uma análise quantitativa para verificar se os tratamentos realizados por meio de IMRT – radioterapia de intensidade moderada – no hospital estão em conformidade com as recomendações da literatura. Isso assegura a entrega de um serviço eficaz e seguro para os pacientes.

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