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Estacionamento exclusivo para ônibus da empresa de transporte coletivo de Goiânia. Imagem: Reprodução/Jayme Leno
Na capital Goiânia, o Eixo Anhanguera é um dos principais meios de deslocamento dos moradores da cidade, operando em formato de BRT, sistema de corredor exclusivo para ônibus, que corta a cidade de leste a oeste. Com 14 quilômetros de extensão, a linha do Eixo Anhanguera possui 5 terminais e 19 plataformas de embarque, além das linhas convencionais que conectam vários bairros e a região metropolitana.
Um relatório divulgado pela RMTC (Rede Metropolitana de Transporte Coletivo de Goiânia) em 2021, estimou que antes da pandemia, mais de 500 mil pessoas eram transportadas usando esse meio de locomoção na capital. Mas quão seguros são esses terminais e que estruturas existem para garantir a segurança do público que usa os coletivos?
Insegurança
A segurança nos coletivos e pontos de embarque e desembarque de qualquer cidade é uma preocupação vital para os usuários desse serviço. Assim como em outras capitais brasileiras, Goiânia sofre com a falta de segurança pública nos transportes coletivos e nos terminais que cortam a cidade.
A presença constante de pedintes, áreas com pouca iluminação e estruturas precárias da frota de ônibus, terminais e pontos são alguns dos problemas que provocam desconforto e sensação de insegurança em usuários que precisam do transporte público diariamente.
Dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), no ano de 2022, mostram que 560 pessoas foram assaltadas dentro do transporte público que corta a capital goiana. Já nos dados publicados de janeiro a junho de 2023, foram registrados 391 casos, e comparado ao mesmo período do ano passado, foi constatado um aumento significativo de mais de 100 casos de furtos dentro dos coletivos.
A experiência dos usuários
Margarida de Fátima, moradora da cidade de Goianira, região metropolitana de Goiânia, pega ônibus todos os dias para trabalhar, e conta que já presenciou vários assaltos dentro de ônibus e informa quais os cuidados tomar durante as viagens: “Não me sinto segura dentro de ônibus, mas procuro evitar usar o celular, mexer com dinheiro e até comprar comida e utensílios de vendedores ambulantes que circulam dentro dos coletivos, porque é nesse momento que pegamos o dinheiro e ficamos expostos[sic] tudo isso eu evito. Porque evitando, a gente evita de ser assaltado e é um problema a menos”, afirma Margarida de Fátima.
Questionada pelo Lab Notícias sobre a presença de policiais e seguranças nos terminais e ponto de ônibus, ela completa: “Tenho medo de ficar nos terminais e pontos de ônibus à noite e temo pela minha filha que volta da faculdade nesse mesmo horário. O meu maior medo é dela ser assaltada. Às vezes, mas nem sempre, acontece um milagre de vermos seguranças dos próprios terminais circulando, mas nem sempre porque isso depende muito dos horários. A ronda policial é bem difícil e depois do terminal da praça A, a situação é mais tensa e perigosa “, afirma.
A passageira Jaqueline Costa, moradora do setor Jardim das Aroeiras conversou com o Lab Notícias e relatou: “A segurança no transporte público é bem abaixo daquilo que ela deveria ser, principalmente pela importância do serviço que é carregar pessoas. Muitas vezes o ônibus abre [a porta] e está em movimento e isso já aconteceu comigo no Eixo Anhanguera quando estava chegando no terminal da Bíblia. Mas é porta que não abre direito ou fecha muito forte podendo machucar alguém. Quando tem o suporte para segurar, ele não está bem fixado e fica balançando, então, tem uma série de quesitos de segurança que não funcionam, fora a superlotação”, relatou a entrevistada.
A repórter do Lab Notícias perguntou a Jaqueline se ela observa a presença de policiais fazendo rondas nesses ambientes e se essa presença, quando existe, traz algum sentimento de segurança: “Percebo uma presença bem amena de agentes de segurança dentro do transporte público, mas essa presença [é maior] quando tem jogo do Vila ou do Goiás, aí o policiamento entra dentro do terminal. Mas os seguranças do terminal não me passam segurança nenhuma, e sendo bem sincera, parece que são invisíveis no dia a dia. [sic] É impossível você se sentir segura pegando ônibus após as 21hrs e o policiamento praticamente inexistente dependendo da hora, principalmente, nessas horas mais tardes quando o fluxo de pessoas diminui e as pessoas ficam mais suscetíveis à violência“.
Por fim, a entrevistada relata uma situação vivenciada com policiais ao esperar o coletivo em uma das plataformas do Eixo-Anhanguera: “Sofri assédio por parte de policiais quando estava esperando o eixo. Eu saí do teatro Goiânia, ali no centro e tinha ido com uma ex-companheira assistir uma peça, e quando saímos tinha dois policiais na parte de fora da plataforma e quando adentramos na plataforma começaram a fazer gracinhas e nos constranger no local e ficamos assustadas. E os policiais ficaram rondando a plataforma e isso era umas 20h da noite, e as pessoas que estavam na plataforma não fizeram nada e só ficaram olhando assustadas, mas também não tem como fazer muita coisa, né. Como é que você vai reagir à polícia que é o nosso braço de segurança, não tem como. Eu entendo a impotência das pessoas, mas por eu me sentir duplamente invadida e acuada, não prestei um boletim de ocorrência. Então eu não me sinto [segura] quando tem policial e nem quando não tem, porque quando teve um policial na plataforma pra me proteger eles simplesmente cometeram um assédio.”
Já um segurança que trabalha no Terminal da Praça A e não quis se identificar, comentou: “Estamos sempre atentos e fazendo rondas regulares. Também temos câmeras de segurança instaladas em pontos estratégicos para monitorar qualquer atividade suspeita, mas não conseguimos inibir todos os atos.”
Medo dos motoristas de ônibus
A insegurança nesses ambientes públicos também coloca a vida dos motoristas em risco. De acordo com uma pesquisa inédita realizada em 2016, pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) que mapeou o perfil dos motoristas de ônibus urbanos, foi estimado que 57% consideram a profissão desgastante, estressante ou fisicamente cansativa. Nessa pesquisa, os motoristas entrevistados responderam sobre questões de rotina de trabalho, tecnologia, segurança, saúde, entre outros temas.
Além de lidarem com uma carga horária exaustiva de trabalho, se faz necessário estar atento para qualquer anormalidade que venha acontecer, conforme cita um motorista que faz a linha 263 (Terminal da Bíblia / Campus UFG, Via Setor Vila Nova). “Não me sinto seguro, pois, já fui assaltado enquanto trabalhava e meus passageiros já foram roubados várias vezes. Dentro do ônibus, do lado do motorista tem um botão de pânico que aciona a polícia, mas não te garante mais segurança. Já acionei o botão várias vezes e nunca mandaram uma viatura”
A precarização das estruturas
Em uma pesquisa realizada pelo desenhista industrial Rodrigo Balestra Ferreira de Paiva, da Universidade Federal de Goiás (UFG) em 2017, foi constatado precariedade nos pontos de ônibus da cidade de Goiânia. A pesquisa é fruto da dissertação de Mestrado em Projeto e Cidade onde utilizou da etnografia, que é um método utilizado na coleta de dados que tem como objetivo estudar a cultura de um povo ou comportamento de grupos sociais específicos para obter informações. Rodrigo Balestra, chegou à confirmação de que os pontos de ônibus de Goiânia possuem deficiências diversas que perpassam pela precarização de pontos de Embarque e Desembarque (PED), pela manutenção desses ambientes tendo em vista que são estruturas pouco atraentes, escuras, com mal odor e perigosas.
Em uma entrevista concedida ao Jornal UFG em 2018 ele cita alguns desses problemas: “Percebe-se que o acesso ao PED ainda é precário em praticamente todas as regiões da cidade, com calçadas pouco convidativas, sem rampas de acesso, construídas com material inadequado, sem sinalização, além de estruturas empenadas e localizadas em espaços pequenos que dificultam a passagem de cadeirantes, idosos ou crianças em carrinhos de bebê”, destaca Rodrigo. “Outro aspecto negativo é o excesso de cartazes e pichações em alguns pontos”.
O silêncio dos órgãos responsáveis
Por meio da assessoria de comunicação, procuramos a CMTC, Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo, que é o órgão responsável por gerir e fiscalizar o serviço, para saber se existem medidas de segurança em vigor nos ônibus. Além disso, questionamos ao órgão se existem medidas de revitalização dos terminais e renovação da frota dos coletivos com o objetivos de trazer mais conforto e segurança ao usuário. Até o final dessa apuração, não obtivemos retorno da empresa sobre os questionamentos levantados.
O Lab Notícias também procurou a Secretaria de Segurança Pública de Goiás, através dos contatos oficiais, para saber o que tem sido feito para amenizar a insegurança nesses ambientes, e para falar sobre o aumento de roubos no transporte coletivo de janeiro a junho de 2023, segundo dados da própria secretaria, e não obtivemos retorno até o final da apuração desta reportagem.
Concessão renovada
Em outubro de 2023, foi aprovado em votação final pela Assembleia Legislativa de Goiás o projeto de Lei n° 3372/23 que prorroga por mais 20 anos o contrato de concessão do transporte público de Goiânia. O projeto chegou até a Alego, por meio da Secretária-geral de Governo, vinculado ao Governo de Goiás. A prorrogação visa reorganizar o Sistema Integrado de Transporte da RMTC, com a finalidade de promover melhorias na infraestrutura do sistema e frota de ônibus.
O consórcio é composto por cinco empresas que venceram o processo licitatório das linhas do sistema, com exceção do Eixo Anhanguera, que ocorreu em 2007. Esse processo estabeleceu novas regras para a operação do sistema de transporte coletivo em Goiânia e em cidades integradas. A RedeMob Consórcio terminaria o tempo de licitação em 2028 e agora terá até 2048 para estruturar o transporte público da capital Goiana.
Transporte público sustentável e eficiente
Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), após as manifestações de 2013 contra o reajuste das tarifas em São Paulo e Rio de Janeiro, tem desenvolvido análises comparativas para melhoria do sistema de mobilidade urbana do país. Os estudos realizados obtiveram respostas para os principais problemas de mobilidade urbana do Brasil, que vão do aumento das passagens ao declínio do transporte público. Mas também aponta alternativas sustentáveis que podem diminuir o tempo de espera dos coletivos e promover qualidade de vida aos usuários.
Apesar dos desafios existentes, é possível que a cidade de Goiânia tenha um sistema de transporte público alternativo e eficiente, visando o bem-estar das pessoas que necessitam deles para se locomover. Mas para isso acontecer, envolve uma combinação de práticas e inovações que visam atender eficientemente às necessidades da comunidade, minimizando o impacto ambiental.
- A Readequação Urbana para identificar vias com menor fluxo de tráfego e que possam ser convertidas em ciclovias;
- Ampliação do corredor exclusivo do BRT;
- Conscientização da população goiana sobre mobilidade sustentável e o uso racional do espaço público;
- Ampliação e eletrificação das frotas e linhas de ônibus existentes;
- Manutenção constante de ônibus e dos terminais;
- Criação de corretores para VLT (Veículos Leves sobre Trilhos);
- Apoio governamental.
Podem ser algumas soluções que ajudem a tornar o transporte público mais eficiente.