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Todo menino Brasileiro sonha ser algum dia jogador de futebol, muitos saem jovens de casa e enfrentam obstáculos que dificultam a realização desse sonho. De acordo com o artigo Jogadores de Futebol no Brasil, publicado em 2011 pela Revista Brasileira de Ciências do Esporte, a probabilidade de uma criança se tornar um profissional dos gramados é de apenas 1,5%, mas treinadores e coletivos de futebol nos territórios periféricos pelo país empenham-se para que esse número mude.

Em Goiás é possível encontrar muitos jovens locais e de outras regiões que estão correndo atrás de oportunidades em clubes formadores e clubes de várzea do futebol goiano. Casos  bastante famosos na região Centro-Oeste do país, são dos atacantes Michael, hoje jogador do Al-Hilal da Arábia Saudita e o atacante Galeno que atua pelo Porto de Portugal. Ambos tiveram passagens por clubes do futebol Goiano.

Em entrevista à Tv Goiás Esporte Clube em 2017, Michael conta que aos 16 anos saiu de Poxoréu, sua cidade natal que fica no interior do Mato Grosso para vir pra Goiânia tentar correr atrás do seu sonho. Chegando em Goiás, se deparou com uma realidade totalmente diferente da que é mostrada: ele conta que chegou a jogar futebol sem receber nada e que não desistiu por ter fé que estava no caminho certo, assim, em 2019 atuando pelo Goiás Esporte Clube, o jogador foi eleito a revelação do campeonato Brasileiro e em 2020 se transferiu para o Flamengo-RJ e sagrou-se campeão Brasileiro pelo clube carioca no mesmo ano, em 2022, Michael se transferiu para o Al-Hilal da Arábia Saudita, clube no qual divide vestiário com o astro brasileiro Neymar Jr.

Já Galeno, é maranhense de Barra da Corda e atuou muito pouco como profissional antes de deixar o Brasil. Fez base no Trindade e ainda vestiu a camisa do Grêmio Anápolis, ambos de Goiás, antes de ser contratado para o Porto B.

O LN foi atrás de jovens que tentaram e ainda tentam a carreira de jogador profissional e entre os depoimentos, é possível identificar os muitos fatores que fazem alguns desses garotos ficarem pelo caminho. Dentre os fatores, estão as dificuldades financeiras, falta de apoio emocional e psicológico e o desafio de conciliar as tarefas dos gramados com os estudos.

Para o goleiro Felipe Araújo, 20, natural de Correntina, cidade do interior da Bahia, o principal fator pelo qual muitos jovens desistem é a falta de recursos financeiros, já que os clubes formadores não tem uma estrutura adequada para bancar alguns jogadores que não conseguem arcar com as despesas apenas com os recursos vindos de suas famílias.

Felipe teve passagem pelo clube formador FluGoiânia nos anos 2020 e 2021, ele diz que os altos custos de se manter e concorrer com outros jovens, o levaram a desistir da carreira, Felipe também cita que não chegou a atingir a altura mínima para sua posição, “eu desisti por conta dos custos, pra quem vem de família humilde e do interior, é bem difícil se manter na disputa e no mercado do futebol, o clube abre as portas, mas não fornece 100% do apoio necessário para seguir em frente”.

Felipe Araújo atuando pelo FluGoiânia. foto: Arquivo pessoal

Entretanto, há um lado mais estruturado do futebol Goiano que também precisa ser mostrado, será que os clubes de maior expressão no Estado, fornecem os recursos adequados para os jogadores de Base?

Entrevistamos dois jovens atletas, um atua pelo Vila Nova FC e outro atua pelo Goiânia EC, ambos da mesma posição. Será que há divergências nos tratamentos dos clubes com os atletas? E quanto à pressão por estar representando times de maior expressão em Goiás? Como esses garotos lidam com a distância das suas famílias e se enxergam no futuro?

Eduardo Maia, 19, e Marcus Adriano, 16, atuam como atacantes nos seus clubes e nos contaram um pouco sobre as experiências vividas no futebol goiano. O LN perguntou aos jogadores se eles tem recebido auxilio necessário e incentivo financeiro dos clubes em que estão, já que são equipes com maior poderio financeiro e podem oferecer melhores condições aos seus atletas de base.

Eduardo é natural de Montes Claros-MG e está em Goiás desde 2022, ele nos contou o seguinte: “os clubes maiores e formadores dão salários a partir do sub14 e vai aumentando gradualmente, a partir dos 16 anos você pode assinar contrato profissional que começa com salário mínimo e não tem valor máximo, tudo depende do desempenho do atleta, sempre joguei em clubes formadores, então sempre recebi. Eu assinei meu primeiro contrato profissional com 16 anos e já passei por clubes como Fortaleza e Ponte Preta, hoje tenho 19 anos, jogo no Vila Nova de Goiás, mas clubes menores só pagam salário a partir do contrato profissional e não sei como funciona”.

Marcus Adriano, nos conta que ainda não recebe nada em dinheiro, mas tem o apoio do seu clube em outros quesitos importantes para a formação de um atleta: “Atualmente jogo no Goiânia, não recebo nada ainda, mas eles dão muitos incentivos para um atleta de base, tem palestra com psicólogo, suplementação, planejamento dos treinos e jogos, os funcionários são bem competentes”.

O atleta é natural de Correntina-BA e está em Goiás desde 2022. Marcus tem passagem pelas bases do AraGoiânia EC e pelo Cerrado EC. O garoto conta que caso não obtenha sucesso como jogador, pretende seguir no meio esportivo: “Se eu não me tornar um jogador de futebol, quero me envolver com algo do esporte, de preferência futebol, como técnico de algum time ou preparador físico”.

Eduardo também falou sobre as dificuldades de lidar com pressão e distância de familiares, “a falta de apoio psicológico e emocional pode causar a instabilidade no clube, com a pressão do clube, do próprio jogador e da família, seja por se cobrar muito, seja por se esperar muito. É saber lidar com os altos e baixos porque no futebol é como na vida: só que bem dinâmico, uma hora está lá em cima outra hora está lá embaixo, então tem que ter cabeça no lugar, mente forte treinar e se dedicar ao máximo, corpo e mente”.

Tentamos contato com clubes formadores de base e não obtivemos retorno. Segundo a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), a trajetória de um atleta no futebol é cheia de percalços e há poucas vagas. Segundo levantamento da confederação, em 2018 havia 360.291 jogadores no país, sendo 88 mil profissionais (24,4%). Destes, apenas 11,6 mil tinham contratos ativos na temporada (ou 3,2% do total).

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