Segundo o Censo da Educação Superior do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas), em 2012 haviam pouco mais de 28.000 estudantes com 60 anos ou mais, regularmente matriculadas no ensino superior. Em 2021, esse número já havia saltado para 43.722 matrículas, um aumento de 56%.
Diversos são os motivos pelos quais pessoas na faixa dos 60 anos resolvem ingressar em uma faculdade. Há os que não tiveram condições, talvez por causa do trabalho, falta de dinheiro, distância, e hoje estão dando vida ao sonho de se graduar em uma universidade.
Há também, os que já são graduados, e retomam em uma área que sempre quiseram, mas não escolheram, seja por orientação dos pais ou perspectiva futura da profissão na época. E há ainda os que querem, independente se têm ou não uma formação superior, se manter ativos e atualizados, que é o caso do nosso entrevistado, Salomão Afiune.
Salomão é graduado em Direito e pós-graduado em Direito Civil, Agrário e Teoria Geral do Direito. Lecionou na graduação de diversos cursos durante 42 anos, exerceu a advocacia privada por quase 10 anos e atuou na magistratura por 33 anos. Cursou fotografia e hoje, aos 68 anos, é acadêmico do curso de Jornalismo da UNIFASAM.
NC: Sr Salomão, o que o motivou a buscar uma nova graduação após uma carreira tão longa e estabelecida no Direito?
SA: O que me motivou foi a sede de conhecimento em outras áreas, pois o conhecimento não tem limites e sempre tive curiosidade em conhecer mais sobre esse segmento da comunicação que é o jornalismo.
NC: Como o senhor decidiu qual área de estudo seguir após tanto tempo no campo jurídico? O senhor disse anteriormente que sempre teve curiosidade em saber mais sobre o jornalismo, era sua primeira opção?
SA: Realmente, sempre tive curiosidade em saber mais sobre o jornalismo, mas esta não era a primeira e nem a única opção. Me interessava também por psicologia e fisioterapia, dentre outras áreas. Optei pelo jornalismo devido ao fato da comunicação possuir mais afinidades com o Direito.
NC: Como o senhor se sente em retornar à sala de aula depois de tanto tempo, e agora como aluno novamente?
SA: Na verdade, nunca me afastei da sala de aula. Agora, como aluno, me sinto motivado com esse novo desafio, que é uma meta a ser alcançada na nossa vida, pois ela se movimenta através de metas e objetivos.
NC: O senhor teve alguma preocupação específica sobre retornar à universidade nesta fase da vida?
SA: Não, não tive nenhuma preocupação específica. É uma nova fase que exige dedicação e determinação, pois não gosto de faltar às aulas e atividades avaliativas porque me cobro muito.
NC: A diferença de idade entre o senhor e outros estudantes foi uma preocupação? Como lidou com isso?
SA: A diferença de idade nunca me preocupou. Me relaciono bem com os colegas, não sou concorrente deles. Nós trocamos conhecimentos, aprendo com eles e eles aprendem comigo.
NC: O senhor já pensou em como deseja aplicar seus conhecimentos adquiridos após concluir a graduação?
SA: Não, não pensei em nada porque não sei se conseguirei concluir a graduação. Não estou sendo pessimista, mas estou sendo realista. Se Deus me permitir, vou concluir e talvez escrever sobre os conhecimentos adquiridos.
NC: Visto a mudança no ambiente acadêmico devido ao avanço tecnológico, tem sido desafiador se adaptar ao ritmo, às demandas acadêmicas e às novas tecnologias?
SA: Sim, tem sido desafiador, principalmente com as novas tecnologias. Porém, os colegas e os professores me ajudam nesse sentido. As demandas acadêmicas. Lido melhor com elas.
NC: O senhor sente que a experiência anterior no Direito lhe proporcionou alguma vantagem ao embarcar nessa nova jornada acadêmica?
SA: Sim, com certeza, a experiência na graduação anterior ajuda bastante, proporcionando uma maturidade e experiência acumuladas por metodologias distintas e conhecimentos que podem ser aplicados em outras áreas.
NC: Quais conselhos o senhor daria para outras pessoas na sua faixa etária que estão considerando retornar à universidade ou iniciar uma graduação?
SA: Sempre digo que podemos a qualquer momento da vida, iniciar uma graduação ou retornar à universidade, pois nunca é tarde para começar ou aprender. No magistério Superior, onde comecei aos 22 anos. Tive alunos de 60, 70, 80 anos de idade que nunca se arrependeram de frequentar aulas. O contato com os mais novos é gratificante e rejuvenesce.
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